segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os excessos na criação dos filhos


7 de maio de 2012 
Por (*) João Bosco Leal
Apesar de milhões de pessoas no mundo não possuírem acesso à alimentação, saúde e educação, outras são literalmente infelizes pelo simples fato de haverem nascido em lares que lhes proporcionam de tudo, até em excesso.

Elas normalmente se tornam duras, desacreditando de tudo e de todos, se seus amigos, namoradas ou esposas estão ao seu lado por elas ou por outros interesses. Tornam-se totalmente inseguras, não conseguindo acreditar quando recebem amor verdadeiro.

Apesar de possuírem os mais diversos bens materiais que o dinheiro pode comprar, como carros, motos, iates, aviões e frequentando os lugares mais luxuosos e caros do país e do exterior, percebe-se com muita facilidade a infelicidade de muitas dessas pessoas.

Normalmente isso se deve ao fato de seus pais terem permanecido durante tantos anos trabalhando em busca do aumento de suas fortunas, que não tiveram tempo de lhes fornecer algo que mais importaria na formação do ser humano e que, financeiramente, não custa absolutamente nada: afeto, carinho e amor dos pais. E para compensar seu afastamento, davam-lhes bens materiais.

Já no início de sua convivência social, frequentando os primeiros anos de escola e por possuírem cada vez mais coisas que seus amiguinhos, elas já começam a ser marginalizadas pela grande maioria que não possuem aqueles bens e, talvez até para compensar esse fato, cada dia mais tentem se sobressair e ganhar simpatia dos outros, ostentando objetos exclusivos ou de posse rara, agravando a situação e tornando-se ainda mais isoladas ou cercadas de interesseiros.

Essas crianças então vão percebendo que, apesar de possuírem muitos bens, são pouco queridas e isso vai provocando consequências na formação de sua personalidade e do ser humano em relação à sociedade.

Na juventude, seus desvios de caráter já podem ser notados com mais facilidade. Discussões desnecessárias, brigas, envolvimento em diversos tipos de escândalos, acidentes, bebedeiras e uso de drogas são, proporcionalmente, muito mais comuns entre os que materialmente têm em excesso, do que entre os que pouco ou nada possuem.

As crianças e os jovens sem limites de hoje, resultado desses tipos de comportamentos, certamente serão os adultos sem limites de amanhã, de convivência difícil em sociedade, pois acostumados a fazer só o que desejam, terão de respeitar as leis e os limites como todos.

Serão obrigados a se submeterem às leis do condomínio do prédio ou do residencial onde moram, as do trânsito e todas as outras que regem a convivência social. E mesmo utilizando seu avião ou jatinho particular, terão que obedecer às ordens das torres de comando dos aeroportos, autorizando a decolagem e o pouso destes.

Enfrentarão filas nos cinemas, teatros, lojas, restaurantes, postos de gasolina e aeroportos, como qualquer um. E no final de suas vidas, serão enterrados ou cremados no mesmo espaço destinado a outros cidadãos.

E necessitarão de suporte financeiro para manter esses excessos, mas não terão, pois os que sempre lhe deram tudo um dia faltarão, e deixarão aquele que sempre só recebeu sem saber buscar sequer o próprio sustento, o que é vergonhoso e humilhante para qualquer ser humano.
Aquele que materialmente pouco tem e consegue crescer financeiramente, sempre valorizará o que possui, mas dando aos seus em excesso, certamente comprometerá seu futuro.

Ao invés de excessivos presentes, nossos filhos precisam de amor, carinho e de serem preparados para administrar o patrimônio que receberão.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.



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