Por (*) João Bosco Leal
Apesar de milhões de pessoas no mundo não possuírem acesso à
alimentação, saúde e educação, outras são literalmente infelizes pelo simples
fato de haverem nascido em lares que lhes proporcionam de tudo, até em
excesso.
Elas normalmente se tornam duras, desacreditando
de tudo e de todos, se seus amigos, namoradas ou esposas estão ao seu lado por
elas ou por outros interesses. Tornam-se totalmente inseguras, não conseguindo
acreditar quando recebem amor verdadeiro.
Apesar de possuírem os mais diversos bens
materiais que o dinheiro pode comprar, como carros, motos, iates, aviões e
frequentando os lugares mais luxuosos e caros do país e do exterior, percebe-se
com muita facilidade a infelicidade de muitas dessas pessoas.
Normalmente isso se deve ao fato de seus pais
terem permanecido durante tantos anos trabalhando em busca do aumento de suas
fortunas, que não tiveram tempo de lhes fornecer algo que mais importaria na
formação do ser humano e que, financeiramente, não custa absolutamente nada:
afeto, carinho e amor dos pais. E para compensar seu afastamento, davam-lhes
bens materiais.
Já no início de sua convivência social,
frequentando os primeiros anos de escola e por possuírem cada vez mais coisas
que seus amiguinhos, elas já começam a ser marginalizadas pela grande maioria
que não possuem aqueles bens e, talvez até para compensar esse fato, cada dia
mais tentem se sobressair e ganhar simpatia dos outros, ostentando objetos
exclusivos ou de posse rara, agravando a situação e tornando-se ainda mais
isoladas ou cercadas de interesseiros.
Essas crianças então vão percebendo que, apesar
de possuírem muitos bens, são pouco queridas e isso vai provocando consequências
na formação de sua personalidade e do ser humano em relação à sociedade.
Na juventude, seus desvios de caráter já podem
ser notados com mais facilidade. Discussões desnecessárias, brigas, envolvimento
em diversos tipos de escândalos, acidentes, bebedeiras e uso de drogas são,
proporcionalmente, muito mais comuns entre os que materialmente têm em excesso,
do que entre os que pouco ou nada possuem.
As crianças e os jovens sem limites de hoje,
resultado desses tipos de comportamentos, certamente serão os adultos sem
limites de amanhã, de convivência difícil em sociedade, pois acostumados a fazer
só o que desejam, terão de respeitar as leis e os limites como todos.
Serão obrigados a se submeterem às leis do
condomínio do prédio ou do residencial onde moram, as do trânsito e todas as
outras que regem a convivência social. E mesmo utilizando seu avião ou jatinho
particular, terão que obedecer às ordens das torres de comando dos aeroportos,
autorizando a decolagem e o pouso destes.
Enfrentarão filas nos cinemas, teatros, lojas,
restaurantes, postos de gasolina e aeroportos, como qualquer um. E no final de
suas vidas, serão enterrados ou cremados no mesmo espaço destinado a outros
cidadãos.
E necessitarão de suporte financeiro para manter
esses excessos, mas não terão, pois os que sempre lhe deram tudo um dia
faltarão, e deixarão aquele que sempre só recebeu sem saber buscar sequer o
próprio sustento, o que é vergonhoso e humilhante para qualquer ser humano.
Aquele que materialmente pouco tem e consegue
crescer financeiramente, sempre valorizará o que possui, mas dando aos seus em
excesso, certamente comprometerá seu futuro.
Ao invés de excessivos presentes, nossos
filhos precisam de amor, carinho e de serem preparados para administrar o
patrimônio que receberão.
(*) João Bosco Leal -
jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural
e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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