terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A DESGRAÇA DE SER CADEIRANTE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA



  
Tenho o feio costume de escutar conversas, quando viajo ou bebo o cafezinho.

Sei que não devo, mas não resisto à tentação. O vicio tem-me sido útil para conhecer o que pensa o semelhante, e muitas vezes encontro matéria para as conversas, que com prazer, travo com o leitor.


Dias destes, vindo de metro da Povoa do Varzim para a Trindade, estacionou a cadeira de rodas, bem ao meu lado, uma jovem, que não teria ainda vinte anos.

Era bonita, de grandes olhos brilhantes e irrequietos. Vinha acompanhada por senhor, que pensei ser o pai. Enganei-me.

Durante o percurso, conversaram animadamente. Dizia a jovem que os inválidos sentem dificuldade em movimentarem-se nas cidades.

Os prédios não possuem rampas, assim como a maioria das casas comerciais, repartições públicas e até as caixas Multibanco são muitas vezes inacessíveis.

- Veja! - Dizia com mágoa a rapariguinha. - São poucos os templos que têm acesso por rampas! Olhe: para a nossa Póvoa. Cresceu, a olhos vistos, nas últimas décadas. A maioria dos prédios não têm mais de vinte anos, todavia raros são os que permitem acesso a cadeirantes.

O senhor sacudia a cabeça em sinal de aprovação. Lamentando que não houvesse esse cuidado, mesmo em prédios com elevadores.

Passei a viagem a refletir sobre o assunto, e conclui: que muitos construtores, engenheiros e arquitetos são de grande insensibilidade.

O que custa criarem rampas de acesso aos prédios? Não se colocam elevadores, para facilitar o acesso aos andares superiores, e rampas, nas entradas das garagens? Então para quê colocar degraus nas entradas?!

Que prédios antigos fossem construídos sem esse requisito, é desculpável - mas não se compreende, - mas que as Câmaras aprovem prédios novos sem rampas de acesso, é inacreditável.

Não será falta de respeito para os que tiveram a infelicidade, por velhice ou acidente ficaram inválidos?

  
HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto,Portugal
  
publicado por solpaz às 21:11

domingo, 23 de novembro de 2014

UMA ANEDOTA VERDADEIRA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA







Queixava-se, esta tarde, na cafetaria onde costumo merendar, meu amigo Silvério, que já não há gente honesta.

Para confirmar a asserção, ilustrou com o que lhe aconteceu há dias:

Comprara, há anos, apartamento à beira-mar, para férias.
Nessa época, toda a família passava o mês de Agosto, na praia.

Iam de automóvel, que colocava no aparcamento, que comprara.

As crianças esperavam ansiosas a época balnear. Divertiam-se imenso. Por vezes convidavam amiguinhos. A alegria transbordava.

O tempo passou. As crianças cresceram. Chegava Agosto e esquivavam-se: tinham que estudar; havia compromissos inadiáveis; que mais tarde iam com amigos…

Silvério envelheceu. Os filhos casaram. A mulher começou a sofrer de reumatismo…Meu companheiro de menininho foi deixando o carro esquecido na garagem.

Deslocavam-se de comboio. Ficava mais económico. O peso dos anos já não lhe permitia percorrer longas distâncias.

O aparcamento ficou vazio.

Como era ponto estratégico, começou a ser cobiçado por “ aventureiros”, que viram meio de usufruírem aparcamento gratuito.

Certa vez, o filho mais velho foi passar uma semana, na praia. Chegou e estacionou o carro.

Pela manhã encontrou bilhetinho:

Por favor, retire a viatura.
Este lugar é meu.

Desgostoso, Silvério, resolveu alugar o espaço. Colocou no quadro do condomínio, aviso.

Decorrido semanas toca o telemóvel. Era senhora a solicitar autorização para colocar o carro, enquanto não alugasse o espaço. Tinha dois carros e só possuía um aparcamento.

Estupefacto, declarou que o espaço era para arrendar, como certamente sabia, pelo anúncio.

Meses depois, o filho foi com a esposa passar fim-de-semana à casa de praia. Chegou ao entardecer. Estacionou o carro no aparcamento.

Pela manhã, do dia imediato, encontro, na viatura, o seguinte aviso:

Retire o carro deste lugar,
  Ou terei que chamar a polícia.

Parece anedota, mas infelizmente não é.
Assim vai o mundo… e a educação da nossa gente.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

publicado por solpaz às 14:32

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS AFECTOS QUE NÂO DEMOS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






Pouco a pouco, lentamente, ano a ano, quase sem sentir, avizinha-se o fim da jornada.

Passamos a vida a cuidar – da nossa saúde, da nossa carreira profissional, da satisfação dos nossos desejos; olvidando que para ser feliz é mister cuidar dos outros.

Adiamos sempre para amanhã – que nunca chega, – para conviver, abraçar o amigo, o familiar, porque não temos tempo…ou por comodismo…

E para amanhã ficam os telefonemas, as conversas, as horas de convívio com aqueles que nos querem bem.

De longe a longe, dizemos-lhes: - Havemos de combinar…mas sabemos que o amanhã nunca chegará…

E deste jeito, quantos abraços deixamos de dar? Quantos elogios ficam por fazer?

Mas, em hora inesperada, chega a doença, surgem as limitações e então cogitamos: por que não disse o que ia na alma?! Por que não abracei meus irmãos e a causa que me era querida?!

Adiamos sempre: Amanhã vou fazer isto. Hei-de dedicar-me à música. Quando aposentar-me vou pintar…Servir uma causa humanitária…Sempre para amanhã…Sempre para o futuro.

Vivemos dentro de um sonho. Só muito tarde acordamos e, estupefacto, verificamos que não vivemos…As oportunidades e a saúde, passaram…e o tempo não volta.

Lamentamos, então, os anos perdidos. A juventude que passou… e o que passou…não passará mais…

Já não vamos a tempo de dizer: quanto amavamos a nossa mãe, a nossa irmã, aqueles que connosco repartiram a vida – os amigos, os colegas de trabalho, os companheiros que cruzaram com a nossa vida.

Então lamentamos, os abraços que não demos. Os beijos que deixamos de dar. Os afectos que tornariam felizes os que aguardavam os nossos carinhos….Mas é tarde…Muito tarde…Porque o tempo é como as águas do rio, nunca passam pelo mesmo lugar.




HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal


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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

COMO SE DISTRIBUEM OS "OSSOS" - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA







Estando a almoçar com beirões, na Casa da Beira, um dos presentes, contou, que o filho fora preterido de certo lugar, a que concorrera.

Admirava-se, o comensal, que o cargo de chefia fosse entregue a trabalhador indisciplinado, arrogante, e nada zeloso, e não ao filho, que sempre fora pontual, dedicado e respeitador.

Ao ouvir isso, lembrei-me da pergunta que vassalo de D. Afonso de Aragão, fez ao Rei, ao verificar que Sua Majestade era sempre generoso para quem conspirava pelos corredores do palácio:

- Por que não lhes nega benesses e ainda os recebe com deferência?!

Ao que o Rei, respondeu, sorrindo:

- Aos cachorros, dá-se-lhes ossos, para que não mordam, e permaneçam calados…

Assim fazem muitos dirigentes e líderes políticos, para se manterem nos lugares que ocupam.

Muitas vezes interrogo-me: os cargos são dados pelo mérito, ou por medo?

Se o trabalhador prevarica, e é “ revolucionário” é reaprendido moderadamente ou relevada a falta; mas se é bem comportado, respeitador e educado, o castigo é severo – para dar exemplo…

Não há dirigente que confirme o que digo; mas, meus poucos cabelos brancos, são testemunha dessa veracidade.

Por isso, é que os trabalhadores mantêm-se no sindicato e partidos políticos, para serem nomeados e promovidos mais rapidamente, sabendo que os superiores, dão, em regra, mais valor ao cartão partidário ou sindical, que à dedicação de décadas à empresa

E sabem por quê?

Porque muitos chefes, são-no, graças à cor partidária e à atividade sindical que exerceram.

Quem quer estar sossegado e seguro no cargo que exerce, tem que usar o método de D. Afonso de Aragão:

Dar “ossos” àqueles que temem, mesmo sabendo, em consciência, que o “osso” devia ser entregue ao “cachorrinho” educado e leal.




HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

As rugas - Por João Bosco Leal (*)



As rugas

Tornou-se comum entre os brasileiros utilizar muitos dos recursos atualmente disponibilizados pela medicina para retardar seu envelhecimento. Vitaminas orais ou injetáveis, suplementos minerais e os mais diversos tipos de cirurgias são utilizadas com essa finalidade.

Em busca da beleza física, os salões de beleza estão repletos de homens fazendo as unhas, limpeza de pele, depilação, tratamentos capilares e outros soluções antes só utilizadas pelas mulheres.

Caminhadas, corridas e academias de musculação acompanhada por um Personal trainer já fazem parte do quotidiano da população que tem tempo e pode pagar por isso.

Nas clínicas de cirurgia plásticas são encontradas pessoas em busca da correção de detalhes mínimos em seus físicos, como rugas nos cantos dos olhos e testa, as "papadas" abaixo do queixo, narizes ou orelhas que não as agradam, preenchimentos labiais e de outras partes do rosto, "esticadas" na pele facial já flácida, implantes capilares e de silicones nas mamas, nádegas e muitas outras possibilidades oferecidas para a "escultura" dos corpos.

Normalmente elas sofrem por não aceitar as leis da natureza e terminam por espalhar esse sofrimento para todos que os circundam. Entretanto, mesmo com todas essas possibilidades, querer reconquistar a memória ágil, a forma e a agilidade física ou a barriguinha que possuía na plenitude da juventude, seria algo de preço extremamente elevado e muitas vezes, além dos riscos, expõe a pessoa a resultados inversos ao desejado, transformando-a em uma caricatura de si mesma.

A natureza jamais permitirá que verdadeiramente retrocedamos vinte ou trinta anos em uma mesa cirúrgica e essa é a graça da vida. Passamos por diversas fases e em cada uma crescemos, aprendemos, acertamos, erramos, amadurecemos e, maduros, sabemos o que nunca conseguiríamos saber décadas antes.

Ocorre uma troca, a juventude passa, mas o conhecimento se avoluma, permitindo uma vida com mais sabedoria, harmonia com o próximo, menos desgastes desnecessários, aprendemos a admirar e aproveitar mais cada detalhe de um novo raiar ou pôr do sol, que a natureza nos disponibiliza diariamente e que décadas atrás não eram sequer notados.

Muitas coisas do passado são hoje impraticáveis e é bom que assim seja, pois com a maturidade percebemos que no passado falamos ou fizemos coisas que hoje não repetiríamos, corremos riscos desnecessários, andamos depressa demais e que, muitas vezes, poderíamos ter nos machucado e até mesmo morrido.

A lei da gravidade, a menor agilidade, as diferenças nos prazeres físicos são, psicologicamente, transformadas em sofrimentos, mágoas, tristezas, quando poderiam ser encaradas de forma mais sutil, se entendidas simplesmente como alterações e não como fim, pois nada terminou, só mudaram os padrões de beleza, o modo e o tempo que se leva em busca do prazer, o que inclusive pode ser encarado como uma grande vantagem. 

Todos possuem um arquivo mental, onde guardam suas histórias, os erros e acertos, as perdas e ganhos, os fracassos e sucessos que agora os ensinam a buscar uma vida melhor, com mais qualidade, sem angústias desnecessárias, que nada resolverão.

As rugas são os sinais de como aprendemos a esquecer o inatingível e a só buscar o possível.
João Bosco Leal*     www.joaoboscoleal.com.br

domingo, 5 de outubro de 2014

AS ÚLTIMAS AVOZINHAS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






Durante as férias de Verão, resolvi visitar o Alto-Minho. Aproveitei o passeio para conviver com velha amiga, viúva de médico, e mãe de três filhos.

Recebeu-me ao portão do antigo solar, e levou-me para escadaria de pedra, que dava acesso a ampla sala, cujas janelas de guilhotina, encontravam-se cobertas de pesados reposteiros encarnados.

Esta velha amiga, pouco mais idosa do que eu, vive sozinha, na companhia de duas empregadas. Os filhos há muito abalaram para a capital, onde exercem profissões liberais.

Durante largas horas, conversámos sobre acontecimentos, em que ambos fomos protagonistas, e que nos deixaram saudosas recordações.

Contou-me que semanas antes, tivera grande alegria, seguida de desilusão, que a deixou muito contristada.

A neta, telefonou-lhe para lhe dizer que vinha passar uns dias a sua casa.

- Saltou-me o coração de contentamento, quando ouvi a sineta do portão tocar – confessou-me.

A netinha, logo que chegou, foi a correr para o quarto. Depositou a mala; guardou os pertences; envergou vestido mais ligeiro; e veio merendar.

- Estou tão feliz! … - Disse-lhe a avó.

Com a natural sinceridade de adolescente do século XXI, prontamente respondeu:

- Vim de castigo! O papá disse-me: “ Como ficaste reprovada, vais de castigo para casa da avó…É uma maçada!...Bem gostaria de ficar em Carcavelos, com meus amigos…”

A velha e querida amiga, ao contar-me isso, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.

No meu tempo de menino, a avó era imprescindível: cuidava das crianças; ia busca-las à escola; dava-lhe banho; e muitas vezes estudava com elas, para facilitar a assimilação da matéria.

A avozinha era o membro da família mais querido. Os netinhos adoravam-na. Com a desagregação da família – difusão do divórcio e a partida dos filhos para os grandes centros, – os avós passaram a ser estorvos.

O lugar dos idosos deixou de ser junto dos filhos e netos, e passou a ser: nos lares, internados, muitas vezes, à força.

Ficaram condenados a viverem sozinhos ou em “ armazéns”, onde convivem com doentes, dormem com estranhos, e obrigados a permanecerem longas horas, embrulhados em mantas, diante de aparelhos de TV.

Felizmente, a maioria dos lares, já não recorrem a “drogas”, para mantê-los sossegados, como acontecia antigamente.

A senhora que visitei, graças aos bens que possui, não necessita de se internar numa residencial, mas nem todos os avós têm igual sorte.

O episódio que contei é elucidativo da forma como os adolescentes são educados:

O pai castiga a filha e envia-a para a avó, como se sua casa fosse prisão.

A neta, sem piedade, declara à avó – que a recebe de braços abertos, – que preferia estar com os amigos em Carcavelos.

Assim vai a juventude…e a educação que recebe.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto,Portugal

publicado por solpaz às 10:44

sábado, 27 de setembro de 2014

Quem já amou - Por João Bosco Leal (*)




Quem já amou

Milhares de pessoas vivem casamentos de décadas pensando ou dizendo amar seu cônjuge, o pai ou a mãe de seus filhos, mas, no fundo, quando param e meditam um pouco mais profundamente sobre o assunto, percebem que isso não é verdade, que estão se enganando.

São vários os motivos que as levam a esse comportamento, mas os principais são a acomodação e a dependência financeira, décadas atrás provocada pelo despreparo profissional das mulheres, mas atualmente pelas exigências consumistas cada vez maiores, impostas pela sociedade em que vivemos, onde se gasta sempre mais do que se ganha.

As paixões iniciais já não existem, mas surgiram laços como os patrimoniais, sociais e os filhos, que são difíceis de serem desfeitos. A moradia conjunta, os amigos comuns e a dependência recíproca dos que assumiram financiamentos conjuntamente, são algumas das centenas de alegações que, normalmente, dizem dificultar bastante um rompimento.

As pessoas nessa situação vivem fugindo da realidade, se escondendo da vida real, pois não querem enfrentar os problemas. Fingem acreditar que tudo mudará, mesmo que, no fundo, saibam que isso não é verdade, nunca ocorrerá.

Um relacionamento conjugal não sobreviverá se estiver apoiado em interesses materiais. Ele precisa ser muito mais profundo, estar fundamentado em amizade, carinho, companheirismo dedicação e projetos comuns, mas se não estiver assim lastreado, é melhor que seja desfeito, pois jamais proporcionará a felicidade conjunta.

Entretanto, quando o amor é verdadeiro, qualquer pensamento a respeito de um possível rompimento é inimaginável, apesar de poder ocorrer quando, por exemplo, um dos lados se defronta com alguma situação que o desagrada bastante e, repentinamente, sem muito pensar, diz que tudo está acabado.

Na realidade não era o que queria que ocorresse, mas certamente pensava que, assim dizendo, mostraria que realmente estava realmente insatisfeito com a situação e, então, mesmo em um casal que se ama muito, se naquele mesmo momento, por algum motivo, o outro também está insatisfeito com o relacionamento ou em uma situação de grande tensão, pode ocorrer um rompimento que segundos antes era inimaginável para os dois.

Quando isso ocorre, inconscientemente, eles passam a ter um comportamento muito comum nos seres humanos, que é o de "medir forças". Nenhum dos dois cede, reconhece o erro ou pede desculpas, o que dificulta bastante o retorno ao status quo e eles realmente acabam se separando.

Passado algum tempo, já sem as tensões daquele momento e refletindo mais profundamente, se o amor realmente era verdadeiro, é comum vermos uma das partes transpor as mais difíceis barreiras - até mesmo superando seu orgulho próprio - e procurar, se desculpar, justificar, fazendo de tudo em busca de sua reconquista, de uma nova chance.

Essa sempre foi e será a opção daqueles que já amaram verdadeiramente, porque a experiência de um amor verdadeiro é indescritível e quem já o viveu não se conforma mais em viver sem ele, sentindo, constantemente, sua saudade transbordar do coração e, em forma de lágrimas, escorrer pelos olhos.

Como dizia o poeta Vinícius de Morais: "Quem já passou por esta vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu, porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu, ai. Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não".

Quem já amou, mesmo que com os pés cansados, sempre dará um novo passo em busca de reviver algo igual.
João Bosco Leal*    www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e empresário

sábado, 6 de setembro de 2014

HOJE TODOS SABEM TUDO...- Por HUMBERTO PINHO DA SILVA





   
Sempre que abro o aparelho de TV e vejo entrevistas ou colóquios de entendidos, verifico que – não há médico que não conheça a cura certa para quase todos os males; político que não saiba resolver qualquer situação; economista que não consiga – quase por magia, – equilibrar as finanças; e intelectual que não discuta, de cátedra, todas as ciências.

E no entanto, com tanta sapiência, com tanta gente competentíssima, se precisamos de médico, este, muitas vezes, não nos sabe curar; o economista não consegue solucionar os graves problemas financeiros; e o político, só descobre caminhos fáceis, se está na oposição.

Jeracy Camargo, no curioso livro: “ Deus lhe Pague” pela voz do Mendigo, aborda o que acabo de afirmar:

“ Não há mais filósofos, meu caro. A sabedoria humana está muito espalhada. Hoje todos sabem tudo. O último dos ignorantes julga-se capaz de salvar a Humanidade. Todos ensinam.”

E prossegue, respondendo a Péricles, que assevera não haver quem não entenda de medicina:

- “ De tudo, meu amigo, de tudo. De Arte, então nem se fala! … E de política, ainda é pior. O senhor conhece alguém que não tenha ideias para salvar o Brasil!?”

A cada passo escuto conversas de quem possui ideias geniais para resolver os problemas de Estado; e não tenho amigo que não me dê conselho para sarar o achaque que me atormenta.

Até comentadores profissionais, que outrora abordavam temas da sua especialidade, opinam, hoje, sobre: economia, política, literatura, arte…até de futebol!

Esquecem-se, que o desenvolvimento de um dom, faz-se, quase sempre, em prejuízo de outros.

Certa vez, vi, conhecido político, mostrar sua casa, na televisão. Ao chegar ao escritório, de paredes forradas de estantes repletas de livros, virou-se para o entrevistador, e disse-lhe:

- Tenho aqui os livros de economia. Ali de astrologia. Acolá de Direito. Mais abaixo de História… – e assim por diante, e concluiu:

- “ Como vê estou muito bem informado! ….”

Como Jacinto, que possuía, em Paris, trinta mil volumes, mas raramente os abria, pensam que pelo facto de terem estantes recheadas de livros, são sábios!”…

Desconhecem que a cultura se adquire após haver lido, relido… e meditado, as obras consideradas basilares. E ser culto, não é saber de tudo…

Com o aparecimento da Internet, e com a facilidade de se encontrar tudo que se deseja, criou-se a ilusão que tudo se conhece.

Consultando o computador, pode-se, sem esforço, conversar sobre todas ou quase todas as matérias, não se sabendo nada ou quase nada, de nenhuma.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O tempo - Por João Bosco Leal (*)




Durante toda a vida, nas mais diversas áreas, nos envolvemos em situações extremamente distintas, diante das quais, depois de algum tempo, muito provavelmente não teríamos nos comportado da mesma maneira. Isso é o aprendizado, crescimento, e feliz é aquele que, quando necessário, se arrepende, muda de opinião e segue por novos caminhos.

Situações constrangedoras, que em algum momento nos encabularam, dias depois normalmente passam a ser divertidas, provocando risos em nós mesmos. Outras, que nos provocam algum tipo de tensão, ou mesmo de ira, após algum tempo deixam de ter importância.

Pessoas que de uma forma ou outra nos magoaram, muitas vezes não o fizeram com essa intenção e o tempo se encarrega de nos fazer esquecer as que foram provocadas propositadamente.

Só o tempo é capaz de, um dia, nos fazer entender que ele jamais foi nosso inimigo, mas nosso maior mestre, mostrando-nos a importância de cada sorriso, cumprimento, abraço ou carinho e também a das pedras encontradas em nosso caminho, algumas das quais pudemos nos desviar e das outras, que nos derrubaram.

Ele nos ensina a observar, aprender com as experiências alheias, dispensando-nos de passar pelas já vividas por outros, facilitando, assim, nosso crescimento em todos os campos e mostrando que os problemas sempre existiram e existirão, mas que a fuga nunca foi ou será uma saída apropriada ou digna.

Com ele aprendemos a aceitar e não gastarmos mais energia com algo que já não pode ser mudado e também, que quando se ama verdadeiramente, não se deve pedir, reivindicar ou exigir o mesmo, mas sim oferecer nosso amor, que poderá ser ou não aceito pela pessoa amada.

O nascimento em lares mais privilegiados, social, cultural ou economicamente não determina o futuro das pessoas, pois em muitas ocasiões essas posições se invertem com o tempo, seja pelo esforço individual de uns, sua capacidade produtiva, administrativa, ou pela falta destas em outros.

O tempo, em qualquer setor, só é útil para quem o aproveita, mas dá a todos, inclusive para os que caíram e sofreram ou aos que chegam à conclusão que o perderam, a oportunidade do amadurecimento, do aprendizado constante.

Ele diariamente mostra aos mestres que, quando ensinam, estão sempre aprendendo e aos avós - antes enérgicos com seus filhos -, que hoje só devem brincar com seus netos.

Ensina que toda escolha gera uma consequência, que as mentiras fazem estragos bem maiores que os provocados pela sinceridade, que o silêncio é a maneira mais inteligente de não se desgastar desnecessariamente e que não há juiz mais justo - e também severo -, que o tempo.

Comprova que todos os acontecimentos vividos, que deram prazer ou dores, quando se errou ou acertou, foram importantes para o aprendizado, o amadurecimento, lições que proporcionaram maior experiência e provavelmente, possibilitarão a diminuição dos erros nos próximos passos.

O tempo caminha sempre ao nosso lado e lentamente vai ensinando tudo o que realmente vale a pena.

* Jornalista, escritor e empresário

sábado, 12 de julho de 2014

O MELHOR AMIGO DE MOZART - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA










A dedicação, a lealdade, e a gratidão, que os cachorros têm a quem se dedica a eles, é sobejamente conhecida.

Todos conhecemos, ou pelo menos escutamos, cenas comoventes, e provas exemplares de amor.

O cão não é apenas animal de estimação, presta, desde tempos imemoriais, valiosos serviços. É o único ser, que consegue apenas viver de amor.

Os restantes animais têm, que retribuir com trabalho. Ao cachorro, não.

A dedicação, o entusiasmo que demonstram ao verem o dono; o instinto de protegerem quem cuida e lhes dispensa carinho, garante-lhes vida folgada.

Ao ler a biografia do compositor Mozart, fiquei impressionadíssimo com a dedicação do seu cão Pimperl; o único, que indiferente à violenta intempérie, que desabara sobre Viena, acompanhou-o até ao cemitério de São Marxer, atrás do carro que transportava o compositor.

Até à igreja de Santo Esteves, três ou quatro amigos, provavelmente admiradores do talento genial de Mozart - ou seria compaixão? - Seguiram o féretro, depois, só o cachorro - o amigo sincero que tinha, - acompanhou o funeral; e mergulhado em profunda tristeza, assistiu ao sepultamento, em vala comum.

Dizem, não há confirmação, que a esposa, Constanze Weber, não acompanhou o marido, por se encontrar muito comovida.

Decorridos dias, foi ao cemitério certificar-se onde haviam enterrado Mozart.

Disseram-lhe que não sabiam, porque fora atirado para a vala comum: Porém, um coveiro, esclareceu-a, que dias depois, apareceu morto, devido ao frio e à fome, cachorro, no local onde enterraram Mozart, mas tinham-no lançado ao lixo.

Esta informação, digna de registo, nunca foi devidamente confirmada. Biógrafos do compositor, consideram-na fantasia - fazendo parte da lenda urdida à volta de Mozart e do dedicado cão.

A desgraça e a fuga de amigos, deve-se, em parte, à inveja do compositor António Solleri, receoso de ser ofuscado, e perder o prestígio que gozava em Viena.

De concreto quase nada se conhece. - Esquecidos os êxitos de Mozart, as noites de glória, os louvores de reis e rainhas, a condecoração do Papa Clemente XIV, e a admiração de muitos compositores e músicos do seu tempo, Mozart passou a ser um desconhecido…

Uns, dizem que faleceu junto da esposa; outros, que ela estava em Paris, e que a família vivendo em Salzburgo – cidade natal do compositor, – não pode estar presente no funeral, realizado por amigo.

Ao certo, conhece-se que apenas o cachorro o acompanhou à última morada.

Ao ouvir-se a “Flauta Mágica”,”As Bodas de Fígaro” ou “ Don Giovanni”, é bom lembrar que o verdadeiro amigo do genial Mozart, foi o seu cão: indiferente à miséria, à chuva, à tempestade desabrida, que caía, acompanhou o dono até ao cemitério… e ai morreu de amor e saudade.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal




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segunda-feira, 7 de julho de 2014

PARECEM ANEDOTAS ... MAS NÃO SÃO - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA





 







Recentemente, o Papa Francisco, disse que ficava com “ pele de galinha” só de pensar que alguns sacerdotes podem ser pequenos monstros, visto faltar-lhes formação que lhes permita contactar com os outros, como pais, irmãos, companheiros de jornada, segundo revela “ La Civilta Cattolica”.

A “pele de galinha” do Papa e a falta de preparação para lidarem com o semelhante, fez-me recordar casos, que presenciei ao longo da vida:



***


Estava a participar na missa, numa Igreja da Diocese do Porto, quando, como preambulo da homilia, o sacerdote, virando-se para a assembleia, declara:

- No altar não deve haver flores, velas, objetos, como está neste. Não sou pároco daqui, por isso é só um reparo.

O comentário, dito em público, desagradou a quem, por gentileza, encarrega-se de enflorar o altar. Além der censura, discreta, ao padre da paróquia.



***



Havia coro, de dezenas de pessoas, ensaiado por modesto maestro, que estava a fazer furor.

Cheguei a ouvi-los na igreja de Nª Senhora da Esperança, no Porto, em missa rezada por alma dos antigos associados dos Amigos do Porto.

Certa ocasião, estava o maestro entusiasmado, e não percebendo que o sacerdote queria prosseguir a celebração, continuou o cântico.

Vira-se o abade. Olha para o coro, e alteando a voz, exclama:

- Acabe lá com a cassete!

Resultado: o maestro desistiu, e o coro desapareceu.



***



Certa vez - foi nos anos sessenta, - estando com meu pai, este, resolveu assinar a “ Voz de Fátima”, para ajudar o jornalzinho.

Entramos na redação. Sentado, junto a secretária havia um padre ainda jovem.

Mal entramos, perguntou:

- O que é que vossemecê quer daqui?!

Ao que meu pai respondeu prontamente:

- Já não quero nada…



***



Na década cinquenta, numa freguesia nortenha, o abade pregou a devoção da Medalha Milagrosa. Recomendou que todos deviam ter uma, informando que no final da missa fossem ter com ele à sacristia.

O mulherio correu em massa. O abade ao ver tanta gente, gritou em voz grossa:

- Desampare-me o aído.

E brincalhão que estava perto da porta da rua, exclamou:

- Deixem o aído para o Senhor abade! …



***



Agora, uma, ocorrida durante almoço, que pastor evangélico me ofereceu:

A esposa, ultimava os últimos preparos, na cozinha, enquanto a filha, de treze anos, punha a mesa.

Inexperiente, atrapalhada, não atinava com os talheres.

O pai, de cara fechada, assistia a tudo e repreendia:

- Também quero ver o que vais fazer?!

Vermelha, como tomate, atarantada, a menina chorava. As lágrimas escorriam-lhe pela face, como duas bicas, e o pai:

- Não são esses. Vai buscar outros….



***



Outrora ia-se para o seminário para estudar de graça. Ser padre dava classe e prestigio.

Os meninos ficavam cultos, mas raramente educados. Agora as vocações, na Igreja Católica, são escassas, mas mais sinceras

Ao invés, em alguma Igrejas Evangélicas e principalmente, seitas, não faltam vocações, pelo menos enquanto receberem remunerações principescas…

Conheci pobre homem, pastor de igrejinha, em Custóias, que lamentava-se da má sorte, porque amigo, cozinheiro de profissão, conseguiu pastorear, recebendo seis mil escudos, em época que metade já seria muito bom para licenciado.

Para finalizar, a declaração, publicada numa revista evangélica, de pastor, ao saber que recebeu chamado para trabalhar nas missões:

- Aceitei, porque sempre ganho para comprar casa na minha terra…

Pela sinceridade…tem o meu aplauso e perdão.






HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:35