segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

MACAQUINHOS DE IMITAÇÃO - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




 Em meados de Dezembro, deste ameno Outono, em que o Sol ainda doira a cidade do Porto, fui à farmácia da baixa.

Precisava de comprar medicamentos para achaque, que a “ferrugem” da idade e do uso, vai entorpecendo – com dores agudas, – a engrenagem do corpo.

Entrei e dirigi-me ao balcão. Reparei que todo o estabelecimento encontrava-se decorado, com vistosos motivos natalícios: árvore branca, coberta de largas fitas prateadas, e grandes e vistosas bolas, todas vermelhas.

Ao centro, viam-se quatro letras de cartão, capitaneadas por “X”; formavam palavra que me pareceu uma charada; mas alegravam, sem duvida, a loja, já que cada uma continha: pinhazinhas e raminhos verdes, que me pareceram naturais.

Cheio de curiosidade, interroguei a empregada, que era doutora, acreditando nas letras bordadas a azul, na bata branca.

Esta, risonha e solícita, esclareceu-me que era a palavra “Natal“, em inglês. Agora, na América, só se usa o diminutivo…

Pensei, de mim para mim – já que não tinha botões, mas fecho- éclair, nas vestes, –: Que mania, que doença é essa, que nos transformou em macaquinhos de imitação; copiadores de tudo que se usa na terra de Tio Sam! …

Comerciante, lá nos confins do Ocidente, em certa sexta-feira, resolveu saldar, a preço de chuva, o stock; vai os “macaquinhos” repetirem a gracinha, na nossa terra, não se dando ao trabalho de tradução.

Compreende-se: “sexta-feira negra”, não soava bem aos ouvidos dos bacoquinhos nacionais, sempre prontos a caírem de joelhos, ao que se diz e se faz na estranja.

Outrora, no tempo de Eça, e mesmo no meu tempo de menino, tudo vinha de Paris: Era elegante falar francês; usar a moda parisiense; citar escritores franceses…

Avaliando pelos versos de Nicolau Tolentino, essa esquisita doença, já vem de longe…

Agora, a mania, é o inglês. Até as crianças estudam-no na escola, juntamente com a língua pátria.

Mas desculpem-me os leitores do Brasil – sei que são muitos e muitos os estimo, – a macaquice também chegou à vossa terra.

Não falo dos “macaquinhos”, que certa elite intelectualizada, considera cultura (?!); e não me admiro, que venham aparecer, em breve, na Europa, como embaixadores da cultura brasileira…; mas da tendência – não fossem filhos do mesmo pai, - de cobiçarem tudo que se usa no velho continente e principalmente nos Estados Unidos.

O responsável ou responsáveis, pela farmácia, por certo, descobriram numa das largas e modernas avenidas nova-iorquinas, a nova forma de escrever, “Natal”, e considerou ou consideraram, elegante, colocar a “ novidade” na loja, para deslumbrar os bacoquinhos lusos.

Consideraram e com razão. Não somos nós macaquinhos de imitação?!

 Em tudo, apesar de dizerem: que têm novecentos anos de independência; serem soberanos; não receberem lições de ninguém; possuírem cultura incomparável; não passam de “macaquinhos de imitação”: na Música, na Literatura, na Moda, na Arte… e até na Educação…

Eternos complexados…



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

publicado por solpaz às 17:03

domingo, 27 de dezembro de 2015

Detalhes - Por João Bosco Leal*




A cada fim de ano e início de um novo, milhares são os votos desejando felicidades, um ano novo maravilhoso, promessas de mudanças, recomeços e diversas outras formas de alterações são autopropostas. 

Mas, na realidade, a única mudança real que ocorre entre o dia 31 de dezembro de um a no e o primeiro dia de janeiro de outro, é de uma mudança na data do calendário, como qualquer outra de todos os 365 dias do ano que passou ou do que se inicia. 

Assim, nada mais lógico do que imaginar que todas essas felicitações e promessas poderiam ter sido feitas em qualquer um desses dias, mas, normalmente, não o fazemos. Todos os dias, de todos os anos, deixamos de fazer declarações de bem querer, amizade, amor a pessoas próximas, parentes, ascendentes ou descendentes e essas declarações poderiam ter mudado algo na vida delas ou nas nossas, em nosso relacionamento com as mesmas.

Na viagem da vida de cada um, existe a opção de ser o passageiro ou o maquinista do trem, que parará em muitas estações. Pessoas descerão, outras subirão, mas o maquinista continuará sendo o mesmo.

Em cada uma destas estações, teremos a oportunidade de conhecer novas pessoas e de nos despedirmos de outras, mas o maquinista provavelmente nem será visto, continuará sendo um desconhecido. 

Entretanto, é este desconhecido que conduz todos os viajantes daquele trem. Ele pode acelerar mais ou menos, passar lentamente por locais onde existem belas paisagens, permitindo que sejam mais bem admiradas ou passar neste local em uma velocidade que praticamente nada poderá ser visto. 

Como passageiro, você poderá se assustar nas curvas onde, da janela, só verá um precipício a seu lado, sem poder imaginar o que está por vir, se outra curva, uma reta ou até um descarrilamento. O maquinista, porém, tem outra visão. Enxerga onde pode acelerar mais ou menos, quando deve diminuir a velocidade ou mesmo frear repentinamente e quando se aproxima a próxima estação onde parará. 

Se alguém estiver sentado ao seu lado poderá até conversar com ele, se apresentar, puxar assunto, mas na próxima estação, dele provavelmente se despedirá e nunca mais o verá. A viagem da vida também é como esta, só de ida, uma vez que - a não ser que tome novamente o mesmo tem e no mesmo trajeto -, você jamais voltará a ver aquela estação. 

Perceberá, durante sua viajem, que deve mesmo se despedir das pessoas e dos locais por onde passa, pois só são parte daquele momento e já não farão parte do trecho posterior, não se encaixarão mais em nossas vidas.

Aproveite ao máximo cada pedaço da viagem, cada paisagem, diferença de tons, aroma, gota de chuva, alimento e cada inalação de ar puro. Tudo isso jamais se repetirá da mesma forma. 

Assim, quando chegar à estação onde deverá descer, poderá nela desembarcar tranquilo, descansado e, senão com todos, com pelo menos a maioria dos seus sonhos realizados. 

Uma mesma estrada sempre será diferente do dia anterior. Portanto, admire e usufrua de cada detalhe que a vida lhe proporciona.

*Jornalista, escritor e empresário

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O PUDOR DAS CRIANÇAS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

 


Recostada na cadeira de trabalho, em contraluz, diante da mesinha, revestida de toalha cor de canela, que tapa a braseira de cobre – onde, em frias tardes de Inverno, ardem brasas rubras, – a zelosa mãe, de agulha na mão, acerta os calções vermelhos, da filha amada.

Pelas extensas vidraças, viradas para a cidadela, penetra leve claridade, que envolve, a pequena salinha, em doce e deliciosa paz.

Luz desmaiada de fim de tarde de Verão. Lá fora, o céu azul profundo, acarmina- se, esmorecendo lentamente, em violeta – sanguínea e em luminosa poalha de oiro em fogo.

Silêncio.

A pequena salita, adormece lentamente em doce penumbra. Tudo se desvanece num misterioso encantamento: o aparelho de TV; o armário, pintado de branco, arrimado ao fundo; a toalhinha cor de canela, a mãe; os calções encarnados…Tudo se esvanece, esfuma-se, perdido na misteriosa luz acolhedora, de entardecer calmoso.

Vem da cozinha, intensamente iluminada, leve tilintar de vidros e metais; e pairam, no ar morno, adocicados e deliciosos odores a chocolate e açúcar acaramelado.
 É a filha mais velha que tem o bolo no forno.

De súbito, o repousante silêncio – convidativo à sonolência, – é rasgado por harmoniosa voz juvenil:

-“ Mãe!!! … Como se faz chantilly?”

Um sorriso de bondade aflora nos lábios finos da progenitora.

Depõe os calções encarnados, mais a agulha, sobre a mesa, e lançando meigo olhar para a filha – que de mangas arregaçadas, no limiar da porta, aguarda a esperada resposta, – diz:

- “Mistura manteiga com açúcar e bate muito bem…muito bem…muito bem…Depois, junta-lhe um cibinho de…”

Afobada, de braços balanceando, boca a transbordar sorrisos chilreantes, olhos vivos, espertos, luzindo de felicidade, entra a caçulinha, em grande estardalhaço.

Beija de fugida a mãe; abraça-a infectuosamente, como querendo dizer: - “ Gosto muito de ti! …”

Espicaçada pela curiosidade, aos saltinhos, quase pardalita travessa, a menininha interroga, ansiosamente a mana querida:

“O que estás a fazer?!”

Ninguém lhe responde….

Amuada, despeitada, triste, de olhos fixos no vácuo, fica pensativa, a folhear velho caderno escolar, de capa azul, de folhas enodoadas, por muito ter sido manuseado.

Pela escancarada porta de vidro da varanda, entra, trazido pela brisa fresca de fim de tarde calmosa, à mistura com ruídos da rua: guinchos infantis e risos festivos de crianças. São os filhos do doutor ou do Major?

Ao longe, muito ao longe, galos de voz esganiçada, anunciam que começam a ser horas de recolher….

Agora, na salinha, tudo é quase trevas. Na semi-escuridão reluz apenas, na carinha morena, os luminosos olhos castanhos da meiga garotinha, que permanecem parados, tristes e meditativos.

Por sortilégio, quiçá de boa fada, de repente, tudo ganha brilhos e rebrilhos e nítidos contornos.

 Foi a mãe, que vindo da cozinha, acendeu as lâmpadas.

-“ Vamos provar?” – Diz, como se a convidasse

Nesse comenos, toca a campainha.

 Quem será?!

É a D. Flora, professora, amiga da dona de casa.

Dá repenicados beijinhos à menina e à mãe, e atira, com quatro dedos rechonchudos, beijos à que anda à volta com o bolo de chocolate, que rescende.

Conta novidades: casamento da Néné; maroteiras do filho do Dr. Bento; a lotaria premiada, vendida na Praça da Sé…

“Vem menina! …Vem provar!” – Insiste, mais uma vez, a mãe, explicando, à visita, que vão a banhos para Foz de Arelho.

Encolhida, envergonhada, enleada, de faces rosadas, avizinha-se; e esta sem reparar no rosto anacarado de acanhamento, levanta-lhe a saia rodada, deixando as calcinhas, cor-de-rosa, à vista, e a perna nua.

Constrangida, humilhada, por se ver descomposta diante de estranhos, a pequenita fica a balancear: a brincar com os dedos das mãos…Com os dedos dos pés…Acariciando os macios cabelos castanhos de reflexos doirados…; mas as maçãzinhas do rosto, enrubescem-se de pejo…

A mãe é mãe. Não é “gente”. Despir-se diante dela, é normal…;mas na frente de visitas…

Indiferente ao comportamento da filha, nem repara no acanhamento, e continua a conversar – num cavaquear de amigas.

Este quadro familiar, tão simples, tão singelo, tão sem importância, não seria merecedor de registo, senão fosse o embaraço da mocinha.

Os pais, por vezes, esquecem-se que os filhos cresceram…Deixaram de ser garotinhos.

Há mães que pedem a empregadas para darem banho aos filhos, e vestem-nos diante de amigas. Olvidando que o pudor das crianças deve ser respeitado.

 A cena que vos trago, ocorreu há muito e muitos anos, quando os meninos e meninas eram recatados.

Agora, o pudor, parece estar a desaparecer…

O “progresso” deve-se, em parte, ao: ensino misto, à liberdade paterna e mormente à nefasta influência do cinema e TV.

Essa á vontade, por si, não é má nem boa. Mau é quando descamba em libertinagem e desrespeito pelo corpo.     


HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal  



                                                                                                


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A amizade e o amor - Por João Bosco Leal*



Em um determinado dia, recebi de meu filho um Whatsapp que dizia: Pai veja essa mensagem: 

Um jovem recém-casado estava sentado num sofá, num dia quente e úmido, bebericando chá gelado, durante uma visita ao seu pai. Ao conversarem sobre a vida, o casamento, as responsabilidades da vida, as obrigações da pessoa adulta, o pai remexia pensativamente os cubos de gelo no seu copo e lançou um olhar claro e sóbrio para seu filho. 

- Nunca se esqueça de seus amigos! - aconselhou. Serão mais importantes à medida que você envelhecer. Independentemente do quanto você ame sua família, os filhos que porventura venham a ter, você sempre precisará de amigos. 

Lembre-se de ocasionalmente ir a lugares com eles; faça coisas com eles; telefone para eles... 

Que estranho conselho! (Pensou o jovem). Acabo de ingressar no mundo dos casados. Sou adulto. Com certeza, minha esposa e a família que iniciaremos serão tudo de que necessito para dar sentido à minha vida! 

Contudo, ele obedeceu ao pai. Manteve contato com seus amigos e anualmente aumentava o número de amigos. À medida que os anos se passavam, ele foi compreendendo que seu pai sabia do que falava. À medida que o tempo e a natureza realizam suas mudanças e seus mistérios sobre um homem, amigos são baluartes de sua vida. 

Só passados cerca de 50 anos, ele realmente entendia o que o pai queria dizer: 

O Tempo passa. A vida acontece. A distância separa. As crianças crescem. Os empregos vão e vêm. O amor fica mais frouxo. As pessoas não fazem o que deveriam fazer. O coração se rompe. Os pais morrem. Os colegas esquecem os favores. As carreiras terminam. Os filhos seguem a sua vida como você tão bem ensinou. 

Mas os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilômetros existam entre vocês. Um amigo nunca está mais distante do que o alcance de uma necessidade, torcendo por você, intervindo em seu favor e esperando você de braços abertos, e abençoando sua vida! 

E quando a velhice chega, não existe papo mais gostoso do que o dos velhos amigos... As histórias e recordações dos tempos vividos juntos, das viagens, das férias, das noitadas, das paqueras... Ah! tempo bom que não volta mais... Não volta, mas pode ser lembrado numa boa conversa debaixo da sombra de uma árvore, deitado na rede de uma varanda confortável ou à mesa de um restaurante, regada a um bom vinho, não com um desconhecido, mas com os velhos amigos. 

Quando iniciamos esta aventura chamada VIDA, não sabíamos das incríveis alegrias ou tristezas que estavam adiante, nem sabíamos o quanto precisaríamos uns dos outros!  

Meu filho termina então a mensagem dizendo: Lembrei-me do senhor, que além de pai, é um grande amigo! Respondi: Obrigado meu filho. Eu também te adoro, como filho e como amigo. Deus te abençoe sempre. E ele: Amém! Bjs! 

Todos sabem o quanto é rara a existência de uma amizade verdadeira e penso que o amor é como uma delas, dessas que durante a vida só conseguimos construir muito poucas, raríssimas vezes. 

O amor surge de uma paixão irresistível, cresce, e só se torna maduro, verdadeiro, após a existência e consolidação da amizade, cumplicidade e companheirismo entre os dois.

*Jornalista, escritor e empresário

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vamos dançar - Por João Bosco Leal*

Os jovens normalmente são muito afoitos em tudo. Quando descobrem os prazeres provocados pela carne, então, são insaciáveis. Parece que o mundo acabará no dia seguinte e sua necessidade de aproveitar ao máximo esses prazeres - e com o maior número possível de pessoas -, chega a ser indescritível. 

Com os anos, vão percebendo que muito do que pensavam ser um prazer, na realidade não foi tanto assim e, depois de ocorrido, muitas vezes pode até provocar uma série de problemas, físicos, de saúde, psicológicos, de repulsa pelo outro ou um enorme arrependimento por ter ocorrido. 

Muitas pessoas que pensavam ser de determinada maneira não o eram. Física, mental, cultural ou moralmente, elas eram um espécie de lixo humano. Mas aí tudo já havia ocorrido e só restava o arrependimento, que muitas vezes perdurará pelo resto da vida, pois em alguns casos elas continuarão próximas, presentes, ou ao menos conhecidas de conhecidos.

Poderão, indefinidamente, fazer comentários maldosos a seu respeito, dizer coisas que ocorreram e outras que não. E só depois de passar por experiências negativas como essas, o jovem começará a perceber que a entrega física a um parceiro ou parceira é algo muito importante para ocorrer com qualquer um. 

Os mais velhos - que já passaram ou viram muitas pessoas passar por diversos problemas ou constrangimentos por terem se relacionado com muitos ou com qualquer um -, sabem que essa entrega física só deveria ocorrer com alguém que realmente valha a pena, não só fisicamente, mas quando for uma pessoa que possua outras qualidades como princípios éticos, moral, e dignidade. 

Sem esse conjunto de atributos, as entregas quase que certamente causarão muito mais arrependimentos que saudades. Entretanto, quando o envolvimento e a entrega, ocorre com alguém com essas características, percebe-se que a espera foi gratificante e que, agora sim, a pessoa vale a pena. 

Aqueles com maior idade, mas que por um motivo ou outro acabaram se casando muito jovens e depois de determinado tempo, por separação ou viuvez encontram-se novamente solteiros - tenho um amigo vivenciando isso -, também passam por essa fase de "liberdade" e, principalmente, por uma busca alucinada por novas experiências de satisfações físicas. 

Mas logo perceberão que isso também não vale a pena, que aquele prazer físico é muito rápido, pouco duradouro e nada construirá. Muito pelo contrário, certamente ocorrerão as mesmas experiências negativas, de arrependimento, de asco pelas pessoas erradas e riscos desnecessários. 

Claro que todos possuem seus defeitos, mas em sua grande maioria, eles têm origem no fato de estarem sós, longe da pessoa que desejam. Passei mais de meio século para encontrar alguém que, ao fim do dia, me provocasse ter vontade de voltar para casa e sempre imaginei que quando esse encontro ocorresse, não poderia, em hipótese alguma, ou por qualquer motivo, ser desperdiçado. 

Entretanto, ao encontra-la, por mais que eu tente, lhe explique que ela é quem busquei por toda a vida, suas dúvidas, questionamentos e os disse-me-disse, não permitem que ela comigo viva esse amor. 

Todos viveriam muito melhor se deixassem de lado a grande maioria das opiniões alheias, suas dúvidas e questionamentos para, diante da pessoa que desejam, dizer: Eu cuido de você e você cuida de mim. Não desisto de você e nem você de mim. 

Entretanto, só sou normal até ouvir tocar minha música favorita. Portanto, deixe tudo de lado e venha dançar. 

João Bosco Leal*     
*Jornalista e empresário

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Trajetórias - Por João Bosco Leal*



 Muitas vezes sinuosa e outras retilínea, a trajetória de nossas vidas é repleta de mudanças não planejadas ou inesperadas.

Talvez por medo desses acontecimentos não previstos, "... os homens avançam sempre por caminhos traçados por outros homens e dirigem seus atos com base na imitação,...", diz Maquiavel em seu livro O Príncipe, e completa: "... o homem prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar aqueles que se mostraram excepcionais...".

Entretanto, ainda no mesmo livro, o autor diz: "Assim, fora necessário que Moisés encontrasse o povo de Israel escravizado e oprimido pelos egípcios para que este, buscando dar fim à sua escravidão, dispusesse-se a segui-lo". 

Moisés era um Semita da Tribo de Levi, filho de Anrão e Joquebede, que foi encontrado por Hatshepsut, filha do Faraó Ramsés II, boiando em uma cesta quando esta tomava banho no rio. Solteira, ela pediu a uma de suas servas - justamente Joquebede -, que a ajudasse a criá-lo e anos depois o adotou oficialmente: "Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou por filho, e lhe chamou Moisés, dizendo: Porque das águas o tirei" (Êxodo 2:10).

Aos 40 anos, já sabendo que não era filho legítimo do Faraó e após ter matado um feitor egípcio, ele é obrigado a partir para exílio, a fim de escapar da pena de morte. Fixa-se então na região montanhosa de Midiã, situada a leste do Golfo de Aqaba.

Posteriormente tornou-se o encarregado da construção de novos palácios, construídos em novas terras que o Faraó se apossara ou tomara em guerras, mas não concordando com a maneira que os egípcios tratavam os hebreus - seus escravos que trabalhavam nessas construções -, rebelou-se contra isso e, por quarenta anos, guiou o povo de Israel para a Terra Prometida.

Esse povo, composto de centenas de tribos seguia aquele que os libertara da escravidão rumo ao que, para eles, era totalmente desconhecido. Era uma nova trajetória, uma opção, provocada pela necessidade, mas uma escolha.

Assim como todas essas tribos, todos podem seguir alguém ou escolher o próprio caminho, já conhecido, desconhecido, ou mesmo permanecer do mesmo modo, sem alterar em nada a vida que levam.

Caminhar pode provocar bolhas nos pés, tropeços, quedas, mas os que se levantam e continuam, notarão que as feridas serão curadas, os pés e o corpo se acostumarão e certamente atingirão um local desconhecido para os que lá chegam.

Durante a vida, na trajetória escolhida por cada um, pessoas e locais são conhecidos, algumas ou até mesmo raras amizades e inimizades são criadas, mas sempre algo novo, inesperado ou surpreendente, ocorrerá. O que não se deve é acovardar-se, ter medo do inesperado e permanecer em situações que não lhe proporcionarão mudanças, crescimento.

As quedas fazem parte da vida e do nosso aprendizado. Cair dói principalmente no orgulho, e mais ainda, quando outras pessoas estão envolvidas. Entretanto, humilhante mesmo não é cair, mas permanecer no chão enquanto a vida continua.

Nossos enganos, quedas ou perdas não devem ser lamentados, pois o mundo não acaba quando isso ocorre. No máximo, eles nos ensinam que devemos mudar nossa trajetória, aprender com nossos erros e acertos.

*Jornalista, escritor e empresário

FUTEBOL: UM MUNDO À PARTE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




 O Anuário de Futebol Português e Europeu - 1983/4, publicou texto de Marcelo Rebelo de Sousa, equiparando a política ao Futebol:” Aos seis anos era entusiasta de bancada. Aos 10 começaria a sê-lo no relvado. Aos 25 anos era director da Federação Portuguesa de Futebol. 

Em tantas e diversas experiências não encontrei nada (nem mesmo o jornalismo) que se parecesse com a política do que o Futebol.”

Por serem tão semelhantes é que nunca ouvi político criticar o desgoverno de clubes desportivos e os escandalosos vencimentos que treinadores e jogadores recebem. Se Primeiro-ministro contratasse, por milhões, economista famoso, capaz de equilibrar as contas públicas e colocar o país ao nível das mais adiantadas nações do mundo, caía o Carmo e a Trindade. 

A oposição bradaria: que havia crianças com fome e famílias na miséria. Era desrespeito com o povo, pagar milhões a um ministro! Mas se o clube paga seis milhões ou mais, não há da direita à esquerda quem proteste. Medo? Não. Sabem que se arriscavam a perder as eleições.

As línguas palradoras emudecem quando o assunto é dinheiro do Futebol!

A esquerda pronta a criticar o capitalismo, os empresários e vencimentos doirados de gestores, calam-se perante milhões e biliões de euros que o mundo desportivo movimenta.

Salazar – o mais inteligente político português do século XX, – sabia perfeitamente o poder do Futebol, para adormecer e desviar o povo dos reais problemas da nação.

Apelidaram-no até como o homem de três “F’s” – Futebol, Fátima e Fado.

O Futebol continua, e com mais força com a chegada da democracia. Fátima é tolerada, por respeito à fé do povo. O fado, depois de silenciado – ainda não descobri a razão, – renasceu ao ser considerado património mundial.

Os Mundiais de Futebol, são, em regra, desastrosos para a economia das nações que os realizam. Mesmo assim são disputadíssimos pelos países! …

É mais fácil construírem estádios, que hospitais e pronto-socorro… e até escolas!

O político, no poder, precisa, como os Césares de Roma, divertir o Povo.

O Imperador Romano tinha o circo. O Coliseu, com espectáculos degradantes. O político actual – da direita à esquerda, – anestesia o povo com futebol e Carnaval.

Com tambores, fanfarras e “guerrinhas” desportivas, o poder divertem e governam ou desgovernam. Por vezes até os “amigos” se governam…



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O tempo e as escolhas - Por João Bosco Leal*




Quando crianças, além do tentar caminhar, um dos maiores desafios de todos é a formação das primeiras palavras e das primeiras frases, com as quais nos comunicaremos pelo resto de nossas vidas.

Nos primeiros anos, tudo é diversão, brincadeira. Além da alfabetização, que já parece ser uma responsabilidade enorme, ninguém quer ter qualquer outra. Só as brincadeiras e passeios com os amigos da escola são importantes.

Na juventude descobrimos as sensações e os sentimentos, tanto os prazeirosos quanto os dolorosos. É também quando começamos a perceber que a vida nos exigirá estudos, trabalho e responsabilidades, sem os quais nosso futuro será pouco promissor.

Quando adultos, temos muitos sonhos, projetos, vontades, esperanças e ambições. No futuro só vislumbramos o sucesso, o que conseguiremos, até onde chegaremos e como seremos vitoriosos. A grande maioria imagina, inclusive, que todos admirarão seu sucesso.

Na maturidade, enxergamos a realidade, o que a vida dá e o que ela cobra. Percebemos claramente a diferença entre o que quando adultos projetávamos e o que realmente coseguimos realizar. Alguns projetos sofreram alterações, outros foram deixados de lado ou substituídos por diferentes. Muita coisa mudou.

Nesta etapa, tudo vai ficando muito simples, a ponto de, às vezes, nos assustarmos de quanto estamos mudando. Olhamos para nossos armários e vemos roupas que nem lembravamos que existiam.

Nas gavetas do criado mudo encontramos produtos que nem sabemos para que servem, ou porque estão ali. Vamos perdendo muitas das nossas necessidades anteriores, reduzindo as roupas nos armários, os calçados, as malas, enfim, a bagagem.

Durante muitos anos, demos excessiva importância à opinião dos outros, elas nos incomodavam muito. Agora, são realmente dos outros e, mesmo que sobre nós, são exclusivamente deles, não tem a menor importância.

Por mais que sintamos grande afinidade ou mesmo que delas gostemos, deixamos de buscar a companhia das pessoas que não buscam a nossa. Não nos farão diferença, pois já aprendemos que só vale a pena estar ao lado de quem também quer estar do nosso.

No mais das vezes, não há como desfazer aquilo que já está feito, mas a vida sempre nos permite fazer de novo, de uma outra maneira, sem incidir nos mesmos erros do passado.

Os planos de futuro deixam de ser para amanhã. Passamos a querer viver o hoje, pois sabemos que o amanhã pode não existir e isso nos torna mais leves, tranquilos, com muito menos preocupações.

Os debates em busca de quem tem razão normalmente só causam mal estar entre as pessoas e, por isso, aprendemos a deixar de ter certezas, o que não nos faz a menor falta.

Os julgamentos, antes realizados com muita facilidade, também vão deixando de existir, pois não existe a certeza absoluta, mas sim as opções de vida escolhidas por cada um.

Constatamos, em nossa própria vida, a realidade do que muitos já haviam escrito ou mesmo nos dito: "Cada um é o resultado de seu passado".

Só o tempo ensina que seremos cada dia mais felizes escolhendo fazer somente o que alegra o nosso coração.

*Jornalista, escritor e empresário

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Caminhos inexplorados - Por João Bosco Leal*


 
 É muito comum a tendência de só trilharmos por caminhos conhecidos, já experimentados por outras pessoas, pois assim deixamos de cair onde outros já caíram ou sofrer o que já foi sofrido por alguém. 

Esse é o caminho mais fácil a ser seguido para aqueles que não querem correr riscos, principalmente financeiros. Raros são os que se arriscam a investir seu patrimônio - ou mesmo parte dele - em algo ainda não experimentado por outros. 

Entretanto, isso nos torna mais um na multidão, sem perspectivas de conhecer ou criar algo novo, realmente diferente. Só os que saíram das trilhas comuns foram capazes de repensar, viver, provar e criar coisas totalmente desconhecidas. 

Provavelmente todos já sonharam em ter uma ideia revolucionária, que mudasse algo e ainda rendesse muito dinheiro, mas aqueles que realmente podem ser chamados de inventores estão sempre pensando além do seu tempo, procurando maneiras de tornar atividades corriqueiras mais práticas e muitas vezes essa busca é tão intensa que alguns nem se preocupam ou não conseguem se beneficiar financeiramente de seu invento. 

Em 1947, depois de ser ferido durante a segunda guerra mundial e ter de ficar um tempo no hospital, o soldado Mikhail Kalashnikov, da então União Soviética, aproveitou seu tempo para projetar uma das melhores armas de combate já criadas, a AK-47. Com mais de 100 milhões de rifles circulando por aí, Kalashnikov deveria estar na lista dos homens mais ricos do mundo. 

Tudo o que o soldado recebeu foi um bônus de agradecimento pelos serviços prestados, pois o governo comunista não pagava os "inventores" na época em que a arma foi criada. Cinquenta e dois anos depois, em 1999, a Izhevsk Machine Shop conseguiu patentear a arma e Mikhail deixou de ganhar centenas de bilhões com o seu projeto. 

Todos os homens que deixaram marcas na história da humanidade, promovendo profundas alterações no comportamento de todos os que os sucederam - como Alberto Santos Dumont com seu Hangar com portas de correr, o avião e o ultraleve; Alexander Graham Bell com seu telefone e o alto falante; Alfred Nobel com sua dinamite; Denis Papin e sua panela de pressão; Ferdinand Carré e o refrigerador; Henry Ford com a linha de produção em série; Thomas Edison com a lâmpada elétrica, o fonógrafo e a iluminação elétrica e, atualmente, Ivan Getting com seu fantástico GPS e Bill Gates e Steve Jobs com seus sistemas operacionais -, foram pessoas que repensaram, inventaram, e, com isso, transformaram o modo de vida de bilhões de pessoas. 

Como dizia Malcolm Muggeridge, "Não se esqueça de que apenas os peixes mortos nadam a favor da corrente".

Um caminho sem curvas, desvios ou obstáculos, sempre será o mais seguro e confortável, mas certamente não levará a um lugar que proporcionará novas descobertas. Os caminhos já traçados, só nos levam a lugares onde outros já estiveram. 

Em todas as áreas, sejam elas políticas, econômicas ou sociais, para que algo seja mudado é necessário que ele seja repensado, questionado, até que surjam ideias que possibilitem sua alteração ou uma nova criação, um novo modelo. 

Só correndo riscos e enfrentando caminhos ainda inexplorados, podemos mudar nosso destino e criar algo desconhecido, realmente novo.

* Jornalista, escritor e empresário

segunda-feira, 11 de maio de 2015

GREVE: ARMA DO POVO ? - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


  
A greve é um direito indiscutível do trabalhador, que ninguém de bom senso pode contestar. Mas a greve deve ser a última arma que o sindicato deve usar.

Só depois das “ conversações”, dos “acordos”, das “cedências”, é que deve ser apresentado o pré-aviso de greve.

No entanto todos sabemos – e não vale a pena negar, – que muitas greves são políticas, o único fim é obter dividendos para partidos.

Também há greves, por serem cirúrgicas, prejudicam os mais necessitados, aqueles que não possuem recursos para adquirirem viatura própria.

Quando os Caminho-de-ferro paralisam na véspera de Natal ou na Páscoa, a greve prejudica a empresa, mas igualmente os pobres, que, por não terem viatura própria são impedidos de passar as quadras festivas juntos da família.

Os ricos, os remediados, possuem automóvel e nada os incomoda que os comboios estejam em greve.

Os ricos, quando visitam familiares, que vivem no interior, raras vezes utilizam o comboio, porque é norma, ao regressarem, virem bem fornecidos de produtos agrícolas, que só a viatura própria pode trazer, sem incómodo.

A respeito da greve dos pilotos da TAP, amigo meu, saiu-se com esta: “ Em regra, as greves, sem motivo ou motivos fúteis, só são feitas por quem tem ordenados altos…”

Não chego a tanto; mas parar os transportes públicos em dias festivos, impedindo que os pobres não possam consoar com os pais e avós, ou os impeça de conviverem na época Pascal, parece-me afronta a quem tem salário ou pensão insignificante.

Sei que vivemos num mundo cão – que me desculpem os cachorros, que são, em regra, mais compreensivos e dedicados que os humanos, – cada um, cada classe, olha apenas para seus interesses, ficando indiferente com o bem-estar e necessidade do semelhante.

Se assim continuar, os pobres, o povo, começa a pensar que a melhor conquista que se obteve, que foi a liberdade e o direito à greve, não passou de engodo, visto – parecer, – estar ao serviço dos ricos e poderosos.



HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal


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sexta-feira, 3 de abril de 2015

A LIBERDADE E A CENSURA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






No final dos anos setenta, em época em que se vivia plena diarreia política, e sobrepunha-se o ódio, à razão, acompanhei meu pai à tipografia de pequeno periódico, cujo director era amigo de longa data.

A conversa, caiu, como não podia deixar de ser, na política, e descambou para liberdade e censura.

Foi então que o Vilarandelo de Morais, homem modesto, mas excelente orador, capaz de animar uma assembleia de homens cultos, declarou, enquanto mostrava a pequena tipografia:

- “ Tinha mais tranquilidade outrora, quando havia sensores e tinha que levar as provas à censura. Cortavam frases, títulos, e por vezes textos inteiros, de crónicas de opinião e artigos…Depois, tinha que improvisar, à pressa, fotografias ou notícias, para tapar buracos…”

Meu pai, pensativo, sacudia a cabeça em atitude de quem esperava o desenrolar da conversa.

- “ “ Após a Revolução dos Cravos – continuou, – tudo mudou. Publicava o que queria e dizia o que desejava…Chegavam os textos e escarrapachava tudo… Mas o pior foi depois…Veja: tive que ir ao tribunal por ter transcrito crónica de jornal de grande circulação. Vi-me grego para sair-me bem…”

- “ Agora sou eu que censuro os textos. Faço com severidade. Os matutinos de grande tiragem têm dinheiro e têm advogados… Mas os pequenos? Como posso manter demanda com poderosos? É o fim…”

E enquanto mostrava engenhoca, semelhante a máquina de escrever, que imprimia no zinco letras, rematou:

- “ Agora, se quero viver sossegado, não posso dizer o que quero nem permitir que os colaboradores digam o que desejam. O pequeno jornal vive de assinaturas, e principalmente de anúncios do comércio e indústria local. Tem-se que contar as moedas para comprar papel…Qualquer deslize…qualquer desabafo, pode ser a ruína da empresa.”

Ao lembrar-me desta conversa, com quase quarenta anos, lembrei-me o que disse socialista francês de meados do séc. XlX - citado por Fina d’Armada, cujo nome a autora não se recordava, in “ O Comércio do Porto”, a 21/03/97 - “ Para ele, a única liberdade real que existia (na democracia) era a liberdade do forte oprimir o fraco.”



HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal



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terça-feira, 24 de março de 2015

ANÚNCIOS EM SITES E BLOGUES - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


    

No último quartel do século passado a Net divulgou-se de tal modo, que a maioria da população – mormente a jovem, – passou a possuir computadores ligados à Internet.

Circulam por ela sites e blogues que permitem difusão de cultura e ideias.

Com o aparecimento, mais recente, das redes sociais, permitiu reunir, em rede, indivíduos, que embora residam em diferentes países, encontram-se unidos pela amizade ou troca de opiniões e conceitos.

Tem, todavia, essa estrada de comunicação – como tudo, – um lado negativo: a existência de sites e blogues que incitam a violência e propagam imagens impróprias e textos nefastos.

Deve ser vigiada, para segurança dos cidadãos, mas não deve haver, por parte das autoridades, censura, seja de que género for.

Mas sendo quase gratuita – paga-se a quem a fornece, – a utilização do espaço é gratuito, o que obriga as empresas utilizarem publicidade para cobrirem despesas.

É, portanto, compreensível, que tantos sites e blogues tenham anúncios - desde que não sejam ofensivos aos bons costumes, e mostrados de modo a não prejudicarem a leitura de textos publicados pelos responsáveis.

Acontece, porém, que começa a ser praga, a forma como os anúncios são apresentados: cobrindo fotografias, tapando palavras, desvios forçados, que teimam não obedecer, quando se deseja que desapareçam.

Compreende-se a necessidade de recorrer à publicidade paga, mas esta não deve impedir leitura de textos nem apagar palavras e frases.

Deste modo, a Internet, que foi e é considerada autoestrada da cultura e da informação, torna-se, para quem a usa, ato de paciência e constantes arrelias.

Há locais, em sites e blogues em que a publicidade, sendo bem visível, não incomoda a leitura. Por que não utiliza-los?

Por mim não compraria produto que diariamente impede acesso à leitura de textos.

Espero que com tanta publicidade indesejada e arreliadora, não destruam o interesse deste óptimo meio de informação e cultura.

Já é tempo de se saber colocar anúncios, em sites e blogues, sem despersonaliza-los, nem ofender leitores para bem da informação, da cultura e da liberdade.




HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal


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segunda-feira, 16 de março de 2015

BRAGANÇA. AI QUE SAUDADE TENHO !... -Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


  

  
A cidade que conservo na memória, não é a de hoje. A minha há muito morreu, mergulhada no passado. Perdida num tempo que já não é.

O Sol que agora bronzeia, patina, doira vetustas ruas, a cidadela, as velhas pedras seculares, é o mesmo; mas as figuras que animaram o antigo e senhorial burgo, há muito desapareceram num passado que passou.

Todavia vivem, ainda dentro de mim…Renascem em devaneios, em nostálgicos sonos, e persistem aconchegarem-se na alma saudosa.

Lembro-me – melhor se fecho os olhos, – a velha ronceira e embaladora automotora encarnada. Passeava preguiçosa pelos estreitos trilhos, rompendo por cerros fragosos e quase nus. O Tua, lá em baixo, de águas cristalinas, debatia-se exasperado, bracejando, entalado por alcantiladas e escarpadas ravinas de terra ocre, que pareciam despenhar-se à mais leve viração.

Vejo nitidamente a simpática estação ferroviária, toda branca, que acolhia os passageiros, ainda tontos e enjoados pelo baloiçar a que eram forçados.

Vejo, também, a antiquíssima Praça da Sé e o pelourinho, toda lajeada a granito, envelhecido pelos anos e pelo musgo. O casarão branco do Montepio; a pequena e animada livraria do Sr. Silva – sempre cumprimentador, sempre respeitoso: o Café Central, onde em calmas tardes, bebia o Martini, e nas frigidíssimas noites de Inverno, quando o vento soprava da Sanabria, e a fofa e alva neve tudo cobria, saboreava o cafezinho e o inseparável bagaço. Bagaço que só os transmontanos sabiam fabricar.

Chego, agora, ao aristocrático Chave D’Ouro, onde “importantes” cavaqueavam freneticamente, e eu, na flor da idade, estudava inglês e lia e relia Camilo. Livros que obtinha na carrinha da Biblioteca Itinerante, que estacionava, em determinado dia, sobre as sólidas e largas lajes, junto à Sé.




Bragança.jpg




Recordo com emoção o pequeno e familiar Café Lisboa. Sentado, junto ao balcão, escutando os entusiásticos comentários do Sr. Manuel, assisti, em directo, à façanha extraordinária da chegada do homem à Lua.

Lembro-me, ainda – como me lembro!, – ter presenciado a inauguração do Flórida. - Café que passou a ser frequentado pela rapaziada elegante da cidade.

Viajando ao sabor da memória pelas ruas empedradas da cidade, que já não existe, chego à “moderna” Avenida do Sabor.

Nela ficava a casa do Dr. Flores – sempre sisudo, de cara cerrada e de coração generoso, – e a do Dr. Pires, mais a numerosa prole…

Nessa avenida conheci graciosa moreninha, de pele macia e doirada. Cabelo castanho que coruscava ao sol, apanhado em farto rabo-de-cavalo. O olhar irradiava ingenuidade e extrema candura.

Há crianças que não devem crescer. São bênçãos. Anjos que amenizam vicissitudes. Essa era uma delas. Conservo na retina o encantador sorriso e o rostinho angelical.

Dos passeios que dava – e não foram poucos, – não posso esquecer a trilha pitoresca que ladeava o manso Fervença – rio que desce pachorrentamente, no forte do Verão, entre agrestes e escabrosos cerros.




Pelourinho e Castelo de Bragança.jpg




Entranhava por vielas e becos da cidadela, e meditando e rezando, alheado de tudo e de todos, sempre trilhando estreitos carreiros, chegava ao Café Floresta; com o rio, de águas translúcidas, aos pés, e o céu azul profundo, como teto. E sempre o murmúrio das águas… e o murmúrio surdo do silêncio…

Ai que saudade tenho das quentes noites de Estio! Logo que empalidecia o céu, em tons de fogo, e o Sol incendiava-se no horizonte, caminhávamos em grupo para o Jardim António Nicolau d’Almeida, que ficava junto ao rio. Ouvia-se música quase toda romântica. Roberto Carlos era o rei. Pares de namorados, enlevados, passeavam de mãos enlaçadas, cochichando doces palavras de amor…

Perdição para moças casadoiras eram os milicianos do BC3. Chegavam a visitá-los – os de maior patente, – no quartel.

O Batalhão resumia-se a duas ou três casernas mal-amanhadas, cercadas de improvisada vedação. Não havia portas. Não fossem sentinelas, circulava-se livremente.

À hora de almoço, a carrinha vinha receber oficiais e sargentos à Praça da Sé, para os levar até ao morro do quartel.

Agora, no crepúsculo da vida, em horas de nostalgia, escutando o murmúrio longínquo da velha Parca, uma onda de saudade invade-me a alma…e magoa, e fere, e dói…

E a voz que brota dentro do peito, pergunta-me: - Onde estão os que se acotovelavam e pontapeavam-se na raivosa ânsia de alcançar o topo do sucesso?

E a mesma voz sussurra-me: - Repousam o eterno sono… Viveram… mas foi como não vivessem... Lutaram… mas é como não tivessem lutado… A morte igualou – vencidos aos vencedores. Reduziu-os a cinza…a nada.

Tudo morre. Tudo desaparece. Tudo é esquecido…. Tudo se transforma em pó…em poalha de nada.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 14:43
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