sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

AMOR DE INFÂNCIA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






No meu tempo de estudante, tive companheiro, que se tornou intimo amigo. O jovem fora bafejado com traços apolínicos, mas não primava pela inteligência; e somava à desdita, o facto dos pais serem da classe média baixa.

O rapaz conhecera menina, e apaixonou-se. A moça, não sendo de família nobre nem endinheirada, tinha “ nome”, e o bastante para parecer rica.

A rapariguinha, inexperiente na arte de amar, engraçou com ele, demonstrando afeto no olhar, atitudes e atenções.

Deu-se o caso das famílias serem amigas e visitarem-se mutuamente – nessa recuada época era uso fazerem-se visitas e retribui-las, – e as mães, possuidoras de apurada sagacidade feminina, descobriram ou desconfiaram dos encontros furtivos e dos olhos risonhos e brilhantes dos filhos.

A mãe do mocinho rejubilou de alegria, mas o mesmo não aconteceu com a mãe da jovem. Porém, a prudência, aconselhava não revelarem os pensamentos e desejos.

Certa tarde de Primavera - estavam os pequenos nas férias da Páscoa, - encontraram-se para tomarem chá e provarem o bolo de chocolate, feito com receita nova.

A mãe da moça, encaminhou, habilidosamente, a conversa para casamentos.

Disse, que gostava que a filha casasse com médico, pois queria ter na família alguém formado em medicina… A menina, ainda era jovem para pensar nisso - esclareceu, - mas é sempre bom cuidar desde já. Não vá  ser enganada por caçador de dotes…

O rapaz, que tudo ouvira em silêncio, veio contar-me com a tristeza no rosto.

Tocou-me de profunda amargura, o coração, ao confidenciar-me:

“ Se pudesse iria para medicina! …Mas sou burrinho! …Não sirvo para nada!…”

Certo é que a menina esfriou, deixando de corresponder aos ternos olhares do rapazinho; talvez por recomendação materna.

Os anos correram, correram e correram…

Numa tarde chuvosa de Inverno, encontrei o Manel, descendo os “ Clérigos”.

Disse-me que casara e tinha um garotinho de cinco anos.

Falei-lhe da Bélinha. Ficou muito sério, com olhar de espanto, e esclareceu-me, que casara, também.

- “Sabes?... - Confidenciou-me, - nunca a esqueci! Foi paixão entranhada; das antigas! …Daquelas que se cravam no coração… e para sempre ficam…”

Coitado do Manel! …Se tivesse um pouco mais de inteligência e algum dinheiro no bolso ou na bolsa, teria sido o marido ideal da Belinha; a feitiçeirinha que o encantou.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A visão e o aprendizado - Por João Bosco leal *



Quando uma pessoa sentou-se no divã e, diante de Rubem Alves disse: "Acho que estou ficando louca, pois adoro cozinhar, faço isso todo dia e hoje, ao cortar uma cebola, percebi que nunca havia visto uma cebola", ele lhe respondeu: "Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Rubem Alves disse mais: "Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física".
 
Sobre a cebola, Pablo Neruda disse: "Rosa de água com escamas de cristal".

Enquanto Adélia Prado disse "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra", a pedra vista por Drummond deixou de ser uma pedra e virou um poema.

A visão que uma pessoa tem de uma árvore não é a mesma que outra a tem, e nem mesmo daquela própria, se olhada de um ângulo ou em horário diferente. Os ângulos, as sombras e os raios solares provocam visões distintas a cada segundo.

O mesmo ocorre quando relemos um livro que havíamos lido vários anos atrás. Tudo o que vivemos, ouvimos, falamos e aprendemos nesse período, fará com que interpretemos o mesmo livro de maneira totalmente distinta. Trechos pelos quais passamos despercebidamente agora significam muito e, outros, para os quais demos muita importância agora já não nos atraem tanto.

Em determinada ocasião, comentei com um grupo de pessoas, de idades variadas, que estava gostando muito de fotografias, que já havia feito dois cursos, que pretendia fazer outros, e que no domingo anterior havia ido a uma praça exclusivamente para fotografar flores, quando um dos que me ouviam logo disse que fotografar flores era coisa de viado. Nem respondi, porque com pessoas como essas não vale a pena sequer dialogar.

Como homem que viveu a maior parte de sua vida no meio rural, hoje vejo claramente que, na juventude, só queria andar a cavalo, trabalhar o gado, sem jamais procurar saber para que serve uma casca de angico, a cinza do fogão de lenha, a casca de quina, a  folha de unha de vaca, o chá da folha da lixeira e tantos outros ensinamentos que os homens do campo possuem, mas só quando adultos nós procuramos com eles aprender.

 Levei mais de quatro décadas para começar a enxergar coisas pelas quais havia passado a vida toda, sem dar-lhes a menor importância, como a beleza das árvores que se transformavam durante as estações do ano. Secavam, pareciam mortas, depois floriam, semeavam e outras frutificavam.

Aprendi como, nessas estações, os animais também se transformavam. Os pássaros botavam seus ovos, as vacas e as éguas entravam no cio, tudo de modo  que suas crias nascessem na época mais apropriada, quando houvesse mais alimentos, para que as mães, bem nutridas, pudessem também alimentar melhor seus filhos.

Com esse aprendizado, os homens passaram a, imitando a natureza, criar estufas para a produção de flores diversas, irrigar suas lavouras, fazer inseminação artificial em suas vacas e fazer com que seus garanhões cubram suas éguas no tempo correto, para que criem na melhor época.

Esse aprendizado só ocorreu porque alguns "viram" o que ocorria ao seu redor e não somente passaram por lá sem realmente observar o que acontecia. 

Ver é um aprendizado diário para aqueles que possuem olhos ou não.

João Bosco Leal*
*Jornalista e empresário

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

MACAQUINHOS DE IMITAÇÃO - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




 Em meados de Dezembro, deste ameno Outono, em que o Sol ainda doira a cidade do Porto, fui à farmácia da baixa.

Precisava de comprar medicamentos para achaque, que a “ferrugem” da idade e do uso, vai entorpecendo – com dores agudas, – a engrenagem do corpo.

Entrei e dirigi-me ao balcão. Reparei que todo o estabelecimento encontrava-se decorado, com vistosos motivos natalícios: árvore branca, coberta de largas fitas prateadas, e grandes e vistosas bolas, todas vermelhas.

Ao centro, viam-se quatro letras de cartão, capitaneadas por “X”; formavam palavra que me pareceu uma charada; mas alegravam, sem duvida, a loja, já que cada uma continha: pinhazinhas e raminhos verdes, que me pareceram naturais.

Cheio de curiosidade, interroguei a empregada, que era doutora, acreditando nas letras bordadas a azul, na bata branca.

Esta, risonha e solícita, esclareceu-me que era a palavra “Natal“, em inglês. Agora, na América, só se usa o diminutivo…

Pensei, de mim para mim – já que não tinha botões, mas fecho- éclair, nas vestes, –: Que mania, que doença é essa, que nos transformou em macaquinhos de imitação; copiadores de tudo que se usa na terra de Tio Sam! …

Comerciante, lá nos confins do Ocidente, em certa sexta-feira, resolveu saldar, a preço de chuva, o stock; vai os “macaquinhos” repetirem a gracinha, na nossa terra, não se dando ao trabalho de tradução.

Compreende-se: “sexta-feira negra”, não soava bem aos ouvidos dos bacoquinhos nacionais, sempre prontos a caírem de joelhos, ao que se diz e se faz na estranja.

Outrora, no tempo de Eça, e mesmo no meu tempo de menino, tudo vinha de Paris: Era elegante falar francês; usar a moda parisiense; citar escritores franceses…

Avaliando pelos versos de Nicolau Tolentino, essa esquisita doença, já vem de longe…

Agora, a mania, é o inglês. Até as crianças estudam-no na escola, juntamente com a língua pátria.

Mas desculpem-me os leitores do Brasil – sei que são muitos e muitos os estimo, – a macaquice também chegou à vossa terra.

Não falo dos “macaquinhos”, que certa elite intelectualizada, considera cultura (?!); e não me admiro, que venham aparecer, em breve, na Europa, como embaixadores da cultura brasileira…; mas da tendência – não fossem filhos do mesmo pai, - de cobiçarem tudo que se usa no velho continente e principalmente nos Estados Unidos.

O responsável ou responsáveis, pela farmácia, por certo, descobriram numa das largas e modernas avenidas nova-iorquinas, a nova forma de escrever, “Natal”, e considerou ou consideraram, elegante, colocar a “ novidade” na loja, para deslumbrar os bacoquinhos lusos.

Consideraram e com razão. Não somos nós macaquinhos de imitação?!

 Em tudo, apesar de dizerem: que têm novecentos anos de independência; serem soberanos; não receberem lições de ninguém; possuírem cultura incomparável; não passam de “macaquinhos de imitação”: na Música, na Literatura, na Moda, na Arte… e até na Educação…

Eternos complexados…



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

publicado por solpaz às 17:03

domingo, 27 de dezembro de 2015

Detalhes - Por João Bosco Leal*




A cada fim de ano e início de um novo, milhares são os votos desejando felicidades, um ano novo maravilhoso, promessas de mudanças, recomeços e diversas outras formas de alterações são autopropostas. 

Mas, na realidade, a única mudança real que ocorre entre o dia 31 de dezembro de um a no e o primeiro dia de janeiro de outro, é de uma mudança na data do calendário, como qualquer outra de todos os 365 dias do ano que passou ou do que se inicia. 

Assim, nada mais lógico do que imaginar que todas essas felicitações e promessas poderiam ter sido feitas em qualquer um desses dias, mas, normalmente, não o fazemos. Todos os dias, de todos os anos, deixamos de fazer declarações de bem querer, amizade, amor a pessoas próximas, parentes, ascendentes ou descendentes e essas declarações poderiam ter mudado algo na vida delas ou nas nossas, em nosso relacionamento com as mesmas.

Na viagem da vida de cada um, existe a opção de ser o passageiro ou o maquinista do trem, que parará em muitas estações. Pessoas descerão, outras subirão, mas o maquinista continuará sendo o mesmo.

Em cada uma destas estações, teremos a oportunidade de conhecer novas pessoas e de nos despedirmos de outras, mas o maquinista provavelmente nem será visto, continuará sendo um desconhecido. 

Entretanto, é este desconhecido que conduz todos os viajantes daquele trem. Ele pode acelerar mais ou menos, passar lentamente por locais onde existem belas paisagens, permitindo que sejam mais bem admiradas ou passar neste local em uma velocidade que praticamente nada poderá ser visto. 

Como passageiro, você poderá se assustar nas curvas onde, da janela, só verá um precipício a seu lado, sem poder imaginar o que está por vir, se outra curva, uma reta ou até um descarrilamento. O maquinista, porém, tem outra visão. Enxerga onde pode acelerar mais ou menos, quando deve diminuir a velocidade ou mesmo frear repentinamente e quando se aproxima a próxima estação onde parará. 

Se alguém estiver sentado ao seu lado poderá até conversar com ele, se apresentar, puxar assunto, mas na próxima estação, dele provavelmente se despedirá e nunca mais o verá. A viagem da vida também é como esta, só de ida, uma vez que - a não ser que tome novamente o mesmo tem e no mesmo trajeto -, você jamais voltará a ver aquela estação. 

Perceberá, durante sua viajem, que deve mesmo se despedir das pessoas e dos locais por onde passa, pois só são parte daquele momento e já não farão parte do trecho posterior, não se encaixarão mais em nossas vidas.

Aproveite ao máximo cada pedaço da viagem, cada paisagem, diferença de tons, aroma, gota de chuva, alimento e cada inalação de ar puro. Tudo isso jamais se repetirá da mesma forma. 

Assim, quando chegar à estação onde deverá descer, poderá nela desembarcar tranquilo, descansado e, senão com todos, com pelo menos a maioria dos seus sonhos realizados. 

Uma mesma estrada sempre será diferente do dia anterior. Portanto, admire e usufrua de cada detalhe que a vida lhe proporciona.

*Jornalista, escritor e empresário

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O PUDOR DAS CRIANÇAS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

 


Recostada na cadeira de trabalho, em contraluz, diante da mesinha, revestida de toalha cor de canela, que tapa a braseira de cobre – onde, em frias tardes de Inverno, ardem brasas rubras, – a zelosa mãe, de agulha na mão, acerta os calções vermelhos, da filha amada.

Pelas extensas vidraças, viradas para a cidadela, penetra leve claridade, que envolve, a pequena salinha, em doce e deliciosa paz.

Luz desmaiada de fim de tarde de Verão. Lá fora, o céu azul profundo, acarmina- se, esmorecendo lentamente, em violeta – sanguínea e em luminosa poalha de oiro em fogo.

Silêncio.

A pequena salita, adormece lentamente em doce penumbra. Tudo se desvanece num misterioso encantamento: o aparelho de TV; o armário, pintado de branco, arrimado ao fundo; a toalhinha cor de canela, a mãe; os calções encarnados…Tudo se esvanece, esfuma-se, perdido na misteriosa luz acolhedora, de entardecer calmoso.

Vem da cozinha, intensamente iluminada, leve tilintar de vidros e metais; e pairam, no ar morno, adocicados e deliciosos odores a chocolate e açúcar acaramelado.
 É a filha mais velha que tem o bolo no forno.

De súbito, o repousante silêncio – convidativo à sonolência, – é rasgado por harmoniosa voz juvenil:

-“ Mãe!!! … Como se faz chantilly?”

Um sorriso de bondade aflora nos lábios finos da progenitora.

Depõe os calções encarnados, mais a agulha, sobre a mesa, e lançando meigo olhar para a filha – que de mangas arregaçadas, no limiar da porta, aguarda a esperada resposta, – diz:

- “Mistura manteiga com açúcar e bate muito bem…muito bem…muito bem…Depois, junta-lhe um cibinho de…”

Afobada, de braços balanceando, boca a transbordar sorrisos chilreantes, olhos vivos, espertos, luzindo de felicidade, entra a caçulinha, em grande estardalhaço.

Beija de fugida a mãe; abraça-a infectuosamente, como querendo dizer: - “ Gosto muito de ti! …”

Espicaçada pela curiosidade, aos saltinhos, quase pardalita travessa, a menininha interroga, ansiosamente a mana querida:

“O que estás a fazer?!”

Ninguém lhe responde….

Amuada, despeitada, triste, de olhos fixos no vácuo, fica pensativa, a folhear velho caderno escolar, de capa azul, de folhas enodoadas, por muito ter sido manuseado.

Pela escancarada porta de vidro da varanda, entra, trazido pela brisa fresca de fim de tarde calmosa, à mistura com ruídos da rua: guinchos infantis e risos festivos de crianças. São os filhos do doutor ou do Major?

Ao longe, muito ao longe, galos de voz esganiçada, anunciam que começam a ser horas de recolher….

Agora, na salinha, tudo é quase trevas. Na semi-escuridão reluz apenas, na carinha morena, os luminosos olhos castanhos da meiga garotinha, que permanecem parados, tristes e meditativos.

Por sortilégio, quiçá de boa fada, de repente, tudo ganha brilhos e rebrilhos e nítidos contornos.

 Foi a mãe, que vindo da cozinha, acendeu as lâmpadas.

-“ Vamos provar?” – Diz, como se a convidasse

Nesse comenos, toca a campainha.

 Quem será?!

É a D. Flora, professora, amiga da dona de casa.

Dá repenicados beijinhos à menina e à mãe, e atira, com quatro dedos rechonchudos, beijos à que anda à volta com o bolo de chocolate, que rescende.

Conta novidades: casamento da Néné; maroteiras do filho do Dr. Bento; a lotaria premiada, vendida na Praça da Sé…

“Vem menina! …Vem provar!” – Insiste, mais uma vez, a mãe, explicando, à visita, que vão a banhos para Foz de Arelho.

Encolhida, envergonhada, enleada, de faces rosadas, avizinha-se; e esta sem reparar no rosto anacarado de acanhamento, levanta-lhe a saia rodada, deixando as calcinhas, cor-de-rosa, à vista, e a perna nua.

Constrangida, humilhada, por se ver descomposta diante de estranhos, a pequenita fica a balancear: a brincar com os dedos das mãos…Com os dedos dos pés…Acariciando os macios cabelos castanhos de reflexos doirados…; mas as maçãzinhas do rosto, enrubescem-se de pejo…

A mãe é mãe. Não é “gente”. Despir-se diante dela, é normal…;mas na frente de visitas…

Indiferente ao comportamento da filha, nem repara no acanhamento, e continua a conversar – num cavaquear de amigas.

Este quadro familiar, tão simples, tão singelo, tão sem importância, não seria merecedor de registo, senão fosse o embaraço da mocinha.

Os pais, por vezes, esquecem-se que os filhos cresceram…Deixaram de ser garotinhos.

Há mães que pedem a empregadas para darem banho aos filhos, e vestem-nos diante de amigas. Olvidando que o pudor das crianças deve ser respeitado.

 A cena que vos trago, ocorreu há muito e muitos anos, quando os meninos e meninas eram recatados.

Agora, o pudor, parece estar a desaparecer…

O “progresso” deve-se, em parte, ao: ensino misto, à liberdade paterna e mormente à nefasta influência do cinema e TV.

Essa á vontade, por si, não é má nem boa. Mau é quando descamba em libertinagem e desrespeito pelo corpo.     


HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal  



                                                                                                


publicado por solpaz às 18:49
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A amizade e o amor - Por João Bosco Leal*



Em um determinado dia, recebi de meu filho um Whatsapp que dizia: Pai veja essa mensagem: 

Um jovem recém-casado estava sentado num sofá, num dia quente e úmido, bebericando chá gelado, durante uma visita ao seu pai. Ao conversarem sobre a vida, o casamento, as responsabilidades da vida, as obrigações da pessoa adulta, o pai remexia pensativamente os cubos de gelo no seu copo e lançou um olhar claro e sóbrio para seu filho. 

- Nunca se esqueça de seus amigos! - aconselhou. Serão mais importantes à medida que você envelhecer. Independentemente do quanto você ame sua família, os filhos que porventura venham a ter, você sempre precisará de amigos. 

Lembre-se de ocasionalmente ir a lugares com eles; faça coisas com eles; telefone para eles... 

Que estranho conselho! (Pensou o jovem). Acabo de ingressar no mundo dos casados. Sou adulto. Com certeza, minha esposa e a família que iniciaremos serão tudo de que necessito para dar sentido à minha vida! 

Contudo, ele obedeceu ao pai. Manteve contato com seus amigos e anualmente aumentava o número de amigos. À medida que os anos se passavam, ele foi compreendendo que seu pai sabia do que falava. À medida que o tempo e a natureza realizam suas mudanças e seus mistérios sobre um homem, amigos são baluartes de sua vida. 

Só passados cerca de 50 anos, ele realmente entendia o que o pai queria dizer: 

O Tempo passa. A vida acontece. A distância separa. As crianças crescem. Os empregos vão e vêm. O amor fica mais frouxo. As pessoas não fazem o que deveriam fazer. O coração se rompe. Os pais morrem. Os colegas esquecem os favores. As carreiras terminam. Os filhos seguem a sua vida como você tão bem ensinou. 

Mas os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilômetros existam entre vocês. Um amigo nunca está mais distante do que o alcance de uma necessidade, torcendo por você, intervindo em seu favor e esperando você de braços abertos, e abençoando sua vida! 

E quando a velhice chega, não existe papo mais gostoso do que o dos velhos amigos... As histórias e recordações dos tempos vividos juntos, das viagens, das férias, das noitadas, das paqueras... Ah! tempo bom que não volta mais... Não volta, mas pode ser lembrado numa boa conversa debaixo da sombra de uma árvore, deitado na rede de uma varanda confortável ou à mesa de um restaurante, regada a um bom vinho, não com um desconhecido, mas com os velhos amigos. 

Quando iniciamos esta aventura chamada VIDA, não sabíamos das incríveis alegrias ou tristezas que estavam adiante, nem sabíamos o quanto precisaríamos uns dos outros!  

Meu filho termina então a mensagem dizendo: Lembrei-me do senhor, que além de pai, é um grande amigo! Respondi: Obrigado meu filho. Eu também te adoro, como filho e como amigo. Deus te abençoe sempre. E ele: Amém! Bjs! 

Todos sabem o quanto é rara a existência de uma amizade verdadeira e penso que o amor é como uma delas, dessas que durante a vida só conseguimos construir muito poucas, raríssimas vezes. 

O amor surge de uma paixão irresistível, cresce, e só se torna maduro, verdadeiro, após a existência e consolidação da amizade, cumplicidade e companheirismo entre os dois.

*Jornalista, escritor e empresário

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vamos dançar - Por João Bosco Leal*

Os jovens normalmente são muito afoitos em tudo. Quando descobrem os prazeres provocados pela carne, então, são insaciáveis. Parece que o mundo acabará no dia seguinte e sua necessidade de aproveitar ao máximo esses prazeres - e com o maior número possível de pessoas -, chega a ser indescritível. 

Com os anos, vão percebendo que muito do que pensavam ser um prazer, na realidade não foi tanto assim e, depois de ocorrido, muitas vezes pode até provocar uma série de problemas, físicos, de saúde, psicológicos, de repulsa pelo outro ou um enorme arrependimento por ter ocorrido. 

Muitas pessoas que pensavam ser de determinada maneira não o eram. Física, mental, cultural ou moralmente, elas eram um espécie de lixo humano. Mas aí tudo já havia ocorrido e só restava o arrependimento, que muitas vezes perdurará pelo resto da vida, pois em alguns casos elas continuarão próximas, presentes, ou ao menos conhecidas de conhecidos.

Poderão, indefinidamente, fazer comentários maldosos a seu respeito, dizer coisas que ocorreram e outras que não. E só depois de passar por experiências negativas como essas, o jovem começará a perceber que a entrega física a um parceiro ou parceira é algo muito importante para ocorrer com qualquer um. 

Os mais velhos - que já passaram ou viram muitas pessoas passar por diversos problemas ou constrangimentos por terem se relacionado com muitos ou com qualquer um -, sabem que essa entrega física só deveria ocorrer com alguém que realmente valha a pena, não só fisicamente, mas quando for uma pessoa que possua outras qualidades como princípios éticos, moral, e dignidade. 

Sem esse conjunto de atributos, as entregas quase que certamente causarão muito mais arrependimentos que saudades. Entretanto, quando o envolvimento e a entrega, ocorre com alguém com essas características, percebe-se que a espera foi gratificante e que, agora sim, a pessoa vale a pena. 

Aqueles com maior idade, mas que por um motivo ou outro acabaram se casando muito jovens e depois de determinado tempo, por separação ou viuvez encontram-se novamente solteiros - tenho um amigo vivenciando isso -, também passam por essa fase de "liberdade" e, principalmente, por uma busca alucinada por novas experiências de satisfações físicas. 

Mas logo perceberão que isso também não vale a pena, que aquele prazer físico é muito rápido, pouco duradouro e nada construirá. Muito pelo contrário, certamente ocorrerão as mesmas experiências negativas, de arrependimento, de asco pelas pessoas erradas e riscos desnecessários. 

Claro que todos possuem seus defeitos, mas em sua grande maioria, eles têm origem no fato de estarem sós, longe da pessoa que desejam. Passei mais de meio século para encontrar alguém que, ao fim do dia, me provocasse ter vontade de voltar para casa e sempre imaginei que quando esse encontro ocorresse, não poderia, em hipótese alguma, ou por qualquer motivo, ser desperdiçado. 

Entretanto, ao encontra-la, por mais que eu tente, lhe explique que ela é quem busquei por toda a vida, suas dúvidas, questionamentos e os disse-me-disse, não permitem que ela comigo viva esse amor. 

Todos viveriam muito melhor se deixassem de lado a grande maioria das opiniões alheias, suas dúvidas e questionamentos para, diante da pessoa que desejam, dizer: Eu cuido de você e você cuida de mim. Não desisto de você e nem você de mim. 

Entretanto, só sou normal até ouvir tocar minha música favorita. Portanto, deixe tudo de lado e venha dançar. 

João Bosco Leal*     
*Jornalista e empresário