sexta-feira, 18 de maio de 2012

Concessões e doações.


18 de maio de 2012 
 
Por (*) João Bosco Leal
Conversando com um amigo sobre relacionamentos ouvi uma frase que me chamou bastante a atenção: “Com minha idade e as experiências pelas quais já passei, não estou mais disposto a fazer concessões em um novo relacionamento”.

Lembrei-me imediatamente de um texto que escrevi tempos atrás, comparando os relacionamentos a dois tipos de jogos: o vôlei e o frescobol.

No jogo de vôlei, nossa intenção é jogar a bola de maneira mais rápida possível em direção ao piso da quadra adversária e o mais longe possível do outro jogador para que ele não consiga rebatê-la, deixando que a mesma bata no chão e ganhemos um ou dois pontos toda vez que isso ocorre.

No frescobol, como intenção é a de jogar o maior tempo possível, com diversão e prazeres para ambos, jogamos a bola de maneira mais lenta e próxima possível daquele que conosco está jogando, para que ele tenha bastante facilidade de rebater a bola devolvendo-a e o jogo continue, pois se a mesma cair no chão o jogo acaba.

Apesar de algumas semelhanças, como as de serem jogados com raquetes e por duas pessoas, no vôlei medimos força, enquanto no frescobol somos parceiros.

Os relacionamentos são como esses jogos, pois podemos participar deles com atitudes e palavras carinhosas, de amizade, companheirismo, cumplicidade e estímulo, buscando a manutenção e continuidade do mesmo, ou tratando seu parceiro com ações e comentários ásperos, de modo a se tornar o vencedor de algo que não deveria sequer ter disputas, mas parcerias.

Quando uma pessoa pretende se relacionar afetivamente com outra, tornado-se seu amigo, namorado ou esposo e de início já impõe a condição de não fazer nenhum tipo de concessão, certamente não está disposta a prolongar o mesmo e sequer deveria iniciá-lo, pois não existe relacionamento sem concessões ou que sobreviva a uma política de estilo comercial, de negociações, condicionando suas atitudes a outras de sua parceira.

Não existem duas pessoas idênticas que pensem e ajam exatamente da mesma maneira, que gostem das mesmas coisas, alimentos, ambientes, climas, nos mesmos horários e com a mesma frequência. Elas foram criadas em locais e por pessoas diferentes, estudaram, se formaram, trabalham, possuem projetos de vida e se vestem de modo totalmente distintos.

É de se esperar, portanto, que pensem, desejem coisas e busquem objetivos distintos, o que tornaria sua convivência impossível sem concessões mútuas que faça aproximar suas maneiras de pensar, seus desejos e ambições.

Só com a maturidade percebemos que as concessões precisam ser uma constante, que sem elas nada permanece, mas com elas a amizade cresce e se aprofunda, surge o companheirismo e a cumplicidade nos relacionamentos entre pais e filhos, de amizades, afetivos ou comerciais.

E aprendemos também o valor das doações nos relacionamentos, pois só dando carinho, amizade, amor e dedicação, conseguimos ajudar na construção da felicidade dos que estão do nosso lado que, felizes, também buscarão promover a nossa felicidade.

Sem a intenção de fazer concessões e doações, não devemos sequer iniciar um relacionamento, pois o mesmo certamente fracassará.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.



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