Andava a Dona Luísa de Gusmão preocupadíssima, porque as décimas que cobrava, mal davam para governar o reino.
Estando, certo dia, a lamentar-se diante de Luís de Vasconcelos e Sousa, Conde Castelo Melhor, prontamente, este, lhe respondeu:
- Medite Vossa Majestade, no que vai ver.
Pegando no areeiro, despejou-o nas mãos. Depois, solicitou, aos presentes, que passassem a areia de mão em mão, até chegar às da rainha.
Estupefacta com o estranho gesto, interroga-o sobre o significado da inusitada atitude.
O Conde de Castelo Melhor, empertigou-se e solenemente declarou:
- Saiba Vossa Majestade, que ao dinheiro das décimas, acontece o mesmo que à areia deste areeiro. Passando por tantas mãos, foi ficando pegado a elas. Quando a rainha recebe o dinheiro, está tão diminuído, que mal chega para as despesas.
Este curioso e verídico diálogo, é narrado por Rebelo da Silva, no Tomo II, do livro: “ A Mocidade de D. João V “.
Disse, e disse bem, o Conde de Castelo Melhor, à rainha Luísa de Gusmão: o dinheiro do Estado, até chegar a quem governa, passa por tantas mãos, que a maioria se perde nos intermediários.
Assim acontece em muitos países, que permanentemente se encontram endividados: uns, porque são corruptos; outros, porque quem governa, se não sabe governar sua casa, como podem governar a nação?
Disse a antiga Ministra das Finanças de Portugal, a Dr.ª Ferreira Leite, numa entrevista televisiva: toda a boa dona de casa, sabe governar um país: basta não gastar mais do que se recebe.
Mas, se há já poucas donas de casa, também poucos políticos há, que saibam governar, em justiça e rigor: A ambição, o fascínio, pelo poder, o receio de perder eleições, tolda a razão de quase todos.
Para mal dos políticos, não lhes faltam bajuladores, em busca de benesses: querem ser diretores – gerais, ministros, e administradores de empresas rendosas…
Conta-se que Salazar, após tratar negócios da nação, com um dos seus ministros, logo que fechou a porta do palácio de S. Bento, voltou-se para a governante, D. Maria de Jesus, e desabafou:
- Acaba de sair um grande ladrão!
Ao que a empregada, com a confiança que tinha – servira Salazar desde que o estadista era estudante, – retorquiu:
- Por que não o manda prender!?
- Para quê!? - Respondeu Salazar. - Ao menos este já roubou o que tinha que roubar…
A explicação do Conde Castelo Melhor, sobre o destino das décimas da rainha, é sempre atual, e serve para todos os reinos…e repúblicas.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 10:19
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