8 de março de 2013
João Bosco Leal
Além
de observar muitas pessoas passar pelos mais diversos tipos de
experiências de vida, tenho pessoalmente sentido que os relacionamentos
humanos são os que possibilitam a maiores diversidades e dificuldades.
Amizades verdadeiras, por serem raras,
normalmente só promovem alegria, boas lembranças e momentos de
felicidade. Entretanto, quando por algum ou muito tempo uma pessoa se
comporta como amigo e posteriormente mostra que na realidade não era,
provoca enorme decepção e frustração pelo que a ela dedicamos.
Os relacionamentos amorosos,
principalmente no início, antes do aparecimento das discordâncias comum
entre duas pessoas, também nos dão muito prazer.
Quando ocorrem, inicialmente tudo gira
em torno dos sorrisos, gentilezas, amabilidades, até que vai se
acalmando, aproximando-se mais da realidade, e os olhos antes vendados
pela paixão vão se abrindo, enxergando particularidades, detalhes.
A partir da extinção da paixão, é bem
possível que ocorra um afastamento gradual que levará ao término do
mesmo ou, bem mais raro, que esta vá se transformando em algo bem mais
maduro e profundo, o verdadeiro amor.
Entre os de mesmo sangue, pais e filhos,
avós e netos, tios e sobrinhos, irmãos, primos e primas, as maiores ou
menores discordâncias é que vão determinando as afinidades que existirão
entre os mesmos, desde a infância até o final de suas vidas, mas aquele
tipo de afinidade que leva a uma amizade verdadeira ocorre bem mais
facilmente entre pessoas sem nenhum vínculo familiar do que entre
parentes.
E quando menos se espera ocorrem
surpresas nessa área, pois as pessoas se decepcionam com determinadas
atitudes – ou falta delas -, por parte daqueles que imaginavam serem
amigos e outros que não imaginávamos surgem, como que do nada, e se
tornam verdadeiros amigos.
Quando, em decorrência de um acidente,
estive de cama por dois anos, pude sentir isso com muita clareza. As
surpresas ruins em relação ao que imaginava fossem amigos foram várias,
mas foram facilmente superadas pelas boas dos que não imaginava,
surgiram e que, por serem mais verdadeiras, permaneceram.
Como na parábola do trem, dessa forma
muitas pessoas entram nos vagões de nossa vida e, livremente, fazem suas
opções, escolhendo a estação para descer, se continuarão ou não
viajando conosco, e por quanto tempo. Alguns estarão ao nosso lado por
um breve período, entre uma e outra parada, mas outros poucos
permanecerão por um período bem mais longo, acompanhando-nos nas subidas
e descidas, nas retas e curvas, nos climas de verão ou inverno.
Mesmo que durante a viagem ocorram
algumas discordâncias, com o tempo o passado será esquecido e as dores
desaparecerão. Sem pressa, observando e sendo pacientes, notaremos que
aqueles que tiverem de ficar ficarão e os que não forem verdadeiros
naturalmente nos deixarão.
Assim, apesar de por um período muitos
estejam por perto, ao nosso lado acabam ficando somente os mais
importantes, aqueles por quem – reciprocamente -, mais sentimos
afinidades. Serão poucos, mas com eles perceberemos possuir interesses,
objetivos e parâmetros morais comuns, o que, independentemente do tipo
de relacionamento, facilitará muito a convivência e a permanência dessa
união.
Durante a vida sempre teremos mais segurança e prazeres, ao lado de quem possuímos mais afinidades.
(*) João Bosco Leal -
jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural
e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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