domingo, 24 de março de 2013

O VALOR DO ASPECTO - Por HUMBERTO PINHO DA SULVA











      Conheci na minha mocidade afável senhora, de elevada cultura, professora de profissão, que quando escutava elogios ao saber de um médico, logo inqueria, muito interessada, a marca da viatura que usava.

      Se o automóvel era de alta cilindrada e preço elevado, logo o considerava uma sumidade; mas se o pobre clínico viajava em transporte público ou carro utilitário de baixo custo, por mais competente fosse o diagnóstico, não passava, para ela, de reles entendido.

      Se a senhora avaliava a competência, pela viatura, outros costumam ajuizar pelas marcas que vestem.

      Talvez seja a razão de políticos popularuchos, usarem gravata e camisa social, no parlamento, e desgravatarem-se diante de sindicalistas e trabalhadores.

      Para outros, quiçá não menos cultos, que a senhora da minha juventude, os valores dos homens mede-se: pelo lugar que ocupam e casa que possuem.

      Desse pensar, encontram-se os emigrantes e novos-ricos, que constroem mansões, onde não falta conforto e piscina, mesmo não sabendo nadar.

      Assim se avaliam os homens – pela aparência, bens que possuem e cargos que ocupam.

      Muitas vezes dá-se mais crédito a vigarista bem encadernado, que a honesto trabalhador,

      O valor dos homens, não está nas vestes, nem nos bens que possuem, mas sim: na educação, na forma como lidam com o semelhante, e nos conhecimentos que têm; mas muitos não compreendem isso.

      Jesus não foi bem aceite pelos patrícios, porque o “Pai” era pobre carpinteiro, e os parentes humildes artistas.

      Como poderia, o filho de carpinteiro, sem ter tido mestre famoso, ser respeitado e aplaudido na terra natal?!

      Não era ele operário e seus discípulos trabalhadores braçais!?

      Como no tempo de Jesus, também nós, dois mil anos depois, avaliamos os homens, não pelo que são, mas pelo modo: como se vestem, pelos cursos que possuem, pela família que pertencem e pelo lugar que ocupam na sociedade.

      Por isso, tantas vezes nos enganamos!


HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

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terça-feira, 19 de março de 2013

A PÁSCOA EM PORTUGAL HÁ MAIS DE CINQUENTA ANOS








Por Humberto Pinho da Silva







Depois dos dias fúnebres da Semana Santa, chegava o alegre domingo de Páscoa. A ressurreição de Jesus.

Nas nossas aldeias - que eram relicários de tradições, - os cristãos agrupavam-se no templo, entoando jubilosos hinos e aleluias. Do alto de rústicos campanários, tangiam festivamente os sinos, em animada e pueril gralheada.

Saiam os compassos, cada um com sua cruz alçada. Envergando alvas opas, homens acompanhavam o prestimoso abade ou seminarista, que levavam o Senhor de casa em casa.

Tapetes de verdes e flores, vestiam toscos caminhos e soleiras de entrada, que devotas mulheres colhiam com carinho e Amor.

Estalejavam alegremente foguetes, em alarido desenfreado; e alvoraçados cachorros, em roda-viva, pareciam, também, dizer: Chegou a Páscoa!... Chegou a Páscoa!...

As famílias reuniam-se à mesa, que permanecia coberta de branquíssima toalha, com o tradicional folar, amêndoas cobertas de açúcar, pão-de-ló e vinho fino.

No meu tempo de menino, no Sábado de Aleluia, nas igrejas, retiravam-se os panos roxos que recobriram as imagens, nos dias tristes de Quaresma. Os altares, que permaneceram despidos, engalanavam-se nessa hora de alvíssimas toalhas e vistosas flores de cores garridas, enquanto os sinos soavam ao desafio, em animada e ruidosa desgarrada.

Nas ruas, grupos de rapazes e moças, confeccionavam boneco de trapos, que suspendiam num poste. Era o “Judas”. Boneco que recolhia na pança, numerosas bombas carnavalescas, e lembrava certa figura, em regra, pobre diabo, bombo de festa do garotio.

Pegava-se, então, fogo aos pés, e para gáudio de todos, assistia-se ao queimar do “Judas”, que estourava entre gritos e palmas da rapaziada.

Nesse tempo, no dia de Páscoa, os afilhados visitavam os padrinhos, levando-lhes raminho de flores ou de oliveira, benzido em Domingos de Ramos.

Estes retribuíam com amêndoas ou dinheiro. A isso, chamava-se pedir o folar.

Em terras montanhosas, nomeadamente em Trás - os - Montes e Beiras, folar era, e ainda é, gigantesco bolo, recheado a carne, que tinha, por vezes, feitio de alguidar.

Mais romântico e citadino, eram as caixinhas de porcelana, que os namorados ofereciam com amêndoas. Eram de todos os tamanhos e feitios, algumas de grande beleza.

Bem diferente se comemora, nos nossos dias, o tempo pascal. Poucos são os que participam e vivem as cerimónias da Semana Santa; as velhas tradições quase desapareceram e, sem elas, morre um pouco da alma portuguesa, as raízes que a identificam.




segunda-feira, 18 de março de 2013

"Poema Informatizado" – Por Fernando Bandeira





 
Acessar o coração,
clicar o sentimento,
salvar o respeito,
“deletar” o ódio,
digitar a compaixão
e enviar a esperança
com o amor “on-line”.


Notas do administrador deste blog:
1-Juro que não estou dando bandeira (como se costuma dizer, quando alguém dá uma dica), só estou convidando o leitor para acessar o blog do Fernando.

2-) Gostaria que o autor desse desenho me informasse o seu nome para eu divulgá-lo e, caso desautorizar a publicação do seu trabalho, manda-me dizer para que eu o exclua do meu blog, pois me parece tratar-se de domínio público sem reserva de direitos autorais.

domingo, 17 de março de 2013

Quem realmente ama - Por João Bosco Leal(*)



15 de março de 2013 
João Bosco Leal
Casal 08Mesmo que simplesmente por instinto de preservação da espécie, desde a juventude, todo ser humano está em busca de um grande amor, com quem possa constituir uma família e envelhecer junto.

Durante essa busca, surgem pessoas bastante diferentes, oriundas de diversos locais, com graus de educação, instrução, posições econômica e social totalmente distintas das suas.

Bastante comuns, as mentiras, deslealdades e traições, quando descobertas, não permitem a sobrevivência de nenhum relacionamento sadio. Por estes motivos, sempre fui e serei um apaixonado pela transparência e lealdade em tudo, o que certamente dificulta as tentativas e, consequentemente, os acertos.

Mas a continuidade das buscas aumenta as possibilidades dos relacionamentos serem mais duradouros, abrindo a possibilidade esperada de uma paixão se transformar em amor.

É o que me faz estar sempre buscando, pois a vida, a honestidade, o trabalho e as mulheres, admito, são minhas grandes paixões.

Desde a infância são elas – as mães -, que nos transmitem os primeiros ensinamentos e o aprendizado, nossos maiores tesouros, pois aqueles que aprenderam mais sempre terão maiores chances.

Tenho paixões ideológicas e por alguns hobbies – como as motos -, mas com as mulheres, mesmo aquelas da infância e juventude, a intensidade com que costumo viver minhas paixões é sempre enorme, vibrante, o que me torna um eterno apaixonado, encantado por elas.

Apesar de algumas experiências piores e independentemente do tempo que duraram, não me arrependo das paixões que tive por nenhuma das mulheres que passaram por minha vida.

Com todas pude aprender algo e mesmo que a convivência não tenha continuado, valeu a pena pela experiência que pude adquirir.

Cada uma me mostrou seus erros e acertos e apontou os meus, de modo que, corrigindo aqueles em que concordava estar errado, e evitando aproximação de pessoas que possuíam os mesmos da anterior, pude ao menos tentar melhorar a cada novo relacionamento.

Penso que devemos continuar buscando, nos apaixonando, mesmo que na maioria das vezes errando, até encontrarmos o amor que tanto desejamos.

Apesar de hoje eu ser, praticamente, um sexagenário, confesso que, até agora, só por uma pessoa senti esse amor verdadeiro, maduro e profundo, tão maravilhoso, sublime, que só quem já o viveu pode descrever.

Nele não há cobranças, segredos ou dúvidas, mas transparência, cumplicidade, amizade, carinho e liberdade. A integração é tanta que não há lugar para a palavra “eu”, mas só para “nós”. Os planos, ideias, projetos, dúvidas, medos e aflições são totalmente compartilhados.

Quem já viveu algo assim não aceita mais uma relação onde isso não ocorra. Procura alguém que queira viver o mesmo ou algo ainda maior, o que torna a nova busca quase impossível.

É raro encontrar um amor verdadeiro, mas a procura é deliciosa e mesmo com os erros, sentimos, aprendemos, vivemos e a recompensa, quando o encontramos, surge em forma de milhares de emoções fascinantes.

Quem realmente ama, da vida nada quer além de viver esse amor.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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terça-feira, 12 de março de 2013

A CRISE DO AMOR - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


 










Passamos tempo de crise; ao desmoronar da civilização alicerçada no cristianismo.

É portanto natural, que também o amor esteja em crise; e está em crise, porque só se fala de satisfação sexual, como se o matrimónio fosse apenas sexo.

No casamento há: respeito, partilha, carinho, auxílio mútuo. Casa-se por amizade, para não se viver só, e também para possuir felicidade sexual.

O tempo de namoro serve para se conhecer o outro: modo de vida e pensar, nada mais do que isso.

O apaixonado, tende apartar-se do mundo, para viver o amor. Para ele o ser amado, basta. O pensamento fixo, que lhe tomou o cérebro, borboleteia só ao redor do eleito.

Enquanto procura descobrir o outro, a paixão cresce, domina-o, mas se a intimidade ultrapassa as licitas balizas, o encanto, a magia do amor, esfuma-se.

Se nada mais há a descobrir, a revelar, a conhecer, a paixão mais excitante, esfria e acaba por morrer.

Se o outro possui forte personalidade, espírito elevado, que constantemente surpreenda, a paixão ainda pode permanecer, assente na amizade ou orgulho e amor-próprio.

Infelizmente poucos são os que têm qualidades que “ atraem” ou “aguçam” a curiosidade, para além da intimidade física.

Se tivesse que aconselhar, recomendaria: que não pedissem ou dessem provas de amor, nem realizassem experiências pré- nupciais; não por motivos religiosos; mas satisfeita a curiosidade, o interesse diminui, se não há “valores” que activem e despertem a “amizade”.

A vida a dois constrói-se pedra a pedra: com cedências, elogios,, paciência e dedicação.

Alimenta-se, com presentes não pedidos, jantares não esperados, flor entregue com  ternura em momentos especiais.

Palavras mágicas, como: “Amo-te”, “Gosto muito de ti”, e expressões ternas, são bálsamos, que quem ama, não pode esquecer.

Os olhos também falam. Carlos Schmitte, assevera: “ Os olhos não enganam ninguém. E como um espelho: reproduz com exactidão o que se passa no coração.”

O tempo de enamoramento, mesmo em anos serôdios, se é puro e sincero, rejuvenesce o espírito e aformoseia o corpo.

Mesmo quando acontece na infância, ainda que não seja “ amor”, mas desejo de “ser amado”, é recordado e vivido, muitas vezes, no crepúsculo da vida, com ardor e saudade imensa.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



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sexta-feira, 8 de março de 2013

Afinidades - Por João Bosco Leal (*)


8 de março de 2013 
João Bosco Leal
Amizade xAlém de observar muitas pessoas passar pelos mais diversos tipos de experiências de vida, tenho pessoalmente sentido que os relacionamentos humanos são os que possibilitam a maiores diversidades e dificuldades.

Amizades verdadeiras, por serem raras, normalmente só promovem alegria, boas lembranças e momentos de felicidade. Entretanto, quando por algum ou muito tempo uma pessoa se comporta como amigo e posteriormente mostra que na realidade não era, provoca enorme decepção e frustração pelo que a ela dedicamos.

Os relacionamentos amorosos, principalmente no início, antes do aparecimento das discordâncias comum entre duas pessoas, também nos dão muito prazer.

Quando ocorrem, inicialmente tudo gira em torno dos sorrisos, gentilezas, amabilidades, até que vai se acalmando, aproximando-se mais da realidade, e os olhos antes vendados pela paixão vão se abrindo, enxergando particularidades, detalhes.

A partir da extinção da paixão, é bem possível que ocorra um afastamento gradual que levará ao término do mesmo ou, bem mais raro, que esta vá se transformando em algo bem mais maduro e profundo, o verdadeiro amor.

Entre os de mesmo sangue, pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, irmãos, primos e primas, as maiores ou menores discordâncias é que vão determinando as afinidades que existirão entre os mesmos, desde a infância até o final de suas vidas, mas aquele tipo de afinidade que leva a uma amizade verdadeira ocorre bem mais facilmente entre pessoas sem nenhum vínculo familiar do que entre parentes.

E quando menos se espera ocorrem surpresas nessa área, pois as pessoas se decepcionam com determinadas atitudes – ou falta delas -, por parte daqueles que imaginavam serem amigos e outros que não imaginávamos surgem, como que do nada, e se tornam verdadeiros amigos.

Quando, em decorrência de um acidente, estive de cama por dois anos, pude sentir isso com muita clareza. As surpresas ruins em relação ao que imaginava fossem amigos foram várias, mas foram facilmente superadas pelas boas dos que não imaginava, surgiram e que, por serem mais verdadeiras, permaneceram.

Como na parábola do trem, dessa forma muitas pessoas entram nos vagões de nossa vida e, livremente, fazem suas opções, escolhendo a estação para descer, se continuarão ou não viajando conosco, e por quanto tempo. Alguns estarão ao nosso lado por um breve período, entre uma e outra parada, mas outros poucos permanecerão por um período bem mais longo, acompanhando-nos nas subidas e descidas, nas retas e curvas, nos climas de verão ou inverno.

Mesmo que durante a viagem ocorram algumas discordâncias, com o tempo o passado será esquecido e as dores desaparecerão. Sem pressa, observando e sendo pacientes, notaremos que aqueles que tiverem de ficar ficarão e os que não forem verdadeiros naturalmente nos deixarão.

Assim, apesar de por um período muitos estejam por perto, ao nosso lado acabam ficando somente os mais importantes, aqueles por quem – reciprocamente -, mais sentimos afinidades. Serão poucos, mas com eles perceberemos possuir interesses, objetivos e parâmetros morais comuns, o que, independentemente do tipo de relacionamento, facilitará muito a convivência e a permanência dessa união.

Durante a vida sempre teremos mais segurança e prazeres, ao lado de quem possuímos mais afinidades.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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terça-feira, 5 de março de 2013

O QUE FAZ FALTA… É LIVRINHO DE CIVILIDADE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


 








          Nesta quadra festiva, que passou, recebi Boas-Festas de jornalista brasileira, via Internet. Conforme é meu costume, prontamente agradeci, retribuindo, igualmente, um Santo Natal.

          Para minha surpresa, decorrido dias, abri nova menagem da jornalista, agradecendo ter respondido.

          É tão raro o agradecimento, que já se fica penhorado por essa elementar regra de etiqueta.

          Quando era rapazinho ia de férias, com meu pai, no mês de Agosto, para o Vale da Vilariça.

          Não haviam ricos ou pobres que não nos convidassem para almoçar ou merendar em sua casa. Até as autoridades punham viaturas à disposição, para que o jornalista, filho adoptivo de Vila Flor, não faltasse aos convites.

          Lamentava depois, meu pai, ao regressar, que todos se esqueciam dele: nem carta, nem telefone, nem cartãozinho de boas-festas, pelo Natal!

          Cumpria-se o que diz o ditado:“Longe da vista, longe do coração”.

          Várias vezes, em crónicas, lamentei que a ingratidão esteja  em moda, e  dos que, sentindo as algibeiras carregadas de moedas, esquecem-se daqueles que lhes dispensaram carinho e amor; mas penso que nunca dei solução para o descuido.

          Pois aqui vai, para quem não teve a sorte de nascer em família educada, conhecedora das regras que lubrificam as relações humanas:

          Há à venda livrinhos, que ensinam como se deve portar em todas as ocasiões. Alguns, mais completos, explicam, o trajo ideal para certas cerimonias, e até incluem exemplos de correspondência.

          Já que as escolas não ensinam as elementares regras de civilidade, e as famílias - mesmo as que dizem serem da alta sociedade, -   não têm tempo para isso, seria bom que cada um fosse à livraria mais próxima, e pedisse exemplar de livrinho de civilidade e etiqueta.

          Creio, que se todos o lessem e pusessem em prática os ensinamentos, as relações interpessoais, seriam bem melhores, e a vida de todos, tornar-se-ia mais suave e mais fácil.





HUMBERTO PINHO DA SILVA   -    Porto, Portugal



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