Lilica é cachorrinha vira lata. Não tem dono, nem casa, nem casota, para se abrigar. Vive desamparada, em imunda lixeira.
Cansados da cadelinha, abandonaram-na em local onde abunda ferro velho e velhos utensílios imprestáveis.
Ficou só, triste, perdida entre asquerosos desperdícios, entre animais muito magrinhos, muito enlameados, muito raquíticos., que vegetavam, ruminando comida suja e deteriorada.
Para aumentar a desdita, teve oito encantadores cachorrinhos, que eram seu enlevo. Mas, se o alimento escasseava para ela, como iria saciar a fome dos filhinhos queridos?
Como mãe, e mãe carinhosa, sabia que competia-lhe a obrigação de cuidar dos filhotes.
Desesperada, de coração contrito, abala, em busca do sustento, por ruas e becos da cidade.
Depois, mais afoita, caminha, cautelosamente, por movimentada estrada. Conhece a indiferença, a maldade, os sentimentos cruéis dos humanos.
Se nada fizer, seus filhos morrerão. Mergulhada nesse aflitivo pensamento, procura, busca, pede, suplica. É mãe, e como mãe extremosa, ama os filhotinhos.
Quis Deus; sim quis Deus, porque, como dizia o Santo de Assis, os animais também são criaturas do Omnipotente, que deparasse com quem a compreendesse.
Terminada a farta e saborosa refeição, Lilica lembrou-se dos filhinhos, que lá longe, esfomeados, aguardavam seu regresso. Tenta, sem êxito, arrastar a saquita, que continha a apetitosa comida. Depois, desanimada, volvendo o focinho, atira olhar suplicante para a benfeitora.
Entenderam-na, e caridosamente, ataram a saquinha plástica.
Por curiosidade ou amor, vão no encalço, no propósito de descobrirem onde morava.
Galga dois quilómetros, pela borda da estrada, sempre com a saquinha bem presa nos dentes, e vai depositá-la junto dos filhos, que ansiosamente a esperavam.
Os cachorrinhos cresceram. Foram adoptados; mas Lilica, recorda que no ferro-velho há animais indefesos, que precisam dela.
E assim, diariamente, pela quietude da noite, quando o movimento acalma, embuçada na negridão da noite, trilha a estrada, evitando assim a crueldade da molecagem, para tomar a refeição, que benfeitora prepara com ternura e amor.
Abarca depois a saca, e percorre dois perigosos quilómetros, para chegar ao local onde os esfomeados animais a esperam.
O gesto altruísta, já é admirado e divulgado, por todos que se sensibilizam com a atitude, de extrema caridade, da humilde Lilica. A meiga cachorrinha bem merecia – a exemplo do que se passa noutros países, por gestos menos nobres – que a população e o Município de São Carlos, erguesse, como exemplo para a juventude, monumento, em praça pública da cidade, para que não se esqueça o extraordinário gesto de bondade, da pobre cachorrinha.
Bem queria que todas as mães fossem tão carinhosas e tão altruístas, como a rafeira de São Carlos.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 17:29
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