Em tempos de mocidade - e
já lá vão muitos anos, - assisti a interessante colóquio, na Casa dos
Jornalistas e Homens de Letras do Porto, com o escritor Joaquim Paços
d’Arcos, sobre o romance que acabara de publicar: “Ana Paula”.
Após minuciosamente ter
exposto o enredo do livro e abordado a figura da protagonista, foi
interrompido pelo crítico Óscar Lopes, lembrando -lhe que o romancista
não entendera bem a personagem Ana Paula.
Joaquim Paços d’Arcos emudeceu por momentos, e em aparte murmurou: - “Não saberei o que escrevi!?…”
Era jovem e nutria por
Óscar Lopes, respeito e admiração, não fosse ele coautor da História da
Literatura, adotada no liceu, mas não entendi o propósito da
intervenção, quiçá devido à minha pouca idade.
Acabo de receber “ O
Varzeense” , logo na capa deparo com brevíssima biografia de Óscar
Lopes, de Aniceto Carmona, declarando que paralelamente com a atividade
de professor, foi militante comunista do PCP, desde 1945 - “O
Varzeense”,15/2/2012.
Logo saltou-me ao pensamento se o parecer do crítico não teria a ver com ideologias políticas, atitude frequente no nosso país.
Esclareceu-me o matutino
portuense, pela pena de Manuel António Pina, em que este diz que o
Suplemento Literário do “JN” terminou por “ não ter sido devidamente louvado um medíocre romance do escritor do regime Joaquim Paços d’Arcos - “Jornal de Notícias, 26/0l/2012.
À distância de cinco
décadas não posso asseverar, se Óscar Lopes tinha ou não razão para essa
atitude, fico na dúvida, mas se tivermos em conta o ensaísta Cruz
Malpique - não há em Portugal, crítico honesto, e creio que será difícil
que o haja noutros países: “ A crítica entre nós, é a impressão
escrita sobre os joelhos, com a pressa de quem vai salvar o pai da
forca; escrita por amizade, ou por antipatia; as nem sim nem sopas; a de
ajuste de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho do
meu pai!); a de ciúmes recalcados…” - “Notícias de Guimarães”, “Crítica Literária”, 04/10/91.
Bem disse Pedro de Moura e Sá - se dissermos que: “ este poema é mau queremos muitas vezes afirmar que o autor pensa, em matéria política, de maneira diferente da nossa.” - “ Vida e Literatura” (Vol. Póstumo, pág. 101/2.)
É bem verdade, que sem
proteção de um gato de botas, dificilmente chega-se Marquês de Carabás.
Assim pensa também Jorge Sampaio (ex-Presidente da República) ao
asseverar que nunca foi: “ da Maçonaria, da Igreja ou de qualquer
grupo económico. Chegar onde cheguei, nestas condições é obra. Porque é
muito difícil ser independente em Portugal.” - “Única”, citado pelo “ Jornal de Tondela”, 31/08/06.
Jorge Sampaio é destacado membro do maior partido português. Se o não fosse, chegaria onde chegou?
Termino com antigo rifão,
citado na “ Corte na Aldeia”: “ Cada um dança segundo os amigos que tem
na sala” - se não tem, não dança.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:41
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