sábado, 20 de agosto de 2011

Direitos e limites

19 de agosto de 2011 por João Bosco Leal

Por João Bosco Leal

Estava praticamente chegando ao final de uma viagem que fazia com meus três filhos, quando fui parado por um policial rodoviário federal. Como solicitado, entreguei a ele meus documentos pessoais e os do veículo.


Depois da vistoria geral do veículo o policial, ainda com os documentos em mãos, me perguntou de onde eu vinha. Respondi: de longe. Ele então insistiu, para onde vai? Respondi: Para mais longe ainda. Minha esposa ficou assustada e me cutucou para que eu respondesse as perguntas corretamente.


Disse a ela, em tom alto o suficiente para que o policial também ouvisse que eu o estava respeitando em toda a plenitude de seus direitos, entregando-lhe os documentos solicitados e acatando qualquer decisão dele em relação ao seu trabalho, inclusive de me multar se eu tivesse feito algo ilegal, mas que eu não tinha a obrigação de informar de onde vinha ou para onde iria, pois aquele não era mais o papel e nem o direito dele.


Minha intenção, naquele momento, jamais foi a de desacatar o policial, mas ensinar meus filhos que, em qualquer situação, nunca deveriam abrir mão de seus direitos. Já se passaram aproximadamente 30 anos do ocorrido e continuo pensando da mesma forma. Não podemos invadir o direito de nenhuma pessoa, independentemente de sua posição religiosa, educacional, cultural ou profissional e nem permitir que nenhum espaço do nosso direito seja invadido.


Respeitar direitos muitas vezes significa abrir mão, se desprender de algo que julgamos ser nossos- como os filhos-, quando na realidade só o que podemos fazer é educá-los enquanto pequenos, encaminhar seus estudos e acompanhá-los até que possam alçar vôo próprio.


Já na juventude ou até antes dela eles já nos mostram que possuem vontade própria, desejos e objetivos diferentes dos nossos. Por sua imaturidade muitas coisas precisam ser controladas, contrariando-os, encaminhando-os por mais um período, para que possam amadurecer mais e aí sim, cobrar seus direitos.


Nessa fase já precisam estar preparados para, na vida em sociedade, exigir o respeito por seus direitos, mas também, claro, respeitar o das outras pessoas. E, se muitos deles tomarem para si esse princípio e continuarem, com a educação dos próprios filhos, certamente em algumas décadas teremos um país bem melhor.


Certa vez ouvi de uma pessoa já bem mais idosa, muito experiente, sábia e com quem aprendi muito, que as ações individuais são propagadas como as ondas criadas na água quando atingida por uma pedra. Na primeira propagação é um círculo pequeno, empurrado para mais longe pelo segundo, que é empurrado pelo terceiro e assim sucessivamente até que o efeito do impacto da pedra na água deixe de tumultuar o local do impacto.


O choque inicial diminui à medida que a pedra se distancia, aprofunda na água e nenhuma onda será provocada depois de certa profundidade. Sem a geração de novas ondas a tranquilidade da água vai voltando desde o local inicial até atingir a margem que havia recebido todas as ondas.


Como no lago, a paz volta quando toda a propagação, de uma nova idéia, regra, ação, ou atitude política foi totalmente absorvida pela sociedade. A exigência do respeito a seus direitos e a observância dos direitos alheios deveria ser posta em prática do mesmo modo, partindo da educação dos jovens em casa, que criará uma onda na escola, no bairro, na cidade, município e assim por diante.


A cobrança por seus direitos e o respeito pelo dos outros é um exercício diário, difícil, mas se todos sempre o exigissem, em quaisquer situações, certamente teríamos convivências muito mais pacíficas e harmoniosas entre as pessoas, os países e os continentes.


Clique aqui para conferir no site do autor, esta matéria recebida por e.mail

Um comentário:

  1. João,


    Vou lhe contar um episódio idêntico por qual eu passei. Certa vez regressando de viagem, debaixo de uma chuva intensa, fui barrado num posto da Polícia Rodoviária Federal. O policial me fez as mesmas perguntas depois de me pedir documentos:

    Faz tempo que o Sr. não passa por esta rodovia? De onde o sr. está vindo?

    O sr. vai para onde?

    Pois bem, depois de lhe responder, o policial me avisou para tomar cuidado com um determinado trecho da rodovia para onde eu estava indo, porque estava sendo recapeada com massa asfáltica, e que ele tinha acabado de receber essa informação. Disse ainda que uma viatura da PRF foi mandada para lá, a fim de providenciar a colocação de avisos aos motoristas, uma vez que a empresa encarregada das obras não os havia colocado. Com a chuva forte alguns motoristas haviam passado por cima do asfalto ainda mole, tendo espirrado nos seus veículos, inclusive nos para-brisas. Não é preciso falar do perigo que isso representou e o tumulto que ocorreu logo no primeiro posto de combustíveis, para onde acorreram os motoristas, com a finalidade de limpar o piche que lhes fez dirigir com as cabeças para fora do veículo, para poderem enxergar a estrada. Isso me fez entender a razão das suas perguntas.


    Eu entendo que a verificação dos documentos do motorista e do veículo, faz parte da rotina policial, e tem com isso, evitado que pessoas não habilitadas ou com carteiras de motoristas cassadas ou vencidas estejam ao volante. Com essa prática a Polícia tem apreendido veículos roubados, além de barrar contrabandos, tráficos de armas e de drogas.

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