Por João Bosco Leal
Estava praticamente chegando ao final de uma viagem que fazia com meus três filhos, quando fui parado por um policial rodoviário federal. Como solicitado, entreguei a ele meus documentos pessoais e os do veículo.
Depois da vistoria geral do veículo o policial, ainda com os documentos em mãos, me perguntou de onde eu vinha. Respondi: de longe. Ele então insistiu, para onde vai? Respondi: Para mais longe ainda. Minha esposa ficou assustada e me cutucou para que eu respondesse as perguntas corretamente.
Disse a ela, em tom alto o suficiente para que o policial também ouvisse que eu o estava respeitando em toda a plenitude de seus direitos, entregando-lhe os documentos solicitados e acatando qualquer decisão dele em relação ao seu trabalho, inclusive de me multar se eu tivesse feito algo ilegal, mas que eu não tinha a obrigação de informar de onde vinha ou para onde iria, pois aquele não era mais o papel e nem o direito dele.
Minha intenção, naquele momento, jamais foi a de desacatar o policial, mas ensinar meus filhos que, em qualquer situação, nunca deveriam abrir mão de seus direitos. Já se passaram aproximadamente 30 anos do ocorrido e continuo pensando da mesma forma. Não podemos invadir o direito de nenhuma pessoa, independentemente de sua posição religiosa, educacional, cultural ou profissional e nem permitir que nenhum espaço do nosso direito seja invadido.
Respeitar direitos muitas vezes significa abrir mão, se desprender de algo que julgamos ser nossos- como os filhos-, quando na realidade só o que podemos fazer é educá-los enquanto pequenos, encaminhar seus estudos e acompanhá-los até que possam alçar vôo próprio.
Já na juventude ou até antes dela eles já nos mostram que possuem vontade própria, desejos e objetivos diferentes dos nossos. Por sua imaturidade muitas coisas precisam ser controladas, contrariando-os, encaminhando-os por mais um período, para que possam amadurecer mais e aí sim, cobrar seus direitos.
Nessa fase já precisam estar preparados para, na vida em sociedade, exigir o respeito por seus direitos, mas também, claro, respeitar o das outras pessoas. E, se muitos deles tomarem para si esse princípio e continuarem, com a educação dos próprios filhos, certamente em algumas décadas teremos um país bem melhor.
Certa vez ouvi de uma pessoa já bem mais idosa, muito experiente, sábia e com quem aprendi muito, que as ações individuais são propagadas como as ondas criadas na água quando atingida por uma pedra. Na primeira propagação é um círculo pequeno, empurrado para mais longe pelo segundo, que é empurrado pelo terceiro e assim sucessivamente até que o efeito do impacto da pedra na água deixe de tumultuar o local do impacto.
O choque inicial diminui à medida que a pedra se distancia, aprofunda na água e nenhuma onda será provocada depois de certa profundidade. Sem a geração de novas ondas a tranquilidade da água vai voltando desde o local inicial até atingir a margem que havia recebido todas as ondas.
Como no lago, a paz volta quando toda a propagação, de uma nova idéia, regra, ação, ou atitude política foi totalmente absorvida pela sociedade. A exigência do respeito a seus direitos e a observância dos direitos alheios deveria ser posta em prática do mesmo modo, partindo da educação dos jovens em casa, que criará uma onda na escola, no bairro, na cidade, município e assim por diante.
A cobrança por seus direitos e o respeito pelo dos outros é um exercício diário, difícil, mas se todos sempre o exigissem, em quaisquer situações, certamente teríamos convivências muito mais pacíficas e harmoniosas entre as pessoas, os países e os continentes.
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João,
ResponderExcluirVou lhe contar um episódio idêntico por qual eu passei. Certa vez regressando de viagem, debaixo de uma chuva intensa, fui barrado num posto da Polícia Rodoviária Federal. O policial me fez as mesmas perguntas depois de me pedir documentos:
Faz tempo que o Sr. não passa por esta rodovia? De onde o sr. está vindo?
O sr. vai para onde?
Pois bem, depois de lhe responder, o policial me avisou para tomar cuidado com um determinado trecho da rodovia para onde eu estava indo, porque estava sendo recapeada com massa asfáltica, e que ele tinha acabado de receber essa informação. Disse ainda que uma viatura da PRF foi mandada para lá, a fim de providenciar a colocação de avisos aos motoristas, uma vez que a empresa encarregada das obras não os havia colocado. Com a chuva forte alguns motoristas haviam passado por cima do asfalto ainda mole, tendo espirrado nos seus veículos, inclusive nos para-brisas. Não é preciso falar do perigo que isso representou e o tumulto que ocorreu logo no primeiro posto de combustíveis, para onde acorreram os motoristas, com a finalidade de limpar o piche que lhes fez dirigir com as cabeças para fora do veículo, para poderem enxergar a estrada. Isso me fez entender a razão das suas perguntas.
Eu entendo que a verificação dos documentos do motorista e do veículo, faz parte da rotina policial, e tem com isso, evitado que pessoas não habilitadas ou com carteiras de motoristas cassadas ou vencidas estejam ao volante. Com essa prática a Polícia tem apreendido veículos roubados, além de barrar contrabandos, tráficos de armas e de drogas.