Por João Bosco Leal
Realizando uma mudança residencial, pude perceber claramente como minha geração foi erroneamente educada, mal preparada para o mundo atual. Nela sempre ouvimos que nada deveria ser jogado fora, descartado, pois um dia faria falta, poderíamos precisar exatamente daquilo.
Principalmente os que tiveram bastante contato com o meio rural saberão exatamente ao que me refiro. Câmaras de ar velhas eram guardadas para um dia ser usada como um pedaço de borracha que amarraria algo ou estancaria um vazamento. Um parafuso ou um prego velho e enferrujado era guardado, pois algum dia poderia fazer falta para fixar algo. Uma tábua de curral quebrada, em outra oportunidade teria suas partes danificadas cortadas e o restante seria reutilizado.
Foi assim que aprendi e assim sempre agi, motivo pelo qual não esperava que um de meus filhos agisse de modo diferente e um dia ter me dito que não guardava nada que não estava usando. Contou que, principalmente em relação a suas roupas, quando adquiria uma peça nova sempre descartava outra. Objetos que não estavam sendo usados também nunca eram guardados.
Apesar de considerá-lo uma pessoa bastante responsável, trabalhador e excelente pai de meus netos, não acatava essa sua maneira de ser em virtude da educação que eu e grande parte de meus contemporâneos recebemos, mas ao mudar de residência pude entender que estamos errados e ele certo.
Vi sair dos armários, cômodas, guarda roupas e criados mudos coisas que nem lembrava que possuía, sobrando, sem nenhuma utilidade atual, roupas que nem se usam mais, ternos de modelos antigos, calças que não me servem mais porta retratos sem fotos, revistas antigas, uma máquina de datilografia e até um visor de slides fotográficos.
Foram tantos os sacos preenchidos com materiais que determinei fossem jogados no lixo que até me assustei. Afinal, de que me adiantou guardar tantas coisas para um dia jogar fora? Imediatamente me lembrei do ensinamento que recebi de meu filho, o inverso do recebido de meus pais, tios e avós, mas que agora entendia ser o mais correto.
Muitas pessoas poderiam, em determinado momento, estar precisando de algo que estávamos mantendo guardado, sem uso e tempos depois, por qualquer motivo, fazemos uma faxina na casa ou uma mudança como a minha e jogamos fora o que não nos serve mais e agora não servirá para mais ninguém, mas que no passado poderia ter ajudado muito outra pessoa.
Pensando sobre o assunto, me senti uma pessoa bem menos preparada do que pensava ser, apesar de já haver entendido que ainda sei muito pouco e que a vida continua me ensinando muito, como neste caso. Com essa mudança percebi que a visão do ter, possuir, de meu filho é muito mais objetiva que a minha.
Realmente preciso concordar que de nada me adianta ter o que não utilizo, desfruto, aproveito. Pensando sempre em utilizar no futuro, acabamos por perder muitas coisas que se tornam obsoletas, fora de uso, sem peças de reposição, enfim, sem utilidade alguma, lixo.
Aprendi que a educação recebida por minha geração precisa ser repensada e passar por mudanças, pois sem guardar muitas dessas inutilidades teríamos aberto espaço para coisas mais importantes e ao mesmo tempo permitido que outras pessoas utilizassem o que guardamos sem usar.
Não há sentido algum em guardar algo que não utilizamos agora, pensando em utilizá-lo no futuro, quando nem mesmo sabemos se teremos futuro.
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