sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os obstáculos e a água


17 de junho de 2011

Por João Bosco Leal

Na internet encontrei uma frase, de autor não informado, que apesar de há muito conhecida, novamente me chamou a atenção: “A água nunca discute com seus obstáculos, apenas os contorna.”


Como tudo o que me chama a atenção ultimamente têm me levado a reflexões, a frase relida agora provocou a realização de uma enorme auto-crítica.


O tipo que não leva troco para casa, não deixa nada sem resposta, pavio-curto e todas as tradicionais descrições do tipo, descrevem bem como sempre me comportei durante a vida.


Depois de refletir bastante cheguei à conclusão que o confronto, que normalmente leva à discordâncias, debates e invariavelmente acaba sem convencimentos, praticamente nunca valeu a pena.


Não me lembro de oportunidade alguma em que a discussão, por qualquer motivo, realmente tenha levado a uma situação de equilíbrio e consenso real sobre o tema em questão.


Pontos de vista, ideologias, propostas e ambições diferentes são comuns entre os seres humanos e não são alterados diante de um simples debate onde algo diferente se apresenta.


Regimes políticos e econômicos, modelos administrativos ainda são discutidos pelos homens sem que haja consenso nem mesmo no caso de redundantes fracassos anteriores.


Apesar de muitos entenderem que toda a unanimidade é burra, penso que burra é toda a generalização, como algumas que já foram tentadas por poucos, a exemplo da tese de superioridade racial.


A unanimidade, o consenso e a generalização ainda não foram possíveis sequer sobre a melhor posição de parto.


Os pensamentos continuam fluindo e me levam a outros questionamentos, como o que me fez passar mais de meio século de vida sem perceber essa simples realidade.


A ousadia, inexperiência e arrogância do jovem que pensa saber tudo, que irá consertar o mundo e todas as outras possibilidades comuns aos pensamentos de quem só a vida ensinará, não me bastaram como justificativa, uma vez que pelo menos cronologicamente há muito já passei -ou deveria ter passado- por essa fase. Deveriam existir outros motivos para minha demora nessa descoberta.


A água contorna a pedra sem que isso signifique o abandono da disputa por aquele espaço. Esse desvio provoca seu polimento, que fica mais leve e é arrastada para a margem, desocupando o espaço antes ocupado e permitindo a passagem da mesma pelo local, mas isso também levou muito tempo.


Com a vida o homem vai percebendo que ousadia, arrogância e pretensões vão sendo diminuídas e que cada vez mais ele precisa abrir caminho para os que já sabem mais, possuem mais pique, preparo ou inteligência e entendo já estar aceitando bem essa idéia que percebo, será muito útil nas poucas décadas que ainda me restam.


Os que viverem por mais tempo terão o privilégio de serem polidos o suficiente para, chegado o momento, permanecerem à margem, sábia e passivamente, vendo a vida passar e ensinando os que querem aprender.


Obstáculos, que de uma maneira ou de outra devemos superar, nos são apresentados durante toda a vida, até o último que, sem solução, nos levará e, portanto, só nos resta decidir ‘como’ serão superados.


Matéria enviada pelo autor, por e.mail – Clique aqui para conferi-la no seu site

Nenhum comentário:

Postar um comentário