
Lamentava-se
senhora alentejana que o sobrinho, que tão amigo era dela, em criança,
logo que entrou na universidade, deixou de lhe escrever e visitar.
Consolando-a, amiga confidente, dizia-lhe que isso seria motivo de alegria: pois era sinal que nada lhe faltava.
Esse
lamento, lembrou-me a velha historieta do jovem que estudava em
Coimbra, e não respondia às cartas do pai, lavrador abastado, que
mourejava a terra desde a puberdade.
Contando,
muito contristado, o ingrato comportamento do filho, no boteco da
aldeia, entre amigos mais íntimos, um, prontamente o aconselhou:
-
“A culpa é de Vossa Senhoria. Escreva-lhe, dizendo, que junto com a
carta, segue nota de cem escudos, mas não a meta. Verá que pela volta do
correio receberá carta afetuosa”.
Assim aconteceu. Dentro de dias entregaram-lhe missiva reclamando a nota.
Não
sei se será egoísmo ou desprezo, a atitude de muitos, de só se
abeirarem de familiares e amigos de infância, quando se lembram que
estes lhes podem ser úteis, para realizarem o tal jeitinho, que facilita
a entrada no emprego ou passagem no exame.
Digo
não sei, porque a amizade devia ser cultivada, mormente por aqueles que
receberam carinho desinteressado, na infância. Disse um dia que o
sentimento que mais fere é o da ingratidão, e julgo que disse bem,
porque não há maior afronta, apartar-se de alguém, porque já não se
precisa dele.
Há
parentes que moram a poucos passos uns dos outros e só se veem nos atos
solenes: batizados, casamentos e funerais, ou quando se recordam que
lhes podem ser úteis.
Há
amigos que raramente se carteiam, mesmo em dias festivos, e nem pela
Internet se dão ao incómodo de agradecer a gentileza de lhe terem
enviado foto ou bilhetinho a transbordar de ternura.
Declaram
que têm vida muito ocupada - os afazeres nem lhes permite conviverem
com os filhos. Mas não recusam jantares com “ importantes”, nem deixam
de viajar em fins-de-semana,.. Há tempo para tudo, mas não há para
conviverem, quando o parente ou amigo, é pobre ou não lhes pode ser
útil.
Para eles, a amizade, é meio de adquirirem influência.
Meu
pai tinha amigo, que visitava frequentemente. Um dia ficou internado em
Casa de Saúde, a poucos metros da residência do companheiro. Pois,
este, não conseguiu encontrar tempo para o visitar.
Certamente
dizia lá para consigo: Para quê? Está gravemente doente, à porta da
morte. Já não serve para nada, nem para mencionar o meu nome na coluna
do jornal. - meu pai era jornalista.
Como
os homens são ingratos, bem diferentes dos cachorros, que amam aqueles
que com eles convivem, mesmo quando caiem em desgraça ou se afastam por
longo tempo.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 10:51
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