
Pedro
Barbosa é professor do IPAM. Segundo jornal “ Metro” (24-04-13),
inutilmente luta para que o tratem pelo nome. Sempre que precisa de “
cartões” ou escreve artigos, na imprensa, lá colocam, ao lado do nome de
batismo, o título de doutor engenheiro. Os próprios alunos, teimam
tratá-lo por professor ou doutor, e só muito constrangidos, timidamente,
se aventuram chamá-lo por tu.
De igual parecer era António Lopes Ribeiro, conhecidíssimo realizador de cinema, e autor de popular programa televisivo.
Estando
meu pai na livraria Figueirinhas, no Porto, aproximou-se Fernando
Figueirinhas, acompanhado de cavalheiro, magro, alto, elegantemente
vestido. Era António Lopes Ribeiro.
Após
minutos de conversa, o cineasta, debruça-se ligeiramente, e avizinhando
os lábios, da orelha de meu pai, ciciou todo risonho:
- “ Ó Sr. Pinho da Silva! Vou pedir-lhe um grande favor! Não me trate por doutor! Tenho nome e orgulho-me dele!”
Mário
Soares - ex-presidente da República Portuguesa, - declarou, na Escola
Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo: “ Em
Portugal, o doutor, é qualquer coisa de extraordinário, quase um título
de nobreza. (“ O Primeiro de Janeiro” pag.6 - 21/09/92).
Na verdade assim é. Se outrora o que dava status, era título nobiliárquico, com a Republica, os graus académicos vieram substituir os de nobreza.
Recordo,
agora, o fidalgo do Outeiro, separado da mulher. Ao ter conhecimento
que uma das suas duas filhas casara com estudante de medicina, vociferou
revoltado e desalentado:
- “ Céus! - bradou Caetano - uma minha filha casada com um estudante de cirurgia!… Em que situação vergonhosa ela já estava!…” - “ Mistérios de Fafe” de Camilo Castelo Branco.
Certa
ocasião fui convidado, a jantar em casa de um amigo . A filha,
recentemente formada em Letras, estava presente. No decorrer do repasto,
a jovem, disparou: - “Pai: ninguém me trata de doutora! …”
Este, de lábios cheios de sorrisos, soltou:
- “ Não seja por isso! Eu passo a chamar-te por Senhora doutora!”
Apesar
dos títulos académicos, devido às Faculdades terem, nos últimos
décadas, vomitado milhares de doutores, perdendo muito do prestígio que
possuíam, no século XX, ainda há quem faça questão de ser tratado assim.
João
Adelino Faria, da RTP, ao moderar debate político, verificou que um dos
intervenientes recusava entrar nos estudos, porque não fora tratado por
doutor.
Por
isso, quando Álvaro Santos Pereira, que lecionava em famosa
universidade canadiana, chegou a Lisboa - a convite do governo para
ocupar o cargo de Ministro de Economia, - e declarou, aos jornalistas,
que podiam chamá-lo apenas por Álvaro, caiu o Carmo e a Trindade, e o
prestígio do professor, desceu no conceito da sociedade portuguesa.
Não
admira, portanto, que jovens, após receberem o diploma, afastem-se de
pais, familiares e amigos, que não tiveram capacidade, sorte ou
oportunidade, de ingressarem no ensino superior.
Muitos proferem ufanamente: A nossa geração está melhor preparada, e é mais inteligente, que a anterior.
Esquecem-se,
que foi à custa do suor de muitos trabalhadores iletrados, dos que
labutaram no campo e na oficina, enfim: dos contribuintes, que puderam
frequentar a universidade, pagando quantias irrisórias – Cada aluno
universitário custa ao contribuinte: 4000 a 10000 euros, ano, consoante o
curso.
A
maioria dos idosos, podem ser ignorantes, concordo, mas merecem
respeito, para não dizer veneração. Foi com seu trabalho, e muitas vezes
com o seu sacrifício, que esta geração “ superior”, alcançou sabedoria.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:57
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