segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Belezas invisíveis

17 de outubro de 2011

Por João Bosco Leal

Os que trabalham ou conviveram na área rural certamente já ouviram relatos de bovinos que sumiram e só são encontrados já mortos, dentro de buracos, quando se vê os urubus sobrevoando o local. Presenciei, anos atrás, um trator que preparando terras para o plantio, literalmente afundou ao passar sobre um formigueiro abandonado, o que não ocorre, por maior que seja a máquina, enquanto o formigueiro é habitado.


Quantas vezes passamos sobre um formigueiro, sem imaginar que matando as formigas nele existentes, este poderia afundar e comprometer a estrutura da casa construída ao seu lado ou sobre ele, ou até mesmo antes que existisse?


Vivemos sem notar milhões de detalhes da natureza como os formigueiros, ou mesmo a organização destes e das colméias, que nos fornecem alimentos e remédios – mas também matam -, sem observar as flores e paisagens, o cuidado dos animais com suas crias, os movimentos delicados de um pássaro construindo seu ninho, a imediata brotação das sementes logo após as primeiras chuvas.


Nos mamíferos, o instinto materno faz com que, imediatamente após o parto, a mãe já lamba sua cria livrando-a dos restos da placenta e cortando seu cordão umbilical. As crias, por outro lado, mesmo as que não enxergam como os cães e gatos, por ainda não terem aberto seus olhos, já se arrastam, enquanto outros como os bezerros, já ficam de pé, mas todos logo saem em busca das tetas maternas para se alimentarem, diferente do ser humano, que após o nascimento não sobrevive sem ser alimentado e cuidado.


Milhares de questionamentos e observações antes consideradas insignificantes, bobagem ou perda de tempo, impensáveis para os mais jovens, normalmente só são realizados pelos mais velhos, experientes, com maturidade, quando dedicamos tempo para admirar a beleza de tantas diferenças.


Com fotografias tentamos ‘arquivar’ uma cena admirada em determinado local ou momento, mas as imagens mais belas sempre serão aquelas da natureza, inusitadas, que não possuem formas ou cores definidas, que não são ou jamais serão, iguais a nenhuma outra, como uma experiência inesquecível para quem a teve, de despertar com o som de pássaros livres, cantando, dando boas vindas ao sol.


Os detalhes do nascer ou por do sol no horizonte, com suas cores e sons totalmente distintos a cada dia, só são realmente admirados por aqueles que já não possuem mais pressa, que ficam encantados quando ouvem o canto de um sabiá-laranjeira perdido em uma rua da cidade do interior e podem se dedicar a observar e ouvi-lo.


São pessoas capazes de permanecer parados à margem de uma rodovia, aguardando um bando de Quatis que atravessam a pista e que procuram fotografá-los, para compartilhar aquele momento com os amigos. Para esses, a pressa já não é importante, pois em tudo que agora fazem, o que mais interessa é que seja bem feito.


Os que atingem esse estágio da vida já não passam pelos mais diversos locais sem nada perceber e, muitas vezes, interrompem o que faziam para poder observar o desabrochar de uma rosa ou os movimentos de uma plantação de girassóis.


Sabem que quando o sol está muito alto, os pássaros não voam ou cantam, os animais silenciam na mata, os peixes sequer buscam as iscas dos pescadores e, por isso, os de cabelos já brancos ancoram seus barcos sob a sombra de uma árvore, na margem do rio, para descansar no mais puro e profundo silêncio.


Só os mais maduros entendem que a observação é a única chave capaz de abrir a porta para as belezas invisíveis aos jovens.


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