terça-feira, 30 de agosto de 2011

Inclusão social

29 de agosto de 2011

Por João Bosco Leal

É interessante como a observação da vida nos mostra coisas que jamais imaginaríamos, apesar de estarem ao nosso lado diariamente desde o nascimento. São as coisas mais comuns, abundantes, tão próximas e tão importantes que não se fazem notar, como o ar que respiramos.


Confesso que nunca observei ou dei atenção a coisas que atualmente considero importantíssimas, como a acessibilidade, praticamente inexistente ou, quando existe, totalmente desrespeitada em nosso país.


Imagino que isso deve ocorrer com a grande maioria das pessoas, pois o egoísmo natural do ser humano é tão grande que ele só se sente o que lhe faz falta, como percebo agora que sempre foi o que me ocorreu.


Sempre respeitei coisas que, penso, a maioria das pessoas aprendeu em casa ou na escola, como as vagas nos estacionamentos destinadas a pessoas com necessidades especiais, como deficientes físicos ou idosos.


Entretanto, só depois de ser um desses é que realmente passei a observar o atraso existente em nosso país quanto à observação, pelo poder público e pela população, de regras básicas que deveriam ser observadas para a inclusão dessas pessoas na plenitude da vida em sociedade.


A ocupação indevida das raras vagas nos estacionamentos destinadas a idosos ou deficientes físicos, por madames, jovens ou qualquer outro tipo de pessoa é corriqueira e as explicações são sempre as mesmas: foi rapidinho, era só por um instante, ou algo semelhante.


E exatamente nesse momento, enquanto essa rara vaga era ocupada, rapidinho, por quem não devia, a pessoa para quem ela havia sido destinada chega e como ela estava ocupada, foi obrigada a procurar outra, normalmente bem mais distante, e vir caminhando, com toda sua dificuldade.


Órgãos públicos em geral são os maiores infratores, raramente possuindo vagas, senhas para atendimento preferencial, ou qualquer outro tipo de facilidade para essas pessoas, principalmente, imagino, por um motivo muito simples: os políticos só pensam em quantidade de votos e defender minorias nunca foi a atividade de quem quer ser lembrado e escolhido pela maioria. Como o IBGE mostrou em sua última pesquisa que os idosos ou portadores de algum tipo de deficiência, seja auditiva, visual ou de locomoção, já são 15% da população brasileira, ou algo próximo de 18 milhões de eleitores, provavelmente os políticos que tomarem conhecimento dessa pesquisa começarão a repensar seu comportamento.


Participando recentemente de uma exposição de obras de um artista amigo, realizada na Casa da Cultura de Campo Grande, MS, uma capital de estado, não pude ver toda a coleção, pois a maioria estava no andar superior, de acesso impossível para um cadeirante, ou qualquer outra pessoa com dificuldades de subir uma escada, pois essa Casa da Cultura não possui um elevador que leve ao andar superior.


Por se tratar de um prédio histórico, os arquitetos responsáveis pela última reforma do prédio não se preocuparam, ou não foram capazes, mesmo com toda a tecnologia atual disponível, de encontrar uma alternativa para adicionar um elevador, ou de acabar com as escadas existentes entre uma sala e outra do prédio, para permitir o acesso indiscriminado das pessoas, sem influir arquitetonicamente no prédio.


Atualmente todos discutem a inclusão social dos menos favorecidos, com preocupações com saúde, educação, moradia e lazer, mas situações como essa mostram, na prática, o desrespeito com que a sociedade brasileira trata esses seus irmãos.


Nenhuma sociedade poderá crescer sem a inclusão total de todos os seus, independentemente de idade, instrução, raça, cor, credo, ou necessidades.

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domingo, 28 de agosto de 2011

Insensatez

26 de agosto de 2011

Por João Bosco Leal

Nos últimos dias voltaram a ocorrer manifestações contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Anos atrás essas manifestações eram realizadas em favor da Reforma Agrária, por grupos de intelectuais, universitários, artistas, escritores e tantos outros, que nunca se aproximaram da realidade da vida no campo, mas saiam às ruas, bradavam e escreviam a favor da reforma agrária, sem enxergar os crimes cometidos pelos chamados “Sem Terra”, liderados por homens inescrupulosos, muitos criminosos já condenados, com um objetivo único: acabar com a propriedade rural privada no Brasil, em busca da mudança do regime político no país.


Foram bilhões de dólares gastos, milhões de hectares de terras desapropriados, milhares de famílias de produtores saqueados e retirados violentamente das terras onde nasceram, cresceram e produziam, para que esses cidadãos que se manifestaram a favor da reforma agrária, percebessem o crime cometido.


Raríssimas pessoas com verdadeira vocação rural foram assentadas. A grande maioria, desempregados urbanos sem qualificação para os empregos oferecidos atualmente, foi assentada sem saber sequer a época de plantio de qualquer hortaliça, grão, ou como tirar leite de uma vaca. O fracasso foi redundante e até hoje somente 5% dos assentados nos projetos de reforma agrária do país foram emancipados, vivem sem a ajuda do governo.


Os outros 95% dependem de ajudas como dos programas de “Vales e Cestas”, ou de trabalho braçal em propriedades vizinhas. O agronegócio privado, por outro lado, segundo o próprio governo, representa atualmente 100% do superávit da balança comercial brasileira, deficitária em todas as outras atividades exportadoras.


Os manifestantes contrários à construção da Usina Belo Monte, alegam que ela vai influir no ecossistema da região, desalojar uma tribo indígena que vive no local e algumas onças e outros animais terão de ser realocadas.


Esses manifestantes estão sendo no mínimo cegos, por não verem as necessidades brasileiras e as possibilidades existentes. Meses atrás se discutia a impossibilidade do Brasil crescer a taxas superiores a 5% ao ano por não possuir infraestrutura necessária para tal, como rodovias, ferrovias, portos e principalmente energia.


Existiriam alternativas, mas atualmente inviáveis. As usinas nucleares, que tanta destruição e mortes já provocaram estão, por isso mesmo, e por exigência de suas populações, sendo desativadas em praticamente todos os países desenvolvidos do mundo. A energia eólica ainda é excessivamente cara, tanto para a implantação como em relação à sua produção e a energia solar, possui os mesmos impedimentos atuais da eólica.


Esses manifestantes não sabem sequer que a grande maioria dos residentes no interior dos estados brasileiros, das regiões centro oeste, norte e nordeste, moram em locais sem energia elétrica constante, que só possuem energia à noite, gerada por motores a diesel, muito mais poluentes e dispendiosos, além de milhares de moradores rurais, que sequer à noite possuem energia e ainda vivem com iluminação de lamparina, que os ativistas mais jovens sequer sabem do que se trata, pois tiveram uma vida mais fácil, nasceram, cresceram e vivem em grandes centros, onde nunca faltou energia nem para os aparelhos de ar refrigerado.


Esses brasileiros, universitários, artistas e intelectuais, novamente estão se deixando levar por “ondas”, mas o Brasil é talvez o único país do mundo capaz de ainda crescer muito com energia barata e limpa, como a hidrelétrica, motivo pelo qual devemos explorar ao extremo essa nossa capacidade que, futuramente poderá e deverá ser complementada por outras gerações também limpas e renováveis como a eólica, a solar e o etanol para que possamos crescer mais e melhorar a qualidade de vida de todos os brasileiros.


É insensato deixarmos de gerar energia que iluminará casas, hospitais, creches e indústrias, que melhorarão a vida de milhares de brasileiros, simplesmente para não locomover, até em melhores condições de habitação, educação e saúde, algumas centenas de nativos locais, ou transferir o habitat de alguns animais.


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sábado, 20 de agosto de 2011

Direitos e limites

19 de agosto de 2011 por João Bosco Leal

Por João Bosco Leal

Estava praticamente chegando ao final de uma viagem que fazia com meus três filhos, quando fui parado por um policial rodoviário federal. Como solicitado, entreguei a ele meus documentos pessoais e os do veículo.


Depois da vistoria geral do veículo o policial, ainda com os documentos em mãos, me perguntou de onde eu vinha. Respondi: de longe. Ele então insistiu, para onde vai? Respondi: Para mais longe ainda. Minha esposa ficou assustada e me cutucou para que eu respondesse as perguntas corretamente.


Disse a ela, em tom alto o suficiente para que o policial também ouvisse que eu o estava respeitando em toda a plenitude de seus direitos, entregando-lhe os documentos solicitados e acatando qualquer decisão dele em relação ao seu trabalho, inclusive de me multar se eu tivesse feito algo ilegal, mas que eu não tinha a obrigação de informar de onde vinha ou para onde iria, pois aquele não era mais o papel e nem o direito dele.


Minha intenção, naquele momento, jamais foi a de desacatar o policial, mas ensinar meus filhos que, em qualquer situação, nunca deveriam abrir mão de seus direitos. Já se passaram aproximadamente 30 anos do ocorrido e continuo pensando da mesma forma. Não podemos invadir o direito de nenhuma pessoa, independentemente de sua posição religiosa, educacional, cultural ou profissional e nem permitir que nenhum espaço do nosso direito seja invadido.


Respeitar direitos muitas vezes significa abrir mão, se desprender de algo que julgamos ser nossos- como os filhos-, quando na realidade só o que podemos fazer é educá-los enquanto pequenos, encaminhar seus estudos e acompanhá-los até que possam alçar vôo próprio.


Já na juventude ou até antes dela eles já nos mostram que possuem vontade própria, desejos e objetivos diferentes dos nossos. Por sua imaturidade muitas coisas precisam ser controladas, contrariando-os, encaminhando-os por mais um período, para que possam amadurecer mais e aí sim, cobrar seus direitos.


Nessa fase já precisam estar preparados para, na vida em sociedade, exigir o respeito por seus direitos, mas também, claro, respeitar o das outras pessoas. E, se muitos deles tomarem para si esse princípio e continuarem, com a educação dos próprios filhos, certamente em algumas décadas teremos um país bem melhor.


Certa vez ouvi de uma pessoa já bem mais idosa, muito experiente, sábia e com quem aprendi muito, que as ações individuais são propagadas como as ondas criadas na água quando atingida por uma pedra. Na primeira propagação é um círculo pequeno, empurrado para mais longe pelo segundo, que é empurrado pelo terceiro e assim sucessivamente até que o efeito do impacto da pedra na água deixe de tumultuar o local do impacto.


O choque inicial diminui à medida que a pedra se distancia, aprofunda na água e nenhuma onda será provocada depois de certa profundidade. Sem a geração de novas ondas a tranquilidade da água vai voltando desde o local inicial até atingir a margem que havia recebido todas as ondas.


Como no lago, a paz volta quando toda a propagação, de uma nova idéia, regra, ação, ou atitude política foi totalmente absorvida pela sociedade. A exigência do respeito a seus direitos e a observância dos direitos alheios deveria ser posta em prática do mesmo modo, partindo da educação dos jovens em casa, que criará uma onda na escola, no bairro, na cidade, município e assim por diante.


A cobrança por seus direitos e o respeito pelo dos outros é um exercício diário, difícil, mas se todos sempre o exigissem, em quaisquer situações, certamente teríamos convivências muito mais pacíficas e harmoniosas entre as pessoas, os países e os continentes.


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terça-feira, 16 de agosto de 2011

A vida não vivida

12 de agosto de 2011

Por João Bosco Leal

Ao reclamar de uma dor no joelho o jogador não se lembra de quantas alegrias o mesmo já proporcionou ao permitir suas peladas de fim de semana, que se ajoelhasse durante suas orações agradecendo a vida e os bens recebidos, que caminhasse pela areia da praia, corresse ao encontro de um abraço e milhares de caminhadas.


Encarando as dificuldades dessa maneira seria possível perceber que raramente temos um verdadeiro motivo para reclamações, qualquer que seja sua natureza. As possibilidades apresentadas durante a vida são infinitas e só a própria pessoa pode decidir viver ou não aquele momento.


As escolhas das atitudes como arriscar, correr, lutar, fazer amigos, unir ou separar bens e pessoas, são incontáveis e exclusivas de cada um. Ninguém precisa ou é obrigado a fazer praticamente nada, mas fazendo ou não, sempre arcará com as consequências de sua opção.


Os que não praticam nenhum tipo de atividade física não sentirão as mesmas dores no joelho de um atleta, mas jamais terão a mesma desenvoltura física. Aqueles que não arriscam certamente possuem menos riscos de perder que o jogador e os que não correm diminuem suas possibilidades de acidente.


Correr riscos desnecessários nunca deveria ser a opção de uma pessoa, mas é preciso considerar que deixando de exercer diversas atividades por conta de suas chances de no futuro sentir dor, cair, se machucar ou qualquer outra preocupação, teremos uma vida coberta de privações, não vivida em sua plenitude.


Sempre estaremos sujeitos a um acidente, imprevisto, inesperado, mas a vida seria muito chata sem essas possibilidades. Avião, paraquedas, parapentes, surf, skate e motocicleta são maravilhosos para muitos e aterrorizantes para outros, mas é exatamente essa a maravilha do ser humano, o poder de escolha.


É triste ver uma pessoa que passou pela vida sem experimentar algumas dessas coisas que teve vontade, ou apenas curiosidade, simplesmente por ser arriscado. Os riscos fazem parte de praticamente tudo em nossa vida. Cada ação, por mais simples e em qualquer área que seja realizada, provocará uma reação. Nem sequer caminharíamos, se tivéssemos medo de tropeçar e cair.


No lado sentimental, muitas pessoas se reprimem até de fazer um carinho público no amado, na esposa, por medo da reação de outros, deixando assim de amar, de demonstrar seu afeto para com quem realmente interessa na sua vida, enquanto as mais confiantes exprimem melhor seus sentimentos quando sorriem, abraçam, beijam e trocam carinhos com seus entes queridos, independentemente do que pensam aqueles que os criticam exatamente por sentirem falta desses atos.


Aquele que teve um amigo, filho, namorada ou esposa, que por algum motivo já não faz parte de sua vida, não deveria ficar triste, mas alegre pelos momentos agradáveis que passaram juntos, os carinhos trocados, sorrisos e passeios maravilhosos que realizaram.


Na realidade esse tipo de sofrimento nem é pela perda, afastamento, mas pelo que foi planejado, sonhado para terem realizado juntos e jamais ocorrerá. Isso é mais um motivo para pensarmos na demonstração de afeto, carinho que, por estarem em lugar público, muitas pessoas deixaram de realizar com medo do que diriam os reprimidos de plantão.


Não se pode passar pela vida sem vivê-la, pelo medo de sentir dor, correr riscos, se aventurar, sentir e demonstrar sentimentos, se nenhuma dor pode ser maior que a dor pelo que não vivemos.


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