Em meados de Dezembro, deste ameno Outono, em que o Sol ainda doira a cidade do Porto, fui à farmácia da baixa.
Precisava de comprar medicamentos para achaque, que a “ferrugem” da idade e do uso, vai entorpecendo – com dores agudas, – a engrenagem do corpo.
Entrei e dirigi-me ao balcão. Reparei que todo o estabelecimento encontrava-se decorado, com vistosos motivos natalícios: árvore branca, coberta de largas fitas prateadas, e grandes e vistosas bolas, todas vermelhas.
Ao centro, viam-se quatro letras de cartão, capitaneadas por “X”; formavam palavra que me pareceu uma charada; mas alegravam, sem duvida, a loja, já que cada uma continha: pinhazinhas e raminhos verdes, que me pareceram naturais.
Cheio de curiosidade, interroguei a empregada, que era doutora, acreditando nas letras bordadas a azul, na bata branca.
Esta, risonha e solícita, esclareceu-me que era a palavra “Natal“, em inglês. Agora, na América, só se usa o diminutivo…
Pensei, de mim para mim – já que não tinha botões, mas fecho- éclair, nas vestes, –: Que mania, que doença é essa, que nos transformou em macaquinhos de imitação; copiadores de tudo que se usa na terra de Tio Sam! …
Comerciante, lá nos confins do Ocidente, em certa sexta-feira, resolveu saldar, a preço de chuva, o stock; vai os “macaquinhos” repetirem a gracinha, na nossa terra, não se dando ao trabalho de tradução.
Compreende-se: “sexta-feira negra”, não soava bem aos ouvidos dos bacoquinhos nacionais, sempre prontos a caírem de joelhos, ao que se diz e se faz na estranja.
Outrora, no tempo de Eça, e mesmo no meu tempo de menino, tudo vinha de Paris: Era elegante falar francês; usar a moda parisiense; citar escritores franceses…
Avaliando pelos versos de Nicolau Tolentino, essa esquisita doença, já vem de longe…
Agora, a mania, é o inglês. Até as crianças estudam-no na escola, juntamente com a língua pátria.
Mas desculpem-me os leitores do Brasil – sei que são muitos e muitos os estimo, – a macaquice também chegou à vossa terra.
Não falo dos “macaquinhos”, que certa elite intelectualizada, considera cultura (?!); e não me admiro, que venham aparecer, em breve, na Europa, como embaixadores da cultura brasileira…; mas da tendência – não fossem filhos do mesmo pai, - de cobiçarem tudo que se usa no velho continente e principalmente nos Estados Unidos.
O responsável ou responsáveis, pela farmácia, por certo, descobriram numa das largas e modernas avenidas nova-iorquinas, a nova forma de escrever, “Natal”, e considerou ou consideraram, elegante, colocar a “ novidade” na loja, para deslumbrar os bacoquinhos lusos.
Consideraram e com razão. Não somos nós macaquinhos de imitação?!
Em tudo, apesar de dizerem: que têm novecentos anos de independência; serem soberanos; não receberem lições de ninguém; possuírem cultura incomparável; não passam de “macaquinhos de imitação”: na Música, na Literatura, na Moda, na Arte… e até na Educação…
Eternos complexados…
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 17:03
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