16 de julho de 2012
As preocupações com os filhos mudam, mas não acabam. No início, enquanto crianças, ela gira em torno de sua saúde, educação, cultura e futuro, mas passada essa fase, quando já nos orgulhamos dos resultados obtidos nesses setores, começam outras.
Na juventude passamos a nos preocupar com os riscos no trânsito, com sua segurança física, seus negócios, viagens e, posteriormente, com seu casamento. Observamos se seguem ou não nossos exemplos e muitas vezes notamos que estão fazendo o que atualmente já não faríamos, por termos mudado de opinião ou por termos reconhecido que erramos naquele ponto.
Nessa etapa normalmente temos a intenção de, de alguma maneira, aconselhar, orientar, na tentativa de ajudar para que não errem onde já descobrimos que erramos, ou onde poderíamos ter sido melhores e quando eles também passam a ser pais, a preocupação passa a ser com o relacionamento que terão com seus próprios filhos.
Além do natural instinto de preservação da espécie e da continuidade da família, os netos são o maior presente que poderíamos receber na vida, e através deles é que nos enxergamos recomeçando, permanecendo na vida. Os que passaram a ser avós iniciam um novo aprendizado, o de como se relacionar com seus netos. É comum se lembrarem dos próprios avós, e de como se relacionavam com eles.
Passam a entender as diferenças comportamentais e as maiores ou menores afinidades que tínhamos com cada um dos avós, entre os paternos e maternos, quais tinham mais ou menos paciência, o que faziam ou permitiam que fizessem com eles.
Descobrem que um comportamento menos comunicativo ou brincalhão de um dos avós não está relacionado com um maior ou menor amor pelos netos, mas com a própria personalidade de cada um deles e também dos netos. Problemas físicos causados por algum acidente ou pela própria idade também podem limitar esses avós em relação a muitos tipos de brincadeiras com seus netos, o que não significa menos amor.
Diversos ditados populares ensinam que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, ou “os avós são os pais com açúcar”, mas é a própria natureza que constantemente nos mostra que quem é avô já não pode se comportar como pai e que deveria observar isso em todos os sentidos, pois muitas são as demonstrações que ela dá, de que as fases são muito distintas.
A idade cronológica dos avós, que naturalmente já não possuem a mesma destreza, força e fôlego de quando mais jovens, é certamente a maior diferença entre eles e seus filhos. O período durante o qual podiam permanecer com uma criança no colo já não é o mesmo e o simples fato do avô dobrar sua coluna para beijar uma criança de estatura bem mais baixa poderá causar dores em sua coluna vertebral.
A audição e a paciência certamente também já não são as mesmas e, nesse caso, se as pessoas falam baixo e ele não ouve, fica irritado, o que também ocorre com os gritos e manhas das crianças, sejam netos ou desconhecidos.
Por outro lado, muitas são as alegrias dos avós, como a que senti quando há poucos dias ouvi de um neto: “Vovô, eu gostei muito de suas brincadeiras”, uma declaração simples, inesperada e ao mesmo tempo tão profunda, que não soube sequer o que responder. Não pensei que aquela simples brincadeira estivesse provocando sentimentos que certamente permanecerão em por décadas em sua mente.
Todos esses detalhes são demonstrações de como as etapas são diferentes e cada uma só será bem cumprida por quem estiver com sua idade apropriada para tal. Os jovens não possuem experiência ou estrutura psicológica para serem avós e estes já não possuem a física para voltarem a ser pais.
Educar e cuidar do futuro dos filhos é função e responsabilidade dos pais, enquanto a dos avós é de simplesmente brincar, passear e se relacionar com os netos da maneira que não puderam fazer com seus filhos.
(*) João Bosco Leal -
jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural
e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.
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