segunda-feira, 30 de julho de 2012

As mães e suas crias - Por (*) João Bosco Leal


30 de julho de 2012 

Tanto entre os humanos quanto entre os animais, existem mães e mães. Entre nós há as que trabalham e as que não, as que bebem, usam drogas, são prostitutas, não se respeitam, mas mesmo estas merecem e normalmente são respeitadas por seus filhos.
No mundo animal, há vacas que protegem suas crias de qualquer um, que lutam desesperadamente contra quaisquer predadores para não perder sua cria, e as que simplesmente observam a mesma ser devorada por outros animais.
Outras que abandonam seus bezerros logo ao nascer, deixando-os à própria sorte, os chamados “guachos”, que, se encontrados a tempo por um humano, muitas vezes tornam-se mais fortes do que seus contemporâneos, mesmo tendo crescido sem nenhum “afago” materno.
As galinhas cobrem com as asas os pintinhos recém-nascidos, para que não sejam devorados por gaviões e para que não sofram com a chuva e o frio. Existem, porém, aves que raramente chocam o próprio ovo, como as galinhas d’angola, os marrecos e outras, que por esse motivo, são de difícil procriação.
Entre os suínos e caninos, o filhote que, desde os primeiros momentos de vida, tendo que disputar as tetas com os irmãos, se esforça para mamar mais e fica cada dia mais forte que seus irmãos, que não se esforçaram, e por isso ficam cada vez mais fracos.
Algumas mães, entretanto, suprem seus filhos de todas as necessidades que estejam ao seu alcance, mesmo quando o “filhinho” ou a “filhinha” já são adultos, mas assim como nos animais, essa superproteção cria um ser fraco, que por nunca haver lutado por nada, quando essa mãe não estiver mais presente, terá muitas dificuldades para sobreviver num mundo onde há disputas por tudo.
Ao contrário de ajudar, elas proporcionaram um enorme prejuízo a esses filhos, que sempre perderão, em todos os sentidos, para os que cresceram fortes por terem tido de buscar, sem ajuda, o que necessitavam.
No entanto, sem sua proteção e tendo que buscar seu próprio sustento e programar seu futuro sabendo que nada mais será ganho, aprenderá, ainda que tardiamente, assim como aquele filho ou filha que foi desamparado, mal tratado, abandonado e até mesmo desprezado por essa mãe, que por ter lutado sozinho por sua sobrevivência e aprendizado, tornou-se um adulto mais forte e para ele nada mudará quando essa mãe partir.
Por isso e por mais que seja dolorido, assim como ocorre em todo o reino animal, em determinado momento as mães necessitam desmamar seus filhos, pois aquelas que contrariando a natureza, escolhem dar proteção a um filho normalmente fracassam em seu sonho, e fazem fracassar o filho protegido.
Perceber esse erro, certamente gera uma enorme sensação de fracasso na mãe para a qual seu filho protegido obteria somente sucessos, e essa descoberta normalmente provoca um distanciamento cada vez maior desta mãe com o filho que ela desprezou e que hoje é um forte.
Os que lutaram com suas próprias mãos, certamente criarão seus filhos assim, dando-lhes amor, carinho e apoio, mas ensinando-lhes a buscar seu lugar ao sol com seu próprio esforço, pois o mundo não passará a mão na cabeça de ninguém, quando não tiverem mais a retaguarda dos pais.
E quando a grande maioria fizer o mesmo, nascerá uma nova geração de homens e mulheres fortes, que construirão o futuro de um grande país, deixando de lado e para trás os fracos que criaram filhos e nações fracas.
As nações são o resultado de como as mães criaram seus filhos nas décadas anteriores.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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sexta-feira, 27 de julho de 2012

A ressaca amorosa - Por (*) João Bosco Leal


27 de julho de 2012 

“O amor é como fogo: para que dure é preciso alimentá-lo”.
Lendo o pensamento do Duque François La Rochefoucauld, que viveu em Paris de 1613 a 1680, pensei em como todos demoramos a aprender essa regra simples – válida para o amor, as amizades e todo tipo de relacionamento -, e de como, apesar da farta literatura existente a esse respeito, dos infindáveis conselhos e sugestões que se ouve desde essa época, ela raramente é absorvida de modo a se tornar uma prática comum.
Essa necessidade também está presente em qualquer outro tipo de relacionamento, inclusive os comerciais, e como diz um velho ditado: “quem não é visto ou ouvido, não é lembrado”.
Todos sabem que são os pequenos detalhes que mantém acesas as chamas da amizade, mas mesmo assim raramente nos lembramos de telefonar para aquele amigo de anos e que há muito não vemos, simplesmente para cumprimentá-lo pelo aniversário, saber como está sua família e coisas assim.
O atual nível de automação do sistema bancário brasileiro é um exemplo, pois com a necessidade cada vez menor do cliente se dirigir à sua agência, seu relacionamento com os funcionários deste diminuem ou até acabam e com a rotatividade de seus quadros normalmente promovida pelos mesmos, quando necessitar de algo já não conhecerá ninguém dos que lá trabalham.
Mesmo que ao telefone, é muito importante o contato frequente, inclusive com os filhos adultos – que já se casaram e agora com sua própria família residem em outra casa -, dos quais também iremos afastando, se não o fizermos.
Nos relacionamentos amorosos essas necessidades são ainda maiores porque além de frequentemente nutrir a relação com gestos e palavras de carinho, existem outras que precisam ser supridas, como a geração, criação e educação dos filhos, instinto natural da preservação da espécie.
Com a maturidade, quando já se buscam outros valores além da beleza física e já não se pretende mais ter filhos, aumentam as possibilidades de se encontrar e viver um amor diferente, mais profundo, onde as exigências mais importantes serão a amizade, a cumplicidade e principalmente o companheirismo.
Nessa fase, quando já percebemos a necessidade da alimentação dos relacionamentos, passamos a fazê-lo, mas certamente também queremos ver essas atitudes correspondidas, o que nem sempre ocorre, principalmente porque seu parceiro pode ainda não haver adquirido essa compreensão.
Outra coisa que pode atrapalhar esse tipo de relacionamento são as interferências externas, normalmente provenientes daqueles cuja visão não alcança a profundidade de um amor mais maduro e a não percepção, por essa parte, de que aqueles que estão interferindo não serão seus companheiros na solidão da velhice.
Normalmente os filhos e netos de um adulto separado, divorciado ou viúvo, deixam de pensar que em muito poucos anos estarão distantes, cuidando de sua própria vida e, com suas interferências irresponsáveis ou egoístas, talvez acabem com a possibilidade de um de seus pais possuírem, ao seu lado, uma amizade, cumplicidade e companhia, que é o que realmente importará em sua velhice.
Isso normalmente é muito dolorido para aquele que não teve correspondido o que doou, ou que percebeu as interferências externas sobre seu par que provocaram o rompimento, mas como todas as outras, a ressaca dolorosa também passa e, depois de algum tempo, ele estará pronto e deve realizar uma nova tentativa, pois envelhecer só deve ser muito triste, sendo, portanto, a pior escolha.
Nenhum amor é grande o suficiente para sobreviver sem demonstrações efetivas daquilo que se diz.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Fases da vida - Por (*) João Bosco Leal

16 de julho de 2012 

As preocupações com os filhos mudam, mas não acabam. No início, enquanto crianças, ela gira em torno de sua saúde, educação, cultura e futuro, mas passada essa fase, quando já nos orgulhamos dos resultados obtidos nesses setores, começam outras.
Na juventude passamos a nos preocupar com os riscos no trânsito, com sua segurança física, seus negócios, viagens e, posteriormente, com seu casamento. Observamos se seguem ou não nossos exemplos e muitas vezes notamos que estão fazendo o que atualmente já não faríamos, por termos mudado de opinião ou por termos reconhecido que erramos naquele ponto.
Nessa etapa normalmente temos a intenção de, de alguma maneira, aconselhar, orientar, na tentativa de ajudar para que não errem onde já descobrimos que erramos, ou onde poderíamos ter sido melhores e quando eles também passam a ser pais, a preocupação passa a ser com o relacionamento que terão com seus próprios filhos.
Além do natural instinto de preservação da espécie e da continuidade da família, os netos são o maior presente que poderíamos receber na vida, e através deles é que nos enxergamos recomeçando, permanecendo na vida. Os que passaram a ser avós iniciam um novo aprendizado, o de como se relacionar com seus netos. É comum se lembrarem dos próprios avós, e de como se relacionavam com eles.
Passam a entender as diferenças comportamentais e as maiores ou menores afinidades que tínhamos com cada um dos avós, entre os paternos e maternos, quais tinham mais ou menos paciência, o que faziam ou permitiam que fizessem com eles.
Descobrem que um comportamento menos comunicativo ou brincalhão de um dos avós não está relacionado com um maior ou menor amor pelos netos, mas com a própria personalidade de cada um deles e também dos netos. Problemas físicos causados por algum acidente ou pela própria idade também podem limitar esses avós em relação a muitos tipos de brincadeiras com seus netos, o que não significa menos amor.
Diversos ditados populares ensinam que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, ou “os avós são os pais com açúcar”, mas é a própria natureza que constantemente nos mostra que quem é avô já não pode se comportar como pai e que deveria observar isso em todos os sentidos, pois muitas são as demonstrações que ela dá, de que as fases são muito distintas.
A idade cronológica dos avós, que naturalmente já não possuem a mesma destreza, força e fôlego de quando mais jovens, é certamente a maior diferença entre eles e seus filhos. O período durante o qual podiam permanecer com uma criança no colo já não é o mesmo e o simples fato do avô dobrar sua coluna para beijar uma criança de estatura bem mais baixa poderá causar dores em sua coluna vertebral.
A audição e a paciência certamente também já não são as mesmas e, nesse caso, se as pessoas falam baixo e ele não ouve, fica irritado, o que também ocorre com os gritos e manhas das crianças, sejam netos ou desconhecidos.
Por outro lado, muitas são as alegrias dos avós, como a que senti quando há poucos dias ouvi de um neto: “Vovô, eu gostei muito de suas brincadeiras”, uma declaração simples, inesperada e ao mesmo tempo tão profunda, que não soube sequer o que responder. Não pensei que aquela simples brincadeira estivesse provocando sentimentos que certamente permanecerão em por décadas em sua mente.
Todos esses detalhes são demonstrações de como as etapas são diferentes e cada uma só será bem cumprida por quem estiver com sua idade apropriada para tal. Os jovens não possuem experiência ou estrutura psicológica para serem avós e estes já não possuem a física para voltarem a ser pais.
Educar e cuidar do futuro dos filhos é função e responsabilidade dos pais, enquanto a dos avós é de simplesmente brincar, passear e se relacionar com os netos da maneira que não puderam fazer com seus filhos.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.

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