segunda-feira, 16 de abril de 2012

Nossas diversidades


16 de abril de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Em conversa com uma jovem, percebi que ela não concordou e ficou chocada quando eu disse que o brasileiro ainda não possuía sequer uma raça definida. Informou-me que pessoas não tinham raça, mas sim etnia, e que raça quem tinha eram os animais.


Aleguei que isso pouco importava no sentido que eu estava dando à minha declaração, pois o que estava afirmando é que nosso país é muito novo, repleto de pessoas oriundas de países e continentes distintos, que ainda levaria séculos para que fôssemos fisicamente reconhecidos como nascidos aqui, assim como os japoneses, chineses, árabes ou afrodescendentes são reconhecidos.


Interessante que na sequência da conversa, sem perceber a contradição, ela mesma disse que seus avós eram POI – termo utilizado por produtores rurais para identificar animais Puros de Origem Importada -, árabes libaneses.


Tentava explicar que nossas características físicas ainda são muito distintas, como entre os sulistas e nortistas, e na cidade de São Paulo, em decorrência da enorme concentração de pessoas das mais diversas origens, podíamos ver, com maior clareza, o quanto somos uma população ainda fisicamente indefinida.


Desde a descoberta do país e sua colonização, ocorreram concentrações de povos oriundos de países ou continentes em determinada região do país, como os holandeses no Nordeste e os portugueses e espanhóis no Sudeste e Centro-Oeste, mas todos ainda somente próximos do litoral.


Buscando desbravar o país, o governo incentivou a imigração de milhares de pessoas. Foi quando vieram os japoneses e italianos, que se fixaram na região Sudeste, enquanto alemães foram para a região Sul.


Essas diferenças permanecem até os dias atuais, pois sabemos que, principalmente por suas origens, os sulistas são os mais acostumados a trabalhar em sistemas de cooperativas, como na suinocultura e produção de embutidos derivados da carne suína, enquanto os descendentes de japoneses são os maiores especialistas no plantio de hortaliças e na produção de ovos e frangos.


Séculos se passaram e esses povos foram se locomovendo dentro do país, por conta própria ou com novos incentivos governamentais ao desbravamento, como quando da criação dos estados de Rondônia e Roraima e da rodovia Transamazônica.


Já na década de 70, surgiram as novas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste, provocando um enorme fluxo de pessoas para a região, principalmente oriundas do sul.


Toda essa movimentação e os consequentes envolvimentos entre as pessoas que chegavam com as que lá já estavam provocou novas alterações físicas, diminuindo as diferenças entre pessoas dessas regiões e criando novos costumes como o uso do chimarrão na região Centro-Oeste, onde só existia o tereré.


Atualmente, é muito comum vermos, em diversos estados com grande concentração de gaúchos, os chamados CTGs – Centros de Tradições Gaúchas – ou os bailes de forró na cidade de São Paulo, e apesar de todos saberem suas origens, come-se vatapá, farinha de mandioca e pão de queijo em todas as regiões do país.


Era o que estava tentando explicar, que ainda demorará séculos para que consigamos ter um Brasil com pessoas que possuam os mesmos traços físicos e tenham as mesmas culturas, mas podemos nos orgulhar de, mesmo muito miscigenados, ou talvez justamente por isso, sermos esse povo sem preconceitos, disposto a novas assimilações, pacífico e ordeiro.


Ainda levará séculos, mas de nossa miscigenação estamos criando a maior raça, a de todos.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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