segunda-feira, 23 de abril de 2012

Relacionamentos duradouros


23 de abril de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Em busca de relacionamentos mais duradouros e até permanentes, todos questionam as atitudes necessárias para que isso ocorra, como paciência, diálogo, compreensão e renúncia, mas na realidade não existe uma fórmula para a felicidade de um casal.


As paixões iniciais são passageiras e o que realmente perdurará, a amizade, a cumplicidade e o companheirismo, podem e devem ser criados com o tempo.


Em décadas passadas – e em determinadas culturas ainda agora -, os casamentos eram determinados pelos pais, com os noivos ainda crianças. A submissão feminina da época ou em países com essas culturas é que determinava a longevidade dos casamentos, independentemente se promovendo ou não a felicidade do casal.


Atualmente, na maioria dos países, as pessoas podem passear e caminhar de mãos dadas, assistir a filmes ou peças de teatro, ler livros, frequentar qualquer local ou ambiente e viajar juntas, sem a necessidade sequer de estarem namorando.


Essa convivência certamente poderá aprofundar sua amizade e criar afinidades que as aproximarão cada vez mais, abrindo a possibilidade para um relacionamento com bases muito mais sólidas do que aquele iniciado com uma simples paixão.


Só com a maturidade, quando já não se dá importância para aquelas paixões mais comuns na juventude, de origens físicas e pouco racionais, mas se busca alguém com valores éticos, morais, educação, cultura, interesses e objetivos comuns, se adquire esse entendimento.


Nessa fase, entendemos a importância não só de demonstrar, mas de falar sobre nossos sentimentos, de nos declarar, em particular ou publicamente para a pessoa amada, pouco nos importando o que dirão os que estão próximos.


Já entendemos a importância de interromper a leitura de um jornal para fazer uma declaração elogiando seu par que chega, valorizando sua roupa, sua beleza, o novo corte de cabelo que realçou sua jovialidade, mesmo quando isso não expressa uma realidade cronológica, e possuímos a delicadeza de, voltando do mercado, surpreendê-la por ter adquirido a fruta de sua preferência, ou trazendo-lhe uma flor quando menos espera.


Com atitudes e demonstrações de carinho, afeto, amizade e companheirismo, os laços vão se estreitando, de modo que cada um passe a sentir a ausência do outro e a necessidade de com ele dividir suas ideias, planos, sucessos, dificuldades e frustrações.


A participação de cada um nos mais variados temas da vida de seu par vai tornando o casal mais próximo, íntimo, participativo de detalhes muitas vezes estranhos à própria família do outro. Esse envolvimento cria situações de cumplicidade e amizade raras.


Construído diária e progressivamente sobre raízes sólidas, adubadas constantemente com atitudes pequenas, mas importantes, um relacionamento maduro aumenta à medida que os dois se conhecem, descobrem suas dificuldades, costumes, manias, qualidades e virtudes, surgindo daí o amor verdadeiro, real e duradouro.


Colocando na balança todos estes ingredientes, procurando o equilíbrio, os dois acabarão percebendo que no outro existem muitas qualidades e que o carinho e a cooperação superarão os poucos defeitos de cada um deles.


O relacionamento duradouro é aquele onde existe o interesse mútuo em sua criação e manutenção, mesmo quando inicialmente os parceiros não se amam.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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sábado, 21 de abril de 2012

Amizades verdadeiras


20 de abril de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Uma amiga de mais de quarenta anos e que não vejo há mais de trinta, enviou um texto dizendo que havia sonhado comigo, que estava saindo de uma depressão profunda e quando menos esperava eu havia chegado para ajudá-la, para ficar com ela e que, após minha chegada havia sentido muita paz e tranquilidade.


Fiquei extremamente honrado pela amizade e confiança em mim depositadas, mas não pode ser só isso, pensei. Aquela era a mais pura demonstração de uma amizade verdadeira que alguém poderia transmitir, pois era uma declaração de confiança plena, exatamente em seu momento mais difícil, de muita fragilidade.


Existem muitos tipos de amizades, a dos pais, irmãos primos e conhecidos, mas poucas chegam a ser profundas como essa agora demonstrada.


Durante a vida conhecemos muitas pessoas e dezenas ou até centenas delas se tornam nossos colegas, companheiros de trabalho, de luta, de ideal, e normalmente os chamamos de amigos.


São aqueles surgidos durante um baile ou uma viagem, com quem pescamos ou jogamos uma partida, pulamos o carnaval, passamos as férias, estudamos na mesma sala do grupo, colégio ou faculdade.


Entre esses podem surgir alguns que costumamos chamar de amigos do peito, do coração, que são verdadeiros, sinceros ou algumas que podem até mesmo acelerar nossos corações, fazer nossos olhos brilharem, os sorrisos aparecerem com mais facilidade, e se tornar nossa namorada, caminhando por um período ao nosso lado.


Mas as amizades verdadeiras, só muito raramente acontecem. São pessoas mais atenciosas e prestativas conosco, que sabem exatamente quando não estamos bem e estão dispostos a partilhar os segredos, alegrias e angústias das nossas vidas, procurando sempre fazer aquilo que sabem que nos ajudará e deixará feliz.


Os amigos ou amigas verdadeiras são aquelas que, por mais que estejam afastados há décadas, sabemos que com eles podemos contar e com certeza podem ser contados nos dedos de uma só mão.


Já próximo dos sessenta anos, ainda não consigo ultrapassar a contagem dos dedos de uma única mão com o nome daqueles que assim considero, até porque alguns já se foram e muito me orgulho dos poucos que restam, pois tenho a certeza de que com eles poderei contar sempre e em qualquer situação, e eles sabem que o inverso é verdadeiro.


Pessoas assim nos fazem felizes pelo simples fato de um dia terem cruzado por nosso caminho e percorrido um trecho ao nosso lado, quando juntas superamos rampas, descidas, tropeços, quedas e tristezas, demos sorrisos e gargalhadas e até lágrimas derramamos.


Por mais que décadas se passem e que a distância nos separe, elas continuarão onde sempre estiveram, em um cantinho especial, bem no fundo do nosso coração, onde cabem muito poucos, só aqueles marcados por lembranças de momentos maravilhosos que juntos vivemos.


Mesmo incluindo as que não se tornaram nossas amigas, Todas as pessoas que por nossa vida passaram ou passarão são únicas, totalmente distintas e pouco ou muito deixaram de si e de nós levaram, mas naquilo que deixaram ou levaram, certamente o fizeram com uma marca exclusiva.


Observando detalhadamente o que ocorreu em nossos relacionamentos com cada uma das pessoas que passaram por nossas vidas, poderemos facilmente observar que ninguém passou por acaso ou no momento errado, todas nos ajudaram e foram ajudadas, no crescimento de ambas.


A amizade verdadeira nasce de onde ou quando menos se espera e por mais que esteja distante, jamais se ausentará.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Nossas diversidades


16 de abril de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Em conversa com uma jovem, percebi que ela não concordou e ficou chocada quando eu disse que o brasileiro ainda não possuía sequer uma raça definida. Informou-me que pessoas não tinham raça, mas sim etnia, e que raça quem tinha eram os animais.


Aleguei que isso pouco importava no sentido que eu estava dando à minha declaração, pois o que estava afirmando é que nosso país é muito novo, repleto de pessoas oriundas de países e continentes distintos, que ainda levaria séculos para que fôssemos fisicamente reconhecidos como nascidos aqui, assim como os japoneses, chineses, árabes ou afrodescendentes são reconhecidos.


Interessante que na sequência da conversa, sem perceber a contradição, ela mesma disse que seus avós eram POI – termo utilizado por produtores rurais para identificar animais Puros de Origem Importada -, árabes libaneses.


Tentava explicar que nossas características físicas ainda são muito distintas, como entre os sulistas e nortistas, e na cidade de São Paulo, em decorrência da enorme concentração de pessoas das mais diversas origens, podíamos ver, com maior clareza, o quanto somos uma população ainda fisicamente indefinida.


Desde a descoberta do país e sua colonização, ocorreram concentrações de povos oriundos de países ou continentes em determinada região do país, como os holandeses no Nordeste e os portugueses e espanhóis no Sudeste e Centro-Oeste, mas todos ainda somente próximos do litoral.


Buscando desbravar o país, o governo incentivou a imigração de milhares de pessoas. Foi quando vieram os japoneses e italianos, que se fixaram na região Sudeste, enquanto alemães foram para a região Sul.


Essas diferenças permanecem até os dias atuais, pois sabemos que, principalmente por suas origens, os sulistas são os mais acostumados a trabalhar em sistemas de cooperativas, como na suinocultura e produção de embutidos derivados da carne suína, enquanto os descendentes de japoneses são os maiores especialistas no plantio de hortaliças e na produção de ovos e frangos.


Séculos se passaram e esses povos foram se locomovendo dentro do país, por conta própria ou com novos incentivos governamentais ao desbravamento, como quando da criação dos estados de Rondônia e Roraima e da rodovia Transamazônica.


Já na década de 70, surgiram as novas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste, provocando um enorme fluxo de pessoas para a região, principalmente oriundas do sul.


Toda essa movimentação e os consequentes envolvimentos entre as pessoas que chegavam com as que lá já estavam provocou novas alterações físicas, diminuindo as diferenças entre pessoas dessas regiões e criando novos costumes como o uso do chimarrão na região Centro-Oeste, onde só existia o tereré.


Atualmente, é muito comum vermos, em diversos estados com grande concentração de gaúchos, os chamados CTGs – Centros de Tradições Gaúchas – ou os bailes de forró na cidade de São Paulo, e apesar de todos saberem suas origens, come-se vatapá, farinha de mandioca e pão de queijo em todas as regiões do país.


Era o que estava tentando explicar, que ainda demorará séculos para que consigamos ter um Brasil com pessoas que possuam os mesmos traços físicos e tenham as mesmas culturas, mas podemos nos orgulhar de, mesmo muito miscigenados, ou talvez justamente por isso, sermos esse povo sem preconceitos, disposto a novas assimilações, pacífico e ordeiro.


Ainda levará séculos, mas de nossa miscigenação estamos criando a maior raça, a de todos.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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