domingo, 20 de abril de 2014

O MÉRITO VALE O QUE VALE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




    
Acabo de ouvir o nosso Primeiro-ministro elogiar o valor do mérito. Para ele e para muitos gestores, que dirigem o nosso país, o mérito está acima da antiguidade - que o velho Salazar tanto respeitava; e o grau académico, à dedicação e experiência.

Mas o mérito, sendo primordial para escolher trabalhadores, depende muito do parecer de quem avalia.

É do conhecimento geral, que, nas últimas décadas - penso que sempre assim foi, - os dirigentes, na maioria dos casos, são nomeados, consoante o cartão partidário, que possuem, mormente nas empresas públicas.

Basta observar apressa com que muitos universitários se inscrevem na juventude dos partidos políticos, em busca de cargo destacado e rendoso; e a ânsia com que alguns trabalhadores procuram entrar para o secretariado do sindicato ou, pelo menos, para secções ou núcleos de partidos, que existam na empresa.

É que deste modo, o acesso a promoções está mais facilitado ou quase garantido.

Além da política há outros “méritos”, que contribuem para conseguir vida profissional mais facilitada, como: pertencer a associações secretas… ou quase; tornar-se “intimo” amigo do chefe imediato, aquele que vai avaliar; ou obter o “apadrinhamento” de figura influente.

Tudo serve, principalmente para quem não tem escrúpulos, nem moral.

Durante os longos setenta anos de vida, muito vi e ouvi: Conheci jovem, trabalhador dedicado, que pelo Natal foi louvado pela competência e dedicação exemplar, e ainda não tinha chegado o Carnaval e já era afastado sem explicação aceitável… coisas misteriosas que acontece em nome da justiça e independência…

Outro, após ser promovido por mérito, foi arredado do cargo, por ser velho!…Tinha perto de sessenta anos…e ficou o resto da vida com reforma menor a que tinha direito…

Ambos tiveram mérito…mas perderam-no decorrido semanas…É o Carnaval da vida, ou a desdita de ser “vertical”, e não ser filho de “papá”.

Mas há quem só obtenha mérito meses antes de se aposentar… para usufruir reforma mais confortável…

Pedro de Moura e Sá, dizia que o mérito dependia, muitas vezes, da amizade e simpatia de quem avalia; e Cruz Malpique era de igual parecer, acrescentando “outras coisas mais…"como escreveu, e bem, certa vez, no “ Noticias de Guimarães”.

Poderia citar ainda Mário Gonçalves Viana, António Barreto, e muitos outros; mas todos reconhecemos que o mérito depende, quantas vezes, das ideias que se tem, da religião que se confessa e da moral que se possui. Dizia-me, num clube, em que fui assíduo frequentador, certa senhora, de grande cultura e inteligência, que quem manda, em regra, não quer “cabeças” mas “ pescoços “.

Para subir, ser alguém, ter nome respeitado, basta, na maioria das vezes, ser” pescoço” de quem triunfou.

Dito isto, termino, esperando que o leitor tire suas conclusões, baseando-se nos casos que conhece.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


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publicado por solpaz às 14:40

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