terça-feira, 23 de outubro de 2012

TEREZA DE MELLO - DOIS POEMAS: QUANDO EU PARTIR E TARDE CINZENTA

 
 
 
 
 
 
 
Quando eu partir
 
Não chorem nem tenham pena.
 
Como diz o poema,
 
Fui apenas
 
Um passarinho que cantava,
 
A borboleta que voava
 
Procurando a sua flor,
 
Como quem busca o amor
 
Para dar e receber.
 
Fui pedra puída pelo tempo,
 
Rolando com marés.
 
Fui também alguém
 
Que gostava de viver.
 
De cantar
 
E de poder voar.
 
Rocha desfeita em areia,
 
Onda rolando em espuma,
 
Charco que a chuva deixou
 
E pensava ser espelho
 
Dos que passavam
 
E olhavam.
 
Mas não ficavam…
 
Fui um bichinho de conta
 
Enrolado em si mesmo
 
Como berlinde de vidro,
 
Brincadeira de criança. Fui monte ao longe
 
Altaneiro
 
E fui campo de centeio
 
Ondulando pelo vento.
 
Fui tudo que a vista alcança
 
Ou apenas a criança
 
Que nunca soube crescer.
 
Não chorem nem tenham pena
 
Da formiguinha atarefada,
 
Pois fui tudo
 
E não fui nada
 
Nesta vida passageira.
 
 
 
                           TARDE CINZENTA
 
 
 
 
 
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar,
Sem cinto de salvação
Nem bóia para boiar,
Porque me fugia a meu sonho
Que tinha de apanhar,
Riam de mim e troçavam
Os que na praia ficavam.
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar,
Sem cinto de salvação
Nem bóia para baiar,
Porque me fugia o meu sonho
Que tinha de apanhar.
Meu sonho de espuma
Desfeitas pela maré.
 
 
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar.
 
 
 
TEREZA DE MELLO (Maria de Lourdes Brandão de Mello) - Faleceu em Outubro de 2009, na cidade de Abrantes,(Portugal) onde vivia. Foi durante anos colaboradora assidua  do Blogue luso-brasileiro "PAZ" . Autora de vários livros de poemas, e de " A Casa da Barca", edição da Câmara Municipal de Ponta da Barca - Outubro de 2000.
 
Matéria publicada no blog luso-brasileiro "PAZ" – Confira-a clicando aqui.

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