sábado, 12 de julho de 2014

O MELHOR AMIGO DE MOZART - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA










A dedicação, a lealdade, e a gratidão, que os cachorros têm a quem se dedica a eles, é sobejamente conhecida.

Todos conhecemos, ou pelo menos escutamos, cenas comoventes, e provas exemplares de amor.

O cão não é apenas animal de estimação, presta, desde tempos imemoriais, valiosos serviços. É o único ser, que consegue apenas viver de amor.

Os restantes animais têm, que retribuir com trabalho. Ao cachorro, não.

A dedicação, o entusiasmo que demonstram ao verem o dono; o instinto de protegerem quem cuida e lhes dispensa carinho, garante-lhes vida folgada.

Ao ler a biografia do compositor Mozart, fiquei impressionadíssimo com a dedicação do seu cão Pimperl; o único, que indiferente à violenta intempérie, que desabara sobre Viena, acompanhou-o até ao cemitério de São Marxer, atrás do carro que transportava o compositor.

Até à igreja de Santo Esteves, três ou quatro amigos, provavelmente admiradores do talento genial de Mozart - ou seria compaixão? - Seguiram o féretro, depois, só o cachorro - o amigo sincero que tinha, - acompanhou o funeral; e mergulhado em profunda tristeza, assistiu ao sepultamento, em vala comum.

Dizem, não há confirmação, que a esposa, Constanze Weber, não acompanhou o marido, por se encontrar muito comovida.

Decorridos dias, foi ao cemitério certificar-se onde haviam enterrado Mozart.

Disseram-lhe que não sabiam, porque fora atirado para a vala comum: Porém, um coveiro, esclareceu-a, que dias depois, apareceu morto, devido ao frio e à fome, cachorro, no local onde enterraram Mozart, mas tinham-no lançado ao lixo.

Esta informação, digna de registo, nunca foi devidamente confirmada. Biógrafos do compositor, consideram-na fantasia - fazendo parte da lenda urdida à volta de Mozart e do dedicado cão.

A desgraça e a fuga de amigos, deve-se, em parte, à inveja do compositor António Solleri, receoso de ser ofuscado, e perder o prestígio que gozava em Viena.

De concreto quase nada se conhece. - Esquecidos os êxitos de Mozart, as noites de glória, os louvores de reis e rainhas, a condecoração do Papa Clemente XIV, e a admiração de muitos compositores e músicos do seu tempo, Mozart passou a ser um desconhecido…

Uns, dizem que faleceu junto da esposa; outros, que ela estava em Paris, e que a família vivendo em Salzburgo – cidade natal do compositor, – não pode estar presente no funeral, realizado por amigo.

Ao certo, conhece-se que apenas o cachorro o acompanhou à última morada.

Ao ouvir-se a “Flauta Mágica”,”As Bodas de Fígaro” ou “ Don Giovanni”, é bom lembrar que o verdadeiro amigo do genial Mozart, foi o seu cão: indiferente à miséria, à chuva, à tempestade desabrida, que caía, acompanhou o dono até ao cemitério… e ai morreu de amor e saudade.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal




publicado por solpaz às 10:19
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segunda-feira, 7 de julho de 2014

PARECEM ANEDOTAS ... MAS NÃO SÃO - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA





 







Recentemente, o Papa Francisco, disse que ficava com “ pele de galinha” só de pensar que alguns sacerdotes podem ser pequenos monstros, visto faltar-lhes formação que lhes permita contactar com os outros, como pais, irmãos, companheiros de jornada, segundo revela “ La Civilta Cattolica”.

A “pele de galinha” do Papa e a falta de preparação para lidarem com o semelhante, fez-me recordar casos, que presenciei ao longo da vida:



***


Estava a participar na missa, numa Igreja da Diocese do Porto, quando, como preambulo da homilia, o sacerdote, virando-se para a assembleia, declara:

- No altar não deve haver flores, velas, objetos, como está neste. Não sou pároco daqui, por isso é só um reparo.

O comentário, dito em público, desagradou a quem, por gentileza, encarrega-se de enflorar o altar. Além der censura, discreta, ao padre da paróquia.



***



Havia coro, de dezenas de pessoas, ensaiado por modesto maestro, que estava a fazer furor.

Cheguei a ouvi-los na igreja de Nª Senhora da Esperança, no Porto, em missa rezada por alma dos antigos associados dos Amigos do Porto.

Certa ocasião, estava o maestro entusiasmado, e não percebendo que o sacerdote queria prosseguir a celebração, continuou o cântico.

Vira-se o abade. Olha para o coro, e alteando a voz, exclama:

- Acabe lá com a cassete!

Resultado: o maestro desistiu, e o coro desapareceu.



***



Certa vez - foi nos anos sessenta, - estando com meu pai, este, resolveu assinar a “ Voz de Fátima”, para ajudar o jornalzinho.

Entramos na redação. Sentado, junto a secretária havia um padre ainda jovem.

Mal entramos, perguntou:

- O que é que vossemecê quer daqui?!

Ao que meu pai respondeu prontamente:

- Já não quero nada…



***



Na década cinquenta, numa freguesia nortenha, o abade pregou a devoção da Medalha Milagrosa. Recomendou que todos deviam ter uma, informando que no final da missa fossem ter com ele à sacristia.

O mulherio correu em massa. O abade ao ver tanta gente, gritou em voz grossa:

- Desampare-me o aído.

E brincalhão que estava perto da porta da rua, exclamou:

- Deixem o aído para o Senhor abade! …



***



Agora, uma, ocorrida durante almoço, que pastor evangélico me ofereceu:

A esposa, ultimava os últimos preparos, na cozinha, enquanto a filha, de treze anos, punha a mesa.

Inexperiente, atrapalhada, não atinava com os talheres.

O pai, de cara fechada, assistia a tudo e repreendia:

- Também quero ver o que vais fazer?!

Vermelha, como tomate, atarantada, a menina chorava. As lágrimas escorriam-lhe pela face, como duas bicas, e o pai:

- Não são esses. Vai buscar outros….



***



Outrora ia-se para o seminário para estudar de graça. Ser padre dava classe e prestigio.

Os meninos ficavam cultos, mas raramente educados. Agora as vocações, na Igreja Católica, são escassas, mas mais sinceras

Ao invés, em alguma Igrejas Evangélicas e principalmente, seitas, não faltam vocações, pelo menos enquanto receberem remunerações principescas…

Conheci pobre homem, pastor de igrejinha, em Custóias, que lamentava-se da má sorte, porque amigo, cozinheiro de profissão, conseguiu pastorear, recebendo seis mil escudos, em época que metade já seria muito bom para licenciado.

Para finalizar, a declaração, publicada numa revista evangélica, de pastor, ao saber que recebeu chamado para trabalhar nas missões:

- Aceitei, porque sempre ganho para comprar casa na minha terra…

Pela sinceridade…tem o meu aplauso e perdão.






HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:35