sexta-feira, 21 de março de 2014

A ostentação - Por João Bosco Leal



A ostentação
Sempre achei que a mulher paulistana é, no geral, a mais elegante do país, principalmente porque nela, a qualquer momento e em qualquer lugar, podemos observar aquela máxima de que o menos é sempre mais. Passeando pela cidade na semana passada, observava o nítido contraste entre estas e as interioranas.
Enquanto a paulistana é uma mulher que nunca peca pelo excesso, facilmente podemos identificar a mulher do interior do país que, pelo contrário, peca pelo mais. São mulheres que se enchem de adereços como colares, anéis, pulseiras, pinturas exageradas, roupas espalhafatosas, utilizam mais do que o necessário e acabam, com isso, ficando vestidas de mau gosto.
Nota-se claramente a paulistana como uma mulher bem resolvida, autoconfiante, que com uma simples calça jeans, uma camisa masculina branca com as mangas arregaçadas e uma pintura discreta a ponto de parecer não estar pintada, está sempre bem arrumada, enquanto a outra, que pretende se passar por elegante logo demonstra que não é.
 Desde a década de 70 quando lá residia para estudar sempre observei que as paulistanas, sem deixar de comprar produtos da melhor qualidade, sempre fazem suas compras em locais mais baratos e não tem sequer interesse em lojas mais badaladas, caras.
A mulher interiorana, por outro lado, por ostentação ou por ignorância, logo que chega à cidade procura se dirigir a lugares mais "na onda", como aquele que até pouco tempo era o maior templo de lojas de grife do país, também conhecido como um local cujos donos sempre estiveram envolvidos em escândalos com a receita federal por sonegação de impostos, o que provocou seu fechamento.
Procuro entender o que leva uma pessoa a esse comportamento, até porque muitas dessas pessoas mal possuem o dinheiro para pagar táxi que a levou até lá, quanto mais para frequentar locais onde todos os valores são exorbitantes.
Conheço muitas pessoas de outros locais do país que realmente possuem dinheiro, muito dinheiro, que não demonstram o menor interesse em fazer compras em um local como esse, que sequer os visitam quando estão na cidade, enquanto outras, com muito menos recursos ou com nenhuma posse, não admitem a idéia de ir a São Paulo sem passar por locais como esses ou como na famosa rua das lojas de grife, a Oscar Freire, mesmo sem nada comprar, mas para contar onde estiveram mostrando fotos em que aparecem sentadas num banco diante de uma de suas lojas e que a moda agora é isso ou aquilo.
Por diversas vezes vi pessoas deslumbradas com a ostentação de uma famosa e das mais antigas apresentadoras da televisão brasileira que usava anéis, pulseiras e colares de milhões de reais, valores inimagináveis para a grande maioria da população brasileira, que se encantavam ao vê-la usando essas jóias verdadeiras e depois buscavam usar bijuterias semelhantes.
Não é a imaturidade que leva pessoas a esse comportamento, até porque conheço pessoas com a idade já bem madura que muito ostentam, apesar de não possuírem nada. São pessoas que não cresceram, continuam crianças, dependentes, principalmente da opinião de terceiros.
Imagino como deve sofrer uma pessoa que para estar bem precisa mostrar que está e com isso torna-se fútil, vazia, enquanto outras que sabem quem são culturalmente, não precisam demonstrar nada, são autoconfiantes e por onde passam são assim reconhecidas.
As pessoas que muito ostentam podem até ser materialmente ricas, mas são culturalmente pobres.
João Bosco Leal*         www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista e empresário

sexta-feira, 14 de março de 2014

QUANDO FAZIA ENTREVISTAS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


 








No final do século XX, realizei série de entrevistas a figuras que se notabilizaram, na Arte, no Desporto e na Política.

Foi trabalho agradável, não só pela oportunidade de contactar figuras públicas, que apenas conhecia através da TV e imprensa, mas, mormente, ter ficado a conhecer, um pouco, do pensar e da vida íntima de cada um.

Houve recusas; poucas; já que as entrevistas não eram agressivas. Só respondiam, se queriam.

A pedido, desliguei em muitas, o gravador, quando faziam confidências que não desejavam ver publicadas.

Numa, jovem deputado, recentemente saído de juventude do partido, revelou-me reações e modo de pensar de quem frequentava a vida pública portuguesa.

O que mais me impressionou, foi ter declarado a precisão de obter curso superior para ocupar lugar de relevo na política.

Qualquer um servia, mas os mais usuais eram os de Direito e Economia “Quem não têm “Dr.”, é tratado como inferior, não só pelas bancadas dos outros partidos, como pelos nossos.” - Confessou.

Disse-me, que não o declaram abertamente, até chegam a louvar a “habilidade” e a forma como se “ desenrasca” de situações difíceis; mas no falar, nota-se, que para ser respeitado, têm que ter frequentado a Universidade.

Há quem tenha só os cursos da “Universidade da Vida “, e faça sucesso, mas esses são os “ revolucionários” da direita e da esquerda.

Anos mais tarde, no final da primeira década do século XXl, vim a saber que o jovem político tinha razão, ao conhecer o caso do deputado que era engenheiro, não o sendo, e o que usava o título de “Dr.” e mal passara pela Faculdade.

A maioria dos entrevistados desconheciam pormenores dos progenitores, como: datas de nascimento, casamento e local onde os pais se matrimoniaram. Senhora, que ocupava cargo de diretora numa Fundação, por ser familiar do benemérito, confessou-me que nada sabia do fundador, mas iria perguntar aos avós!...

Outros, todavia, veneravam, os pais, e guardavam, como relíquias, fotos e objetos do familiar falecido.

Certo dia, uma viúva, terminada a entrevista, após lhe ter pago o café e as torradas, perguntou-me quanto lhe dava pelas informações prestadas.

Tratava-se de senhora, que fora casada com industrial, e segundo me disseram, vivia muito desafogadamente.

As informações que me transmitiu, eram breves dados biográficos, do marido.

Houve de tudo. Foram mais de centena e meia, e permitiram-me conhecer melhor a sociedade em que vivia.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 15:35