quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aprendendo com os próprios erros


27 de fevereiro de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Desde o nascimento os erros fazem parte de nossa vida e de nosso aprendizado. Ainda na maternidade já aprendemos que não devemos olhar diretamente para a luz, que o leite que sacia nossa fome não sai da ponta de nossos dedos, da fralda ou de qualquer outro objeto que suguemos, mas só do seio materno.


Iniciando com esses pequenos aprendizados, até o final de nossas vidas jamais deixaremos de ter oportunidades de novos conhecimentos, seja estudando, observando, com as experiências alheias ou com as próprias, o que provoca a grande diferença que se nota entre os diversos seres humanos, pois cada um estuda, vê, observa e aproveita – ou não – as experiências, de modo diferente.


Já nos primeiros dias podemos notar crianças que, mesmo com esforço, ou porque a mãe tem pouco leite ou porque ainda é fraco, não desistem e sugam bastante, provocando o aumento da geração de leite e seu consequente fortalecimento, enquanto outros, achando difícil a sucção e o pouco resultado obtido, acabam não lutando muito, com isso o leite vai diminuindo e eles a cada dia se tornam ainda mais fracos.


Crescendo um pouco mais, quando começamos a frequentar as escolas, já nos primeiros dias de aula podemos observar as crianças que ficam fascinadas com a presença de tantas outras para poderem brincar, conversar e fazer amizades, enquanto outras se assustam com o movimento e ficam mais retraídas. Notamos as mais sociáveis, as tímidas, as que partilham seus brinquedos e as que nada dividem.


Mas o mais interessante é observar a reação de cada uma em relação às suas próprias experiências fracassadas, quando não são correspondidos em uma amizade, paquera, ou quando não se saem bem em uma prova. Uma simples queda, durante as brincadeiras no intervalo, mostrará reações totalmente diferentes em cada criança. Notaremos as que se levantam e continuam correndo, as que ficarão olhando se estão rindo dela, as que chorarão e assim por diante.


Essas características são notadas nos jovens adultos ou velhos. Existem os que procuram aprender com suas quedas, os que só se preocupam com a opinião dos outros, aqueles que não se importam com nada, os que continuarão, e os que desistirão de sua busca, achando tudo muito difícil e arriscado.


Podemos notar pessoas que tomam atitudes e as que seguem os outros, os líderes e os comandados, os descobridores e os usuários, os bons e os maus, os inteligentes e os nem tanto, os vencedores e os fracassados. São essas diferenças que tornam o mundo tão fascinante. A cada um é dada a chance de escolha de seu caminho, suas amizades, seus companheiros e companheiras, e claro, de arcar com os resultados obtidos.


Alguns sequer saem do lugar onde estão, por não querer arriscar, com medo de tropeçar ao dar o primeiro passo e assim passam a vida, imaginando que tudo será difícil, se assustando com o simples rastro da onça como diz o velho ditado. Sem arriscarmos realmente não damos oportunidade para o erro, mas jamais acertaremos, seja comercialmente, em uma amizade ou relacionamento.


Arriscar sempre foi e será válido. Sem as tentativas fracassadas não teríamos chegado à descoberta de muitas vacinas e curas de milhares de doenças. Em busca delas muitos sonhadores foram considerados insanos, que nunca alcançariam seus objetivos, mas foi por suas imaginações e sonhos que o homem chegou à Lua e hoje explora outras novas descobertas, antes sequer sonhadas.


Não podemos nos acomodar, pois mesmo os amores não correspondidos jamais impedirão o encontro de outro e as dores do coração sempre ensinam algo para a próxima tentativa.


A vida não teria mesmo graça sem os erros, dificuldades, aflições e dores, que por maiores que sejam, no futuro, boas ou não, serão somente lembranças.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Momentos felizes

20 de fevereiro de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Sempre ouvi pessoas comentando sobre sua busca da felicidade, como ser feliz e coisas parecidas. O tema também é muito comum nas centenas de títulos de livros expostos nas livrarias, que dizem ensinar caminhos para essa felicidade.


Recentemente recebi um e-mail que falava sobre a importância dos momentos de felicidade, uma vez que a felicidade plena, essa imaginada e buscada por todos não existiria e só seria possível vivermos momentos felizes.


Olhando à minha volta, pensando nas pessoas que conheço e analisando minhas próprias experiências, conclui que passamos mais tempo buscando essa tal felicidade do que procurando criar momentos felizes diariamente, como o de dar um abraço apertado em um amigo, irmão, filho, neto ou contar uma piada divertida.


Estamos sempre em busca de coisas grandiosas e com isso não vivemos as pequenas, que no conjunto, poderiam proporcionar-nos, e aos nossos próximos, dias muito mais agradáveis.


Isso também ocorre no comércio, pois estamos sempre em busca de construir ou inventar algo enorme, maravilhoso, quando cada vez mais se comprova que o que realmente faz sucesso são coisas simples, especialmente aquelas que facilitam a vida, o comércio, a comunicação, a alimentação e a diversão das pessoas.


O lucro da fabricação ou venda de uma caixa de fósforos, ou de um isqueiro cricket, pode ser proporcionalmente muito maior do que a venda de um computador ou mesmo um automóvel, produtos de construção muito mais difícil, cara e complexa, mas poucos pensam em fabricar caixas de papelão, imprescindíveis em todos os segmentos da indústria e do comércio. A grande maioria está sempre pensando em descobrir, inventar, produzir ou vender algo bem maior, sem se lembrarem de que proporcionalmente, provavelmente será menos rentável.


As buscas por esse grande produto e pela felicidade total acabam fazendo com que deixemos de lucrar muito vendendo milhões de caixas, ou vivermos centenas de pequenos momentos de felicidade. Fechando os olhos para coisas pequenas, acabamos não vivendo nem essas nem as grandes.


Perdemos muito tempo procurando inventar ou descobrir algo inédito e que nos torne milionários ou a felicidade plena. Com isso, muitas vezes deixamos de produzir mais e não percebemos grandes oportunidades de ganhar dinheiro ou vivenciar diversos momentos de felicidades simplesmente por estarmos focados em objetivos muito distantes. Buscando coisas praticamente impossíveis, não percebemos e deixamos de atingir as possíveis que, não raramente, estão próximas.


Passamos noites e dias sonhando, imaginando momentos maravilhosos, especiais, mas só depois de muito tempo percebemos quantos assim já perdemos, deixamos passar, por estarmos em busca de algo maior ainda, ou nos desgastando por guardar lembranças e mágoas dos momentos tristes, quando deles é que deveríamos procurar nos esquecer, arquivando na memória apenas o aprendizado, a experiência vivida em cada episódio.


A constatação da perda, do não aproveitamento desses momentos, normalmente ocorre com todos, mas ainda assim acaba pouco ensinando, pois continuamos não colocando em prática esse aprendizado e aproveitamos minimamente os momentos alegres que diariamente ocorrem em nossas vidas, tanto que é comum lembrarmos como deixamos de aproveitar, demos pouca ou nenhuma importância a momentos que vivenciamos tempos atrás, que poderiam ou deveriam ter sido mais intensamente vividos. O mesmo ocorre nos relacionamentos, onde estamos sempre procurando algo duradouro, quando o que importa é a intensidade enquanto durou.


No balanço geral da vida, pouco importa se fizemos grandes descobertas ou vivemos raros momentos de felicidade plena, mas se fomos felizes muitas vezes


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os divertidos sinais do tempo - Por João Bosco Leal


17 de fevereiro de 2012

Por (*) João Bosco Leal

Como já estou perto de adquirir uma nova maioridade, agora após minha idade ter adquirido a terminação “enta”, normalmente me surpreendo em busca de meus óculos de leitura, aqueles “para perto”, que já não é encontrado em decorrência de uma simples alteração do local tradicional de colocação, sobre um móvel.


Como já não consigo ler ou enxergar os detalhes de praticamente mais nada sem eles, muitas vezes me irritava com esses sinais da idade. Durante uma leitura realizada recentemente, fui novamente levado a pensar sobre a sabedoria da natureza. O texto falava sobre o significado simbólico dessas alterações, que seria a natureza dizendo para darmos menos atenção às pequenas coisas e desenvolvermos uma visão mais global, enxergarmos a floresta e não a árvore.


Ao tentar procurá-los, percebo que o simples ato de me levantar e sair andando já não é mais possível, pois nesse momento surgem as incômodas dores de um corpo já enferrujado, que para cada mudança de posição necessita de um tempo, um alongamento, para depois ser iniciada a caminhada.


Estes sinais aparecem juntamente com as mudanças de nossos comportamentos, quando passamos a não realizar mais nada com a pressa que tínhamos na juventude, pois percebemos ser até irracional a mudança de velocidade de nosso veículo de 100 para 140 quilômetros por hora e questionamos qual a importância de chegarmos ao destino em um tempo quarenta por cento menor do que seria executado na velocidade anterior, que valha a pena o aumento tão significativo dos riscos.


Domingo passado acordei tranquilamente, sem nenhuma pressa, pois como dizem é o dia da preguiça. Tomei meu banho, o café e já havia passado das oito horas quando sai em busca de jornais. É o dia em que, na cidade onde resido, ocorre a distribuição gratuita de vários jornais, entregues na principal avenida, esquina com a mais tradicional rua do comércio e para lá me dirigi.


Interessante que, chegando ao local, não havia as comuns filas dos carros para receber os jornais e sequer os entregadores dos mesmos. O que teria acontecido? Como ocorrera uma mudança e das ilhas centrais da avenida foram retiradas as vagas de estacionamento – onde estacionavam os veículos que serviam de depósito dos jornais a serem distribuídos-, pensei na possibilidade de haverem mudado de local e virei à direita, na rua do comércio.


Estranhamente notei a rua muito movimentada para um dia de domingo, com muitos veículos nas várias pistas e muita gente andando pelas calçadas. Transitando lentamente, percebi que todas as lojas estavam abertas e comecei a me questionar se estávamos na véspera de algum feriado que explicasse aquilo. Não me recordei de nada e, chegando à próxima esquina, sem nenhum sinal dos jornais sendo distribuídos, o sinal fechou.


Com o veículo parado olhava curioso para todos os lados e não estava entendendo aquele comércio tão movimentado num domingo. Seria véspera de algum feriado, ou já era segunda feira e eu me enganara? Será que dormi tanto assim que nem sequer vi passar o domingo? O que estava ocorrendo?


Percebendo ao lado um casal com os vidros do carro abertos, perguntei: hoje não é domingo? O senhor respondeu que não e eu então, para confirmação de minhas suspeitas perguntei novamente: é segunda feira? Parecendo incrédulo, ele olhou para a senhora que o acompanhava e respondeu: é sábado, como que perguntando se eu estava vindo de outro planeta ou algo assim, não sabendo quando nem onde havia caído.


Pensei, é…, todos os sinais da idade mais avançada realmente já haviam aparecido. Mas depois até me diverti com o ocorrido, pois quem é que já não ficou assim, um pouco perdido?


Aquele que não se envergonha de seu passado, e se orgulha das sementes plantadas, aceita de bom humor as mudanças físicas e mentais que ocorrem com o tempo.


(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.


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