quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Trajetórias - Por João Bosco Leal*



 Muitas vezes sinuosa e outras retilínea, a trajetória de nossas vidas é repleta de mudanças não planejadas ou inesperadas.

Talvez por medo desses acontecimentos não previstos, "... os homens avançam sempre por caminhos traçados por outros homens e dirigem seus atos com base na imitação,...", diz Maquiavel em seu livro O Príncipe, e completa: "... o homem prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar aqueles que se mostraram excepcionais...".

Entretanto, ainda no mesmo livro, o autor diz: "Assim, fora necessário que Moisés encontrasse o povo de Israel escravizado e oprimido pelos egípcios para que este, buscando dar fim à sua escravidão, dispusesse-se a segui-lo". 

Moisés era um Semita da Tribo de Levi, filho de Anrão e Joquebede, que foi encontrado por Hatshepsut, filha do Faraó Ramsés II, boiando em uma cesta quando esta tomava banho no rio. Solteira, ela pediu a uma de suas servas - justamente Joquebede -, que a ajudasse a criá-lo e anos depois o adotou oficialmente: "Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou por filho, e lhe chamou Moisés, dizendo: Porque das águas o tirei" (Êxodo 2:10).

Aos 40 anos, já sabendo que não era filho legítimo do Faraó e após ter matado um feitor egípcio, ele é obrigado a partir para exílio, a fim de escapar da pena de morte. Fixa-se então na região montanhosa de Midiã, situada a leste do Golfo de Aqaba.

Posteriormente tornou-se o encarregado da construção de novos palácios, construídos em novas terras que o Faraó se apossara ou tomara em guerras, mas não concordando com a maneira que os egípcios tratavam os hebreus - seus escravos que trabalhavam nessas construções -, rebelou-se contra isso e, por quarenta anos, guiou o povo de Israel para a Terra Prometida.

Esse povo, composto de centenas de tribos seguia aquele que os libertara da escravidão rumo ao que, para eles, era totalmente desconhecido. Era uma nova trajetória, uma opção, provocada pela necessidade, mas uma escolha.

Assim como todas essas tribos, todos podem seguir alguém ou escolher o próprio caminho, já conhecido, desconhecido, ou mesmo permanecer do mesmo modo, sem alterar em nada a vida que levam.

Caminhar pode provocar bolhas nos pés, tropeços, quedas, mas os que se levantam e continuam, notarão que as feridas serão curadas, os pés e o corpo se acostumarão e certamente atingirão um local desconhecido para os que lá chegam.

Durante a vida, na trajetória escolhida por cada um, pessoas e locais são conhecidos, algumas ou até mesmo raras amizades e inimizades são criadas, mas sempre algo novo, inesperado ou surpreendente, ocorrerá. O que não se deve é acovardar-se, ter medo do inesperado e permanecer em situações que não lhe proporcionarão mudanças, crescimento.

As quedas fazem parte da vida e do nosso aprendizado. Cair dói principalmente no orgulho, e mais ainda, quando outras pessoas estão envolvidas. Entretanto, humilhante mesmo não é cair, mas permanecer no chão enquanto a vida continua.

Nossos enganos, quedas ou perdas não devem ser lamentados, pois o mundo não acaba quando isso ocorre. No máximo, eles nos ensinam que devemos mudar nossa trajetória, aprender com nossos erros e acertos.

*Jornalista, escritor e empresário

FUTEBOL: UM MUNDO À PARTE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




 O Anuário de Futebol Português e Europeu - 1983/4, publicou texto de Marcelo Rebelo de Sousa, equiparando a política ao Futebol:” Aos seis anos era entusiasta de bancada. Aos 10 começaria a sê-lo no relvado. Aos 25 anos era director da Federação Portuguesa de Futebol. 

Em tantas e diversas experiências não encontrei nada (nem mesmo o jornalismo) que se parecesse com a política do que o Futebol.”

Por serem tão semelhantes é que nunca ouvi político criticar o desgoverno de clubes desportivos e os escandalosos vencimentos que treinadores e jogadores recebem. Se Primeiro-ministro contratasse, por milhões, economista famoso, capaz de equilibrar as contas públicas e colocar o país ao nível das mais adiantadas nações do mundo, caía o Carmo e a Trindade. 

A oposição bradaria: que havia crianças com fome e famílias na miséria. Era desrespeito com o povo, pagar milhões a um ministro! Mas se o clube paga seis milhões ou mais, não há da direita à esquerda quem proteste. Medo? Não. Sabem que se arriscavam a perder as eleições.

As línguas palradoras emudecem quando o assunto é dinheiro do Futebol!

A esquerda pronta a criticar o capitalismo, os empresários e vencimentos doirados de gestores, calam-se perante milhões e biliões de euros que o mundo desportivo movimenta.

Salazar – o mais inteligente político português do século XX, – sabia perfeitamente o poder do Futebol, para adormecer e desviar o povo dos reais problemas da nação.

Apelidaram-no até como o homem de três “F’s” – Futebol, Fátima e Fado.

O Futebol continua, e com mais força com a chegada da democracia. Fátima é tolerada, por respeito à fé do povo. O fado, depois de silenciado – ainda não descobri a razão, – renasceu ao ser considerado património mundial.

Os Mundiais de Futebol, são, em regra, desastrosos para a economia das nações que os realizam. Mesmo assim são disputadíssimos pelos países! …

É mais fácil construírem estádios, que hospitais e pronto-socorro… e até escolas!

O político, no poder, precisa, como os Césares de Roma, divertir o Povo.

O Imperador Romano tinha o circo. O Coliseu, com espectáculos degradantes. O político actual – da direita à esquerda, – anestesia o povo com futebol e Carnaval.

Com tambores, fanfarras e “guerrinhas” desportivas, o poder divertem e governam ou desgovernam. Por vezes até os “amigos” se governam…



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 11:32
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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O tempo e as escolhas - Por João Bosco Leal*




Quando crianças, além do tentar caminhar, um dos maiores desafios de todos é a formação das primeiras palavras e das primeiras frases, com as quais nos comunicaremos pelo resto de nossas vidas.

Nos primeiros anos, tudo é diversão, brincadeira. Além da alfabetização, que já parece ser uma responsabilidade enorme, ninguém quer ter qualquer outra. Só as brincadeiras e passeios com os amigos da escola são importantes.

Na juventude descobrimos as sensações e os sentimentos, tanto os prazeirosos quanto os dolorosos. É também quando começamos a perceber que a vida nos exigirá estudos, trabalho e responsabilidades, sem os quais nosso futuro será pouco promissor.

Quando adultos, temos muitos sonhos, projetos, vontades, esperanças e ambições. No futuro só vislumbramos o sucesso, o que conseguiremos, até onde chegaremos e como seremos vitoriosos. A grande maioria imagina, inclusive, que todos admirarão seu sucesso.

Na maturidade, enxergamos a realidade, o que a vida dá e o que ela cobra. Percebemos claramente a diferença entre o que quando adultos projetávamos e o que realmente coseguimos realizar. Alguns projetos sofreram alterações, outros foram deixados de lado ou substituídos por diferentes. Muita coisa mudou.

Nesta etapa, tudo vai ficando muito simples, a ponto de, às vezes, nos assustarmos de quanto estamos mudando. Olhamos para nossos armários e vemos roupas que nem lembravamos que existiam.

Nas gavetas do criado mudo encontramos produtos que nem sabemos para que servem, ou porque estão ali. Vamos perdendo muitas das nossas necessidades anteriores, reduzindo as roupas nos armários, os calçados, as malas, enfim, a bagagem.

Durante muitos anos, demos excessiva importância à opinião dos outros, elas nos incomodavam muito. Agora, são realmente dos outros e, mesmo que sobre nós, são exclusivamente deles, não tem a menor importância.

Por mais que sintamos grande afinidade ou mesmo que delas gostemos, deixamos de buscar a companhia das pessoas que não buscam a nossa. Não nos farão diferença, pois já aprendemos que só vale a pena estar ao lado de quem também quer estar do nosso.

No mais das vezes, não há como desfazer aquilo que já está feito, mas a vida sempre nos permite fazer de novo, de uma outra maneira, sem incidir nos mesmos erros do passado.

Os planos de futuro deixam de ser para amanhã. Passamos a querer viver o hoje, pois sabemos que o amanhã pode não existir e isso nos torna mais leves, tranquilos, com muito menos preocupações.

Os debates em busca de quem tem razão normalmente só causam mal estar entre as pessoas e, por isso, aprendemos a deixar de ter certezas, o que não nos faz a menor falta.

Os julgamentos, antes realizados com muita facilidade, também vão deixando de existir, pois não existe a certeza absoluta, mas sim as opções de vida escolhidas por cada um.

Constatamos, em nossa própria vida, a realidade do que muitos já haviam escrito ou mesmo nos dito: "Cada um é o resultado de seu passado".

Só o tempo ensina que seremos cada dia mais felizes escolhendo fazer somente o que alegra o nosso coração.

*Jornalista, escritor e empresário