sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS AFECTOS QUE NÂO DEMOS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






Pouco a pouco, lentamente, ano a ano, quase sem sentir, avizinha-se o fim da jornada.

Passamos a vida a cuidar – da nossa saúde, da nossa carreira profissional, da satisfação dos nossos desejos; olvidando que para ser feliz é mister cuidar dos outros.

Adiamos sempre para amanhã – que nunca chega, – para conviver, abraçar o amigo, o familiar, porque não temos tempo…ou por comodismo…

E para amanhã ficam os telefonemas, as conversas, as horas de convívio com aqueles que nos querem bem.

De longe a longe, dizemos-lhes: - Havemos de combinar…mas sabemos que o amanhã nunca chegará…

E deste jeito, quantos abraços deixamos de dar? Quantos elogios ficam por fazer?

Mas, em hora inesperada, chega a doença, surgem as limitações e então cogitamos: por que não disse o que ia na alma?! Por que não abracei meus irmãos e a causa que me era querida?!

Adiamos sempre: Amanhã vou fazer isto. Hei-de dedicar-me à música. Quando aposentar-me vou pintar…Servir uma causa humanitária…Sempre para amanhã…Sempre para o futuro.

Vivemos dentro de um sonho. Só muito tarde acordamos e, estupefacto, verificamos que não vivemos…As oportunidades e a saúde, passaram…e o tempo não volta.

Lamentamos, então, os anos perdidos. A juventude que passou… e o que passou…não passará mais…

Já não vamos a tempo de dizer: quanto amavamos a nossa mãe, a nossa irmã, aqueles que connosco repartiram a vida – os amigos, os colegas de trabalho, os companheiros que cruzaram com a nossa vida.

Então lamentamos, os abraços que não demos. Os beijos que deixamos de dar. Os afectos que tornariam felizes os que aguardavam os nossos carinhos….Mas é tarde…Muito tarde…Porque o tempo é como as águas do rio, nunca passam pelo mesmo lugar.




HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal


publicado por solpaz às 10:39
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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

COMO SE DISTRIBUEM OS "OSSOS" - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA







Estando a almoçar com beirões, na Casa da Beira, um dos presentes, contou, que o filho fora preterido de certo lugar, a que concorrera.

Admirava-se, o comensal, que o cargo de chefia fosse entregue a trabalhador indisciplinado, arrogante, e nada zeloso, e não ao filho, que sempre fora pontual, dedicado e respeitador.

Ao ouvir isso, lembrei-me da pergunta que vassalo de D. Afonso de Aragão, fez ao Rei, ao verificar que Sua Majestade era sempre generoso para quem conspirava pelos corredores do palácio:

- Por que não lhes nega benesses e ainda os recebe com deferência?!

Ao que o Rei, respondeu, sorrindo:

- Aos cachorros, dá-se-lhes ossos, para que não mordam, e permaneçam calados…

Assim fazem muitos dirigentes e líderes políticos, para se manterem nos lugares que ocupam.

Muitas vezes interrogo-me: os cargos são dados pelo mérito, ou por medo?

Se o trabalhador prevarica, e é “ revolucionário” é reaprendido moderadamente ou relevada a falta; mas se é bem comportado, respeitador e educado, o castigo é severo – para dar exemplo…

Não há dirigente que confirme o que digo; mas, meus poucos cabelos brancos, são testemunha dessa veracidade.

Por isso, é que os trabalhadores mantêm-se no sindicato e partidos políticos, para serem nomeados e promovidos mais rapidamente, sabendo que os superiores, dão, em regra, mais valor ao cartão partidário ou sindical, que à dedicação de décadas à empresa

E sabem por quê?

Porque muitos chefes, são-no, graças à cor partidária e à atividade sindical que exerceram.

Quem quer estar sossegado e seguro no cargo que exerce, tem que usar o método de D. Afonso de Aragão:

Dar “ossos” àqueles que temem, mesmo sabendo, em consciência, que o “osso” devia ser entregue ao “cachorrinho” educado e leal.




HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 10:39

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

As rugas - Por João Bosco Leal (*)



As rugas

Tornou-se comum entre os brasileiros utilizar muitos dos recursos atualmente disponibilizados pela medicina para retardar seu envelhecimento. Vitaminas orais ou injetáveis, suplementos minerais e os mais diversos tipos de cirurgias são utilizadas com essa finalidade.

Em busca da beleza física, os salões de beleza estão repletos de homens fazendo as unhas, limpeza de pele, depilação, tratamentos capilares e outros soluções antes só utilizadas pelas mulheres.

Caminhadas, corridas e academias de musculação acompanhada por um Personal trainer já fazem parte do quotidiano da população que tem tempo e pode pagar por isso.

Nas clínicas de cirurgia plásticas são encontradas pessoas em busca da correção de detalhes mínimos em seus físicos, como rugas nos cantos dos olhos e testa, as "papadas" abaixo do queixo, narizes ou orelhas que não as agradam, preenchimentos labiais e de outras partes do rosto, "esticadas" na pele facial já flácida, implantes capilares e de silicones nas mamas, nádegas e muitas outras possibilidades oferecidas para a "escultura" dos corpos.

Normalmente elas sofrem por não aceitar as leis da natureza e terminam por espalhar esse sofrimento para todos que os circundam. Entretanto, mesmo com todas essas possibilidades, querer reconquistar a memória ágil, a forma e a agilidade física ou a barriguinha que possuía na plenitude da juventude, seria algo de preço extremamente elevado e muitas vezes, além dos riscos, expõe a pessoa a resultados inversos ao desejado, transformando-a em uma caricatura de si mesma.

A natureza jamais permitirá que verdadeiramente retrocedamos vinte ou trinta anos em uma mesa cirúrgica e essa é a graça da vida. Passamos por diversas fases e em cada uma crescemos, aprendemos, acertamos, erramos, amadurecemos e, maduros, sabemos o que nunca conseguiríamos saber décadas antes.

Ocorre uma troca, a juventude passa, mas o conhecimento se avoluma, permitindo uma vida com mais sabedoria, harmonia com o próximo, menos desgastes desnecessários, aprendemos a admirar e aproveitar mais cada detalhe de um novo raiar ou pôr do sol, que a natureza nos disponibiliza diariamente e que décadas atrás não eram sequer notados.

Muitas coisas do passado são hoje impraticáveis e é bom que assim seja, pois com a maturidade percebemos que no passado falamos ou fizemos coisas que hoje não repetiríamos, corremos riscos desnecessários, andamos depressa demais e que, muitas vezes, poderíamos ter nos machucado e até mesmo morrido.

A lei da gravidade, a menor agilidade, as diferenças nos prazeres físicos são, psicologicamente, transformadas em sofrimentos, mágoas, tristezas, quando poderiam ser encaradas de forma mais sutil, se entendidas simplesmente como alterações e não como fim, pois nada terminou, só mudaram os padrões de beleza, o modo e o tempo que se leva em busca do prazer, o que inclusive pode ser encarado como uma grande vantagem. 

Todos possuem um arquivo mental, onde guardam suas histórias, os erros e acertos, as perdas e ganhos, os fracassos e sucessos que agora os ensinam a buscar uma vida melhor, com mais qualidade, sem angústias desnecessárias, que nada resolverão.

As rugas são os sinais de como aprendemos a esquecer o inatingível e a só buscar o possível.
João Bosco Leal*     www.joaoboscoleal.com.br

domingo, 5 de outubro de 2014

AS ÚLTIMAS AVOZINHAS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA






Durante as férias de Verão, resolvi visitar o Alto-Minho. Aproveitei o passeio para conviver com velha amiga, viúva de médico, e mãe de três filhos.

Recebeu-me ao portão do antigo solar, e levou-me para escadaria de pedra, que dava acesso a ampla sala, cujas janelas de guilhotina, encontravam-se cobertas de pesados reposteiros encarnados.

Esta velha amiga, pouco mais idosa do que eu, vive sozinha, na companhia de duas empregadas. Os filhos há muito abalaram para a capital, onde exercem profissões liberais.

Durante largas horas, conversámos sobre acontecimentos, em que ambos fomos protagonistas, e que nos deixaram saudosas recordações.

Contou-me que semanas antes, tivera grande alegria, seguida de desilusão, que a deixou muito contristada.

A neta, telefonou-lhe para lhe dizer que vinha passar uns dias a sua casa.

- Saltou-me o coração de contentamento, quando ouvi a sineta do portão tocar – confessou-me.

A netinha, logo que chegou, foi a correr para o quarto. Depositou a mala; guardou os pertences; envergou vestido mais ligeiro; e veio merendar.

- Estou tão feliz! … - Disse-lhe a avó.

Com a natural sinceridade de adolescente do século XXI, prontamente respondeu:

- Vim de castigo! O papá disse-me: “ Como ficaste reprovada, vais de castigo para casa da avó…É uma maçada!...Bem gostaria de ficar em Carcavelos, com meus amigos…”

A velha e querida amiga, ao contar-me isso, tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.

No meu tempo de menino, a avó era imprescindível: cuidava das crianças; ia busca-las à escola; dava-lhe banho; e muitas vezes estudava com elas, para facilitar a assimilação da matéria.

A avozinha era o membro da família mais querido. Os netinhos adoravam-na. Com a desagregação da família – difusão do divórcio e a partida dos filhos para os grandes centros, – os avós passaram a ser estorvos.

O lugar dos idosos deixou de ser junto dos filhos e netos, e passou a ser: nos lares, internados, muitas vezes, à força.

Ficaram condenados a viverem sozinhos ou em “ armazéns”, onde convivem com doentes, dormem com estranhos, e obrigados a permanecerem longas horas, embrulhados em mantas, diante de aparelhos de TV.

Felizmente, a maioria dos lares, já não recorrem a “drogas”, para mantê-los sossegados, como acontecia antigamente.

A senhora que visitei, graças aos bens que possui, não necessita de se internar numa residencial, mas nem todos os avós têm igual sorte.

O episódio que contei é elucidativo da forma como os adolescentes são educados:

O pai castiga a filha e envia-a para a avó, como se sua casa fosse prisão.

A neta, sem piedade, declara à avó – que a recebe de braços abertos, – que preferia estar com os amigos em Carcavelos.

Assim vai a juventude…e a educação que recebe.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto,Portugal

publicado por solpaz às 10:44