sábado, 27 de setembro de 2014

Quem já amou - Por João Bosco Leal (*)




Quem já amou

Milhares de pessoas vivem casamentos de décadas pensando ou dizendo amar seu cônjuge, o pai ou a mãe de seus filhos, mas, no fundo, quando param e meditam um pouco mais profundamente sobre o assunto, percebem que isso não é verdade, que estão se enganando.

São vários os motivos que as levam a esse comportamento, mas os principais são a acomodação e a dependência financeira, décadas atrás provocada pelo despreparo profissional das mulheres, mas atualmente pelas exigências consumistas cada vez maiores, impostas pela sociedade em que vivemos, onde se gasta sempre mais do que se ganha.

As paixões iniciais já não existem, mas surgiram laços como os patrimoniais, sociais e os filhos, que são difíceis de serem desfeitos. A moradia conjunta, os amigos comuns e a dependência recíproca dos que assumiram financiamentos conjuntamente, são algumas das centenas de alegações que, normalmente, dizem dificultar bastante um rompimento.

As pessoas nessa situação vivem fugindo da realidade, se escondendo da vida real, pois não querem enfrentar os problemas. Fingem acreditar que tudo mudará, mesmo que, no fundo, saibam que isso não é verdade, nunca ocorrerá.

Um relacionamento conjugal não sobreviverá se estiver apoiado em interesses materiais. Ele precisa ser muito mais profundo, estar fundamentado em amizade, carinho, companheirismo dedicação e projetos comuns, mas se não estiver assim lastreado, é melhor que seja desfeito, pois jamais proporcionará a felicidade conjunta.

Entretanto, quando o amor é verdadeiro, qualquer pensamento a respeito de um possível rompimento é inimaginável, apesar de poder ocorrer quando, por exemplo, um dos lados se defronta com alguma situação que o desagrada bastante e, repentinamente, sem muito pensar, diz que tudo está acabado.

Na realidade não era o que queria que ocorresse, mas certamente pensava que, assim dizendo, mostraria que realmente estava realmente insatisfeito com a situação e, então, mesmo em um casal que se ama muito, se naquele mesmo momento, por algum motivo, o outro também está insatisfeito com o relacionamento ou em uma situação de grande tensão, pode ocorrer um rompimento que segundos antes era inimaginável para os dois.

Quando isso ocorre, inconscientemente, eles passam a ter um comportamento muito comum nos seres humanos, que é o de "medir forças". Nenhum dos dois cede, reconhece o erro ou pede desculpas, o que dificulta bastante o retorno ao status quo e eles realmente acabam se separando.

Passado algum tempo, já sem as tensões daquele momento e refletindo mais profundamente, se o amor realmente era verdadeiro, é comum vermos uma das partes transpor as mais difíceis barreiras - até mesmo superando seu orgulho próprio - e procurar, se desculpar, justificar, fazendo de tudo em busca de sua reconquista, de uma nova chance.

Essa sempre foi e será a opção daqueles que já amaram verdadeiramente, porque a experiência de um amor verdadeiro é indescritível e quem já o viveu não se conforma mais em viver sem ele, sentindo, constantemente, sua saudade transbordar do coração e, em forma de lágrimas, escorrer pelos olhos.

Como dizia o poeta Vinícius de Morais: "Quem já passou por esta vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu, porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu, ai. Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não".

Quem já amou, mesmo que com os pés cansados, sempre dará um novo passo em busca de reviver algo igual.
João Bosco Leal*    www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e empresário

sábado, 6 de setembro de 2014

HOJE TODOS SABEM TUDO...- Por HUMBERTO PINHO DA SILVA





   
Sempre que abro o aparelho de TV e vejo entrevistas ou colóquios de entendidos, verifico que – não há médico que não conheça a cura certa para quase todos os males; político que não saiba resolver qualquer situação; economista que não consiga – quase por magia, – equilibrar as finanças; e intelectual que não discuta, de cátedra, todas as ciências.

E no entanto, com tanta sapiência, com tanta gente competentíssima, se precisamos de médico, este, muitas vezes, não nos sabe curar; o economista não consegue solucionar os graves problemas financeiros; e o político, só descobre caminhos fáceis, se está na oposição.

Jeracy Camargo, no curioso livro: “ Deus lhe Pague” pela voz do Mendigo, aborda o que acabo de afirmar:

“ Não há mais filósofos, meu caro. A sabedoria humana está muito espalhada. Hoje todos sabem tudo. O último dos ignorantes julga-se capaz de salvar a Humanidade. Todos ensinam.”

E prossegue, respondendo a Péricles, que assevera não haver quem não entenda de medicina:

- “ De tudo, meu amigo, de tudo. De Arte, então nem se fala! … E de política, ainda é pior. O senhor conhece alguém que não tenha ideias para salvar o Brasil!?”

A cada passo escuto conversas de quem possui ideias geniais para resolver os problemas de Estado; e não tenho amigo que não me dê conselho para sarar o achaque que me atormenta.

Até comentadores profissionais, que outrora abordavam temas da sua especialidade, opinam, hoje, sobre: economia, política, literatura, arte…até de futebol!

Esquecem-se, que o desenvolvimento de um dom, faz-se, quase sempre, em prejuízo de outros.

Certa vez, vi, conhecido político, mostrar sua casa, na televisão. Ao chegar ao escritório, de paredes forradas de estantes repletas de livros, virou-se para o entrevistador, e disse-lhe:

- Tenho aqui os livros de economia. Ali de astrologia. Acolá de Direito. Mais abaixo de História… – e assim por diante, e concluiu:

- “ Como vê estou muito bem informado! ….”

Como Jacinto, que possuía, em Paris, trinta mil volumes, mas raramente os abria, pensam que pelo facto de terem estantes recheadas de livros, são sábios!”…

Desconhecem que a cultura se adquire após haver lido, relido… e meditado, as obras consideradas basilares. E ser culto, não é saber de tudo…

Com o aparecimento da Internet, e com a facilidade de se encontrar tudo que se deseja, criou-se a ilusão que tudo se conhece.

Consultando o computador, pode-se, sem esforço, conversar sobre todas ou quase todas as matérias, não se sabendo nada ou quase nada, de nenhuma.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 10:18
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