domingo, 23 de fevereiro de 2014

ISAURA CORREIA SANTOS - UMA ALENTEJANA DE ALEGRETE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA




  

Em Março de 1914, em plena planície alentejana, nascia a escritora Isaura Correia Santos.

Muito jovem, casou-se com o pintor Abel Santos. Tinha dezassete anos. Era uma menina bonita, moderna e muito determinada.

Publicou trinta e três obras, entre livros e opúsculos. Notável conferencista, trabalhou em Londres, como jornalista da BBC.

O governador do Texas, concedeu-lhe, em reconhecimento da actividade como jornalista e cronista, de grande mérito, o título de cidadã honorária do Estado do Texas.

Suas crónicas apareceram na “ República”, “ O Comércio do Porto”, “ O Primeiro de Janeiro” e em numerosos periódicos locais. Eram, em norma, incisivas e mordazes, todavia nada irreverentes.

Aos sábados, reunia em sua casa, na Praça da Galiza, no Porto, pequena tertúlia. Abordava-se, então, temas: políticos, económicos e mormente literários.

À hora do “ chá”, a Filó – a empregada – colocava sobre a alva toalha adamascada, chávenas de fina porcelana, todas diferentes, mas de grande beleza.

Lembro-me que uma das assíduas frequentadoras, era Dora Correia da Silva, da “ Crónica Feminina”, e o poeta, muito espirituoso e excelente conversador, Jorge Condeixa.

Tinha, a escritora, em Soutelinho, casa de férias, onde, de longe a longe, repousava. No pino do Verão, ia a banhos, para o Estoril.

Certa vez, ao entrar no carro, que estava estacionado na estrada Povoa – Vila do Conde, foi colhida por viatura, e teve que ser hospitalizada, gravemente ferida.



                                                              Isaura Correia Santos -  Desenho de Abel Santos

Fui visita-la à Ordem da Trindade. Certa ocasião, ao entardecer, confidenciou-me: “ Agora começam a ver melhor o interior, a compreender a Vida e seus segredos…” E prosseguiu, em voz dolente: “ Apesar da pouca fé que tenho, confio Nele, e espero a Sua misericórdia.”

E mais adiante:

“ Tenho rezado muito. Este acidente fez-me compreender o que nunca tinha conseguido alcançar.” - E concluiu: - “Não se esqueça de mim, nas suas orações...”

Já convalescente, numa visita que lhe fiz a sua casa, revelou-me que andava preocupadíssima com a saúde da Filó (Filomena).

Telefonou-me uma tarde de Julho, de 1988, muito aflita, dizendo-me que a Filó havia falecido e que se sentia muito só e muito triste.

A escritora, que recebeu o prémio “ Maria Amália Vaz de Carvalho”, era autora da conhecidíssima colecção de livros para crianças: “ O Senhor Sabe Tudo Contou…”

Pouco depois do telefonema, foi internada no Hospital do Carmo. Confessou, durante o internamento, a amiga: “ Não receio morrer - até desejo, - visto acreditar numa outra Vida e principalmente na misericórdia de Deus.”

Em fresca, mas luminosa manhã de Fevereiro, do ano de 1989, fui visitar Frei Martinho Manta, aos Padres Franciscanos, na Rua dos Bragas.

Ao entrar na salinha de visitas, este, de rosto contornado disse-me:

- "Morreu uma grande Senhora do meu Alentejo: a escritora Isaura Correia Santos."

Cumpria-se a “profecia” da Filó, proferida dias antes de morrer: “ A minha senhora não vai durar mais de seis meses, após a minha morte!”




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal

publicado por solpaz às 14:37

domingo, 9 de fevereiro de 2014

A IGREJA PRECISA DOS IDOSOS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

 





Eu tenho um amigo, daqueles que sempre estão presente nas horas amargas, que era catequista.

Semanalmente, nos fins-de-semana, abalava para o “ interior”, deixando a família, para participar na preparação da catequese.

Certa vez confessou-me: “ Quando for aposentado vou-me dedicar às atividades da Igreja da minha terra e à agricultura. Tenho um campinho na retaguarda da casa que ergui na aldeia e vou cuidar das árvores de fruta e da hortinha.

O tempo passou e ele sempre a sonhar com a reforma que lhe permitiria organizar melhor a catequese da paróquia, já que era o coordenador.

Um dia atingiu a idade necessária para se retirar. Despediu-se de olhos marejados dos colegas; pela derradeira vez visitou a banca de trabalho, testemunha de horas alegres e de muitas e muitas angústias; e definitivamente partiu para a terra natal.

Não deixou, porém, de passar pela livraria católica em busca de material para as aulas da catequese. Como as verbas para a evangelização dos jovens eram escassas, despendeu muito de seu bolso.

Era um sonho há muito idealizado.

Mal chegou foi prestes à reunião da catequese. Admirou-se, porém, que o abade, velho companheiro nas lidas religiosas, estivesse presente.

Aberta a reunião, o padre urdiu eloquente palestra entremeada de rasgados elogios ao meu amigo. Apoiavam enternecidos os presentes as palavras do sacerdote. Ao concluir ofertaram bonita bíblia, de folhas doiradas, encadernada a pele.

No ato da entrega, disse o abade:” Chegou o momento de descansar. É justo que o libertem das árduas canseiras que lhe roubaram horas de recreação. É mister sangue novo. Já indigitei novo coordenador, e faço votos que ao aposentar-se, tenha finalmente o merecido repouso, junto dos que lhe querem bem.”

Escusado será descrever a desilusão que sofreu o meu amigo. Mesmo assim teve ânimo para agradecer, lembrando que não se sentia velho, e muito podia dar à Igreja.

Este caso verídico faz-me refletir na perda que a Igreja tem ao desprezar o trabalho dos idosos.

Há muito que lembro – mas poucos escutam, – que muitos professores, homens de valor, ilustres catedráticos, após aposentação, podem ser excelentes sacerdotes (diáconos e padres), consoante os casos, com reduzido estudo no Seminário Maior.

O aposentado, em regra, tem tempo disponível; não carece de trabalhar para sobreviver; e pode perfeitamente dispor, graciosamente. ainda de vinte anos ou mais, ao serviço de Deus.

Desaproveitar conhecimentos e disponibilidades é erro crasso, mormente em época em que a falta de sacerdotes é notória.

Bom era que as dioceses incentivassem os crentes idosos a participarem nas atividades das paróquias, de harmonia com os conhecimentos e saúde de cada um.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



publicado por solpaz às 11:49
link do post | comentar | favorito 
Adicionar ao SAPO Tags | Blogar isto

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A VIOLÊNCIA DOMESTICA E O NAMORO - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA



 





A violência doméstica, mormente entre conjugues, não é novidade, muito embora se dê, nos nossos dias, maior atenção.

No entanto mostra faceta nova e preocupante, já que se encontra mais complexa.

Se outrora a desavença era fruto de palavras mal pensadas ou efeito de álcool, ou ainda pelo marido considerar que a esposa era propriedade sua, atualmente não é alheio a “droga”, e até, em casos graves, o crime organizado.

Quem o diz é a vice-presidente da Associação das Mulheres Contra a Violência, Dona Margarida Medina Martins, referindo-se ao que se passa em Portugal.

Quando se fala de violência doméstica, logo se pensa que a vítima é a mulher. Na verdade, na maioria dos casos, é; mas há violência sobre homens e idosos.

Muitos, são barbaramente espancados, em casa, e sofrem, em regra, em silêncio absoluto, por vergonha.

O facto de usufruírem menor rendimento ou dependerem financeiramente do conjugue - é mais gritante no homem, já que este sente-se complexado por ter habilitações ou salário inferior à esposa - leva-os a sofrerem, em silêncio, agressões físicas e psíquicas.

Nas últimas décadas, verifica-se tendência crescente da agressividade entre jovens.

Estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, refere que cerca de 20% dos jovens, de 21 anos, já agrediram a namorada; e 60% admitem terem exercido violência psicológica durante o namoro.

Ao serem interrogados, cerca de 3000 jovens, qual espécie de violência exerceu durante o namoro, 18% admitiram terem atirado objetos com intenção de magoarem.

Quem ler, assiduamente, a imprensa, facilmente constata que atos de violência e agressões, são frequentes entre jovens namorados, praticados por ambos os sexos. Embora haja preponderância dos rapazes coagirem as namoradas psicologicamente, e exercerem agressões mais ou menos violentas.
Se o namoro começa assim, não admira que as desavenças surgem logo após o casamento.

Digo casamento, pensando, também, no que antigamente se dizia: “ juntar os trapinhos”, porque grande parte dos jovens não quer compromissos sérios.

A perda de valores, ausência de educação religiosa, a influência malsã de muita mass-media, e o facto dos progenitores não cuidarem – por falta de tempo ou desinteresse, – da formação e educação dos filhos, leva que a sociedade gere jovens consumistas, que apenas buscam o lucro e o prazer, não tendo bitolas para obtê-los.

Sendo assim, não admira que as nossas cidades tornem-se mais violentas, e que a mocidade, veja no seu semelhante, não um ser humano, mas alguém que lhe pode dar lucro ou prazer.




HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal