quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SONHOS DE LIBERDADE - Edson Paulucci


Não preciso olhar os pássaros
para entender o sentido da liberdade.
Mas preciso perceber melhor a cruel
natureza dos gaviões.
Não consigo apreciar as baleias
sem o espectro dos arpões.
Não compete a mim trancafiar
mensaleiros, nem romper cadeados.
Mas o meu ser, embebido em éticas
e juramentos voláteis,
entende que a razão se desfaz
diante do brilho e da sedução
de pedras e metais.
Preciosos ou não.
Liberdade ainda que tardia.
Sem aves de rapina, nem arpões,
nem cadeado...
Quem sabe, apenas um jeans
azul e...desbotado.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

TEREZA DE MELLO - DOIS POEMAS: QUANDO EU PARTIR E TARDE CINZENTA

 
 
 
 
 
 
 
Quando eu partir
 
Não chorem nem tenham pena.
 
Como diz o poema,
 
Fui apenas
 
Um passarinho que cantava,
 
A borboleta que voava
 
Procurando a sua flor,
 
Como quem busca o amor
 
Para dar e receber.
 
Fui pedra puída pelo tempo,
 
Rolando com marés.
 
Fui também alguém
 
Que gostava de viver.
 
De cantar
 
E de poder voar.
 
Rocha desfeita em areia,
 
Onda rolando em espuma,
 
Charco que a chuva deixou
 
E pensava ser espelho
 
Dos que passavam
 
E olhavam.
 
Mas não ficavam…
 
Fui um bichinho de conta
 
Enrolado em si mesmo
 
Como berlinde de vidro,
 
Brincadeira de criança. Fui monte ao longe
 
Altaneiro
 
E fui campo de centeio
 
Ondulando pelo vento.
 
Fui tudo que a vista alcança
 
Ou apenas a criança
 
Que nunca soube crescer.
 
Não chorem nem tenham pena
 
Da formiguinha atarefada,
 
Pois fui tudo
 
E não fui nada
 
Nesta vida passageira.
 
 
 
                           TARDE CINZENTA
 
 
 
 
 
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar,
Sem cinto de salvação
Nem bóia para boiar,
Porque me fugia a meu sonho
Que tinha de apanhar,
Riam de mim e troçavam
Os que na praia ficavam.
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar,
Sem cinto de salvação
Nem bóia para baiar,
Porque me fugia o meu sonho
Que tinha de apanhar.
Meu sonho de espuma
Desfeitas pela maré.
 
 
Naquela tarde cinzenta
Fui eu que me fiz ao mar.
 
 
 
TEREZA DE MELLO (Maria de Lourdes Brandão de Mello) - Faleceu em Outubro de 2009, na cidade de Abrantes,(Portugal) onde vivia. Foi durante anos colaboradora assidua  do Blogue luso-brasileiro "PAZ" . Autora de vários livros de poemas, e de " A Casa da Barca", edição da Câmara Municipal de Ponta da Barca - Outubro de 2000.
 
Matéria publicada no blog luso-brasileiro "PAZ" – Confira-a clicando aqui.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O IMPRESCINDÍVEL DIPLOMA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA


 


                                                  






No final do século XX, entrevistei jovem deputado que começava a evidenciar-se pelo dinamismo.

Após telefonema, para marcar hora e local, ficou combinado encontramo-nos em cafetaria, onde este costumava tomar o cafezinho matinal.

Ia a entrevista animada, quando lhe lembrei a intensa actividade, em prole da cidade que o viu nascer. Começou, então, a narrar o seguinte:

Devido à juventude e ao facto de não possuir curso superior, sentia dificuldade em ser aceite no parlamento, até no próprio partido.

Sempre que abordava questão com alma, logo havia quem lembrasse que faltava-lhe experiência e conhecimento para desertar sobre o assunto.

Para ser respeitado e as ideias terem peso e pernas para andarem, precisava de obter grau académico, que lhe permitisse ser chamado de “doutor” ou “engenheiro“.

Iria frequentar, brevemente, a universidade, matriculando-se num curso que fosse de interesse para a vida política, já que sentia que podia ser útil à sociedade e à Pátria.

Ao conhecer que políticos portugueses haviam obtido licenciatura, por meios pouco claros, lembrei-me desse jovem deputado e da dificuldade que sentia no parlamento e no seio do próprio partido.

É que se dá mais valor a titulo universitário, que ao conhecimento da matéria; aqui reside a razão porque se busca, a todo custo, obter diploma, que ateste talento e capacidade de iniciativa.

Lembrei-me abordar o assunto, após ter lido a crónica de Marinho Pinto - bastonário da Ordem dos Advogados, - referindo-se à formatura de Relvas e Sócrates, e daqueles que criticam a leviandade de certas Faculdades.

Sugere o jurista: “ Seria bom saber quem são as figuras públicas que em 25 de Abril de 1974 obtiveram cursos superiores com passagens Administrativas dadas por professores aterrorizados pelos próprios beneficiários dessas passagens –   “ A Venda de Cursos Superiores” -  “JN” 20/07/12.

Já agora – por que não? - conhecer, igualmente, os que, habilidosamente, por meio de sindicatos, partidos políticos, associações secretas ou não, alçaram a lugares  de relevo, nas empresas, à custa, daqueles que, ingenuamente, lhes serviram de escada?





HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 19:34

Matéria enviada pelo autor por e.mail, para ser publicada – Confira-a no Blog PAZ, clicando aqui.
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